As 20 redações selecionadas pela OQSP-2009
entre as 100 finalistas sobre o tema:
Química Forense


Alunos da 1ª série do Ensino Médio em 2008:

Ana Carolina Calegari e co-autor
Diogo Guedes Pinheiro de Figueiredo Ferraz e co-autores
Iago da Silva Caires e co-autor
Jessica Pascotto David
Juliana Caixeta Guimarães
Lucas Saade Fernandes e co-autores
Lúcia Angelo Furlan
Murilo Izidoro Santos
Renata Tuoni Hanna
Wilton Bastos de Jesus

Alunos da 2ª série do Ensino Médio em 2008:

Carlos Henrique Leite Da Silva
Daniele Cristina de Oliveira Faria e co-autores
Lucas dos Santos Almeida e co-autores
Guilherme Zainotti Miguel F. Bottino
Idel Reis Waisberg
Jéssica Ragonha e co-autor
Frederico Frigeri e co-autores
Juliana Cristina de Souza e co-autores
Marina da Silva Daniel e co-autores
Renan Rodrigues de Souza Cardozo e co-autores


 

Autor: Ana Carolina Calegari
Co-autor: Vitor Evandro Seleguin

1a Série Ensino Médio

Colégio: Coopere 

  Cidade de Fernandópolis

Professor: João Vicente Escremin

 
A Morte do Elemento

 

A madrugada parecia serena e calma na pequena cidade de Tabela Periódica, até que meu telefone tocou, e os policiais da cidade pediram que me apressasse, pois um crime de grande proporção havia acontecido. Fui o mais depressa que pude.

A vítima foi identificada como Xenônio, 54, morador da casa de nº. 8 do lado A da Rua do Octeto, no bairro dos Ametais. De família nobre, a mais poderosa e influente em Tabela Periódica. Seu corpo fora encontrado por Flúor, que chamou a polícia às 22h30min daquela terça-feira.

O corpo havia sido encontrado na sala, jogado sobre uma poltrona, não havia sinal de roubo nem de arrombamento; os vestígios encontrados foram: uma arma calibre 38; “meio copo” de uísque; cigarros apagados em um cinzeiro; um celular. Esse ato de análise superficial de corpos e de coleta de evidências é conhecido como exame perinecroscópico. Eu e minha equipe de peritos, após fotografarmos bem a cena do crime, recolhemos as evidências para analisá-las em laboratório.

Logo na saída, fomos interpelados pelo pai de Xenônio, Criptônio:

― Acabem logo com essa palhaçada de perícia e coloquem o Flúor na cadeia, se vocês realmente dão valor aos seus trabalhos.

Nosso principal suspeito – em caso de homicídio – seria mesmo Flúor, devido às circunstâncias, mas apesar da ameaça, como peritos cautelosos, precisávamos de provas para alegar algo, afinal, seria homicídio mesmo? Seria um suicídio? Ou, quem sabe, fosse um acidente?

No mesmo dia, Flúor foi convocado a comparecer à delegacia. Seu DNA foi coletado (pela saliva) e teve de fazer um exame residuográfico – quando o fluxo gasoso emitido pela região traseira da arma (no caso de revólver, culatra, e, no caso de pistola, o extrator) atinge a superfície da mão do atirador, tais partículas sólidas aderem à superfície da pele, o exame residuográfico consiste em procurar íons ou fragmentos de metálicos de chumbo nas mãos de um possível atirador, em decorrência da maior quantidade desta espécie metálica em relação às outras, mediante aplicação de tiras de fitas de filtros adesivas nas amostras coletadas da mão do suspeito ao serem imobilizadas em superfície de papel de filtro e serem borrifadas com solução acidificada de redizonato de sódio; se apresentar um espalhamento de pontos de coloração avermelhada, indicam resultado positivo para o disparo. Isso não aconteceu no exame feito pelo suspeito, nas mãos de Flúor não havia vestígios de chumbo.

O cadáver foi encaminhado para o Instituto Médico Legal da Tabela Periódica (IMLTP), onde foi reconhecido por sua família e foi realizada a sua necropsia:

- A perfuração da bala tinha muita quantidade de pólvora ao redor. O tiro foi dado à queima-roupa;

- O projétil penetrou perpendicularmente à caixa torácica atingindo o coração, essa foi a causa mortis;

- Sinais de vômito, diarréia, desidratação e hemorragia no pulmão mostraram que Xenônio havia sofrido de insuficiência respiratória, provavelmente envenenamento;

- A partir da temperatura, coloração, comida no estômago e concentração de potássio nos olhos do morto, indicou-se a hora do óbito: entre 21:30 e 22:00 horas.

Alguns dias após o crime, os exames foram concluídos:

A arma, calibre 38, estava com a numeração raspada, portanto foi necessário um exame metalográfico, que no caso em questão, consiste no:

Lixamento: São utilizadas lixas do tipo "Lixa d'água", fixadas em discos rotativos. Normalmente, inicia-se o lixamento com a lixa de granulometria 220, seguida pelas lixas 320, 400 e 600. Em alguns casos, usam-se lixas mais finas que a lixa 600, chegando-se a 1000 ou 1200. Todo o processo de lixamento é feito sob refrigeração com água;

Polimento: A etapa do polimento é executada em geral com panos especiais, colados a pratos giratórios, sobre os quais são depositadas pequenas quantidades de abrasivos. Estes abrasivos variam em função do tipo de metal que está sendo preparado. Os mais comuns são o óxido de alumínio (alumina) e a pasta de diamante;

Ataque Químico: Há uma enorme variedade de ataques químicos para diferentes tipos de metais e situações. Em geral, o ataque é feito por imersão da amostra, durante um período de aproximadamente 20 segundos, assim a microestrutura é revelada. Um dos reagentes mais usados é o NITAL (ácido nítrico e álcool), que funciona para a grande maioria dos metais ferrosos.

Feito isto, o número obtido foi cruzado com o banco de dados da polícia e foi constatado que a arma pertencia a Argônio, avô de Xenônio.

No copo com uísque, foi realizado, primeiramente, um exame com a saliva encontrada ao redor do copo. A análise do DNA da saliva, baseado no exame da electroforense que consiste em fazer migrar biomoléculas por uma matriz, sob a influência de um campo eléctrico, permitindo separá-las segundo os seus tamanhos. Podem realizar-se electroforenses de proteínas, de RNA e de DNA. Quando uma porção de DNA é degradada por uma enzima de restrição (enzima com elevada especificidade, que apenas corta o DNA em locais precisos) e é submetido a uma electroforense, apresenta um padrão de bandas que corresponde aos fragmentos originados pela degradação da enzima, o qual se designa por perfil de DNA. Recorre-se ao perfil de DNA para estabelecer  relações em taxonomia e para a identificação de indivíduos nas ciências forenses. O processo consistiu no preparo das amostras, logo depois foi adicionado um gel a cada tubo tampão da amostra. Carregou-se o gel com as amostras, ligou-se a fonte do 100v deixando decorrer a electroforense durante vinte minutos (a ocorrência da electrólise da água junto dos pólos da tina confirma o estabelecimento do campo elétrico). Retirou-se o gel e observou-se o transiluminador. Comparando os vários padrões de bandas de DNA, pudemos identificar que a saliva era da própria vítima.

O resultado do exame toxicológico realizado na urina de Xenônio foi positivo para íons de metais pesados (teste qualitativo de Reinsch, que detectou a presença de metais através da coloração compatível com arsênico, ou bismuto, ou antimônio). Não foram detectados medicamentos depressores nas amostras de urina (resultado negativo para carbamazepina e benzodiazepínicos). Foi realizado, então, o teste específico para as formas tóxicas de arsênio, utilizando-se a técnica de espectrometria de absorção atômica com gerador de hidretos. Identificou-se uma dose letal entre 1 e 3mg/kg de arsênio.

Nos cigarros, assim como no copo de uísque, foi realizado o teste de DNA a partir da saliva, porém, desta vez, o resultado foi mais relevante, um dos cigarros continha o DNA da vítima, mas em outro cigarro o DNA encontrado não era de Xenônio, mas era compatível ao DNA de Flúor, coletado anteriormente.

Com o uso de um processo chamado fingerprint que detecta melhor impressões digitais frescas, devido à nossa pele secretar óleos a partir das glândulas exócrinas, quando tocamos em uma superfície, deixamos uma bela impressão digital. Depois da análise por luz ultra-ultravioleta, por exemplo, o laboratório acessa um banco de dados que contém impressões digitais e compara com uma igual. Foram achadas impressões digitais do Flúor no armário e no espelho do quarto da vítima.

Apesar de haver muitas provas, eu ainda estava confuso, as peças não se encaixavam. No início, era quase certa a hipótese de homicídio, mas, agora, a constatação da morte por envenenamento e a falta de resíduo de pólvora nas mãos do Flúor me deixavam intrigado com a possibilidade de suicídio.

Depois da análise de um lençol, aparentemente sem vestígios, que estava dentro do cesto de roupa suja no banheiro do quarto de Xenônio, encontramos, com a ajuda de canhões de luz ultra-vermelha e bombinhas que borrifavam luminol, vestígios de sangue e sêmen. Esse processo foi feito depois de explorarmos todo o local, para não haver destruição de outras evidências da cena. Usamos termovisores que transformam a radiação infravermelha em informação precisa. Operam com leitura de comprimento de onda na casa dos 14µm. Vários desses foram usados na casa para detectar pistas e o resultado destas informações captadas pelos termovisores foi a apresentação da imagem térmica da distribuição de calor dos objetos estudados. Esses termovisores eram uma câmera e um vídeo (display).

Esse processo usado é chamado de Termografia cuja técnica utiliza medição da radiação dos corpos no campo dos raios infravermelhos para observar padrões diferenciais de distribuição de temperaturas, através da troca ou perda de calor de um componente, com o objetivo de propiciar a formação de imagens térmicas. A medição pode ser aplicada em qualquer sistema, objeto ou processo no qual há uma troca térmica com o meio ou uma distribuição de temperatura. Os raios infravermelhos não são visíveis ao olho nu porque seu comprimento de onda é longo demais para ser detectado, é a parte do espectro eletromagnético que nós percebemos como calor. A técnica torna possível a conversão desta energia de radiação em imagens visíveis através desses termovisores.

Usamos, somente após a  termografia, o luminol. Ele é utilizado para revelar manchas de sangue, a partir de um processo de quimiluminescência. Neste caso, os reagentes têm mais energia que os produtos, as moléculas do produto se livram dessa energia extra produzindo fótons de luz. Para que todo esse processo ocorra rapidamente e produza um brilho forte, é necessário um catalisador, neste caso o ferro contido na hemoglobina. Dessa forma, o sangue é detectado.

Com essas amostras de sangue e esperma fizemos o exame de DNA e constatamos que eram de Flúor e Xenônio. Isso foi crucial para a resolução do crime.

Passavam-se já vinte dias após o crime. Quando saía do laboratório em direção à minha casa, encontro novamente Criptônio que me diz sem rodeios:

―Você tem dois dias para dar fim nesse caso, do contrário, eu me encarregarei de deixá-lo sem emprego.

 Essa ameaça me deixou inconformado, decidi que no outro dia iria vasculhar novamente a cena do crime e procurar novas peças que se encaixassem à tese que eu já começava a elaborar.

Acordei bem cedo e saí em direção ao local do crime, conversando com um morador da casa ao lado, Iodo. Soube que essa relação entre Xenônio e Flúor era antiga e intensa, Flúor visitava Xenônio quase que diretamente, o que despertava nos vizinhos certa “curiosidade”, e que comentários maldosos não eram raros.

Essa descoberta me levou a buscar mais provas, em um cômodo afastado ao do crime, havia uma mesa e sobre ela um computador. Ao lado do computador, havia um celular. Inconformado por minha equipe não ter vasculhado esse cômodo anteriormente, analisei o celular, liguei o computador e...

No dia seguinte, convidei Criptônio a comparecer ao laboratório, antes que eu entregasse o laudo técnico-pericial completo:

― Muito bem, senhor Criptônio, aqui estamos na data já “prevista” pelo senhor. – eu disse.

― Exatamente – replicou Criptônio – espero que tenha chegado à conclusão do caso.

― Sim, do contrário, não estaríamos aqui!

― Pois, então, inicie sua explanação.

― Então, vamos: Flúor, jornalista famoso em Tabela Periódica por sua ousadia, era amigo de seu filho Xenônio, o que não lhe agradava, já que sua família de nobres não aceita nenhum tipo de ligação com membros de categorias distintas, além disso, Flúor estava prestes a publicar uma grande reportagem, o senhor sabia?

―Não, claro que não – disse o nobre, demonstrando nervosismo.

― Pois bem, como o senhor bem sabe, Flúor iria publicar uma reportagem mostrando a interferência de sua nobre família na economia da cidade... Desvio de verbas...

Nesse momento, Criptônio perdeu o controle e, furioso, quis me agredir.

― Espere, não quer saber como seu filho morreu? Sei que não foi você quem o matou, ao menos não diretamente.

― O que quer dizer com isso? – disse Criptônio menos agressivo, porém ainda inquieto.

― Xenônio ouviu sua conversa, ordenando que matassem o Flúor, na mesma hora, ele tentou avisar o Flúor, enviando uma mensagem de texto para o celular dele, tentando fazer com que ele se salvasse da morte. A mensagem, porém, não teve resposta, e Xenônio sem ter o que fazer para salvar seu... seu...

― Amigo!

― É, bem, Flúor e seu filho eram mais que amigos, mas enfim, Xenônio, sem ter o que fazer para impedir a morte de seu amado, decidiu morrer também. Ingeriu veneno com uísque. Como a dose do arsênio utilizado como veneno não foi muito grande, o efeito foi um pouco retardado, Xenônio, então, decidiu se matar, utilizando a arma que pertencia a seu avô. Efetuando um disparo no coração, ele tirou a própria vida.

Eu continuei:

― Como vê, portanto, caro Criptônio, indiretamente foi o senhor que tirou a vida de seu filho, tenho provas suficientes para absolver Flúor, inclusive um bilhete de suicídio, escrito em um documento de texto no computador de Xenônio.

Encerrei fazendo meu comentário reflexivo:

― Fico feliz por absolver Flúor, porém, apesar de todo meu empenho na resolução desse caso, infelizmente terei de te ver andando livre pela cidade, já que a legislação penal brasileira não possui parâmetros que possam incriminar a intenção de matar, infelizmente sua ordem não pode ser interpretada, nem ao menos como tentativa de homicídio, mesmo tendo em minhas mãos a gravação feita pelo seu filho no celular dele de toda sua conversa com seu subordinado. Quem sabe um dia, a Justiça possa valorizar mais profissionais sérios, que trabalham para mostrar a verdade única, que tantas vezes é distorcida.

 

Bibliografia

 Bridges CB, Katz JM, Seto WH, Chan PK, Tsang D, Ho W, et al. Risk of Influenza A (H5N1) infection among health care workers exposed to patients with Influenza A (H5N1), Hong Kong. J Infect Dis. 2000;181:3448.2. Chan PK. Outbreak of avian Influenza A(H5N1) virus infection in Hong Kong in 1997. Clin Infect Dis. 2002;24(Suppl 2):S5864.
Chotpitayasunondh T, Lochindarat S, Srisan P, Chokepaibulkit K, Weerakul J, Maneeratanaporn M, et al.
Cases of Influenza A(H5N1)Thailand, 2004. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2004;53:1003
Moraes H. L. S. e C. T. P. Salle.
Influenza Aviária. Doenças das aves, Berchieri A.  J e Macari M. eds. FACTA – Fundação APINCO de Ciência e Tecnologia Avícolas, Campinas-SP, 2000, p. 283-291.
Nicholson KG, Wood JM, Zambon M. Influenza. Lancet. 2003;362:173345.
Update on Avian Influenza A(H%N!).
Disponível http://www.cdc.gov/flu/avian/
 Influenza Aviária. Disponível http://who.int/wer/2005
Tran TH, Nguyen T, Nguyen TD, Loung TH, Pham PM, Nguyen VC, et al. Avian Fluenza A(H5H1)in 10 patients in Vietinam. N Engl J Méd. 2004;350:117988
 WHO. Avian Influenza: assesseing the pandemic threat. January 2005-WHO/CDS/2005.29. Disponível
http://www.who.int/csr/disease/influenza/WHO_CDS_2005_29/en/
Wikipedia
http://science.howstuffworks.com/luminol.htm/printable




Autor: Diogo Guedes Pinheiro de Figueiredo Ferraz
Co-autores: Beatriz H.Y. Nakagome; Daniel P.R. Santos; Stella L.V.A. Santos

1a Série Ensino Médio

Colégio: Vértice

  Cidade de São Paulo

Professora.: Andrea Godinho de Carvalho Lauro


Os Lábios Rubros de Cíntia Navarro

           

Seus dedos tamborilavam sobre a superfície da mesa de mogno. O burburinho ao fundo do tribunal adiava o início do julgamento. Impaciente, observava na mesa ao lado o réu, uma alinhada balzaca que, com batom vermelho, se maquiava excessivamente. Exalando perfídia, pensou ele; a juíza, finalmente, adentrou o recinto e deu início à sessão.

            - Estamos aqui reunidos, no dia 27 de abril de 2029, para que seja posta em julgamento a denúncia a respeito da ré, Cíntia Navarro, acusada de homicídio doloso de seu marido, Thomás de Ferreira Albuquerque Mendes – começou a jovem juíza, extremamente centrada; seus olhos claros encaravam friamente o defensor, que pareceu desconcertado - Que tenha a palavra Raúl Marsalis, advogado de defesa.

            - Grato, Meritíssima. Bem, primeiramente, gostaria de deixar claro quão absurda é tal acusação para com minha cliente, que sempre se mostrou dedicada ao lar e à felicidade do marido, o que deixa claro seu amor pelo finado...

            - Objeção! – alterado, o promotor interrompeu a fala do advogado, não dando sequer tempo para a juíza repreendê-lo – Como pode chamar de dedicada uma senhora que nada fazia, em meio a mais de dez empregados, sustentada pelo dinheiro do marido, que tinha o dobro de sua idade? Como pode chamar de amor o interesse de subir de vida? Vejam senhores do júri... Antes de casar-se, esta mulher nada era; foi o falecido Albuquerque que a tirou da rua, que deu esta máscara sob a qual hoje ela se protege.

            - Ordem! – bradou a juíza, descompondo-se de sua postura tranqüila por alguns instantes – Que retorne a voz ao advogado de defesa.

            - Não há razão para discordar do laudo do médico legista. Este, após uma análise minuciosa do corpo do senhor Ferreira Albuquerque, declarou autoquíria como sua causa mortis. A arma, encontrada na mão do morto, confirma tudo o que já foi posto em consideração.

            - Creio que o médico legista ignorou todas as evidências reais para tal conclusão – Sarcástico, continuou o promotor - É incoerente cogitar autocídio, visto que não foram encontrados ferimentos causados por armas de fogo nos pontos de predileção de suicidas. As têmporas, a boca e a região precordial encontravam-se intactas, sem qualquer tipo de marca.

            - Isso é irrelevante – disse o advogado, apostemando-se - O senhor Mendes pode ter dado o disparo em outra região. Não há como eliminar os fortes indícios de suicídio.

            - É ululante que sim. Observe os resultados da perícia forense: Todas as suposições da direção do disparo são insustentáveis se for suposta uma autoquíria. O orifício apresenta-se ovalado de modo a se cogitar um tiro a partir de um plano superior, de pelo menos 50 centímetros acima do local do tiro, pela angulação do orifício, o que é improcedente em qualquer outro caso que não homicídio. E quanto à arma na mão do cadáver, essa é outra prova da frieza e dissimulação da acusada, visto que a arma não está empunhada como deveria estar após um espasmo cadavérico. E ainda há os exames residuográficos da mão da senhora Navarro, feitos logo que a polícia foi chamada, na noite do crime – acrescentou o promotor, agitado.

            - Um momento, Meritíssima, a defesa desconhecia a existência de tais exames – ponderou Marsalis, sobressaltado. Indócil, movimentava-se freneticamente pelo tribunal. Sua mão subira várias vezes em direção ao colarinho em tentativas de afrouxar o nó da gravata vermelha – pedimos a anulação de tal exame como prova válida.

            - Requerimento rejeitado, que prossiga o promotor público – proclamou irredutível a juíza. A sua inexpressividade confundia tanto o advogado como o promotor.

            - Assim que os peritos chegaram ao local do crime, os dedos da senhora Navarro foram postas em stabs, cilindros metálicos adesivos, aos quais os possíveis resíduos de disparo se adeririam; logo, foram enviados ao laboratório de balística para a microscopia eletrônica de varredura que consiste em deixar sobre a superfície do adesivo um feixe de elétrons que detecta a presença de elementos residuais como chumbo, bário e antimônio. E todas estas substâncias foram encontradas na mão da suspeita – concluiu, em ares triunfantes, o promotor.

            - Espere! Tais partículas residuais não são conclusivas, uma vez que não foi levado em consideração o cotidiano da acusada: sua maquiagem provavelmente contém bário e o antimônio pode ser oriundo de alguma de suas roupas de poliéster, que o possui em sua composição.

            - E quanto à grande quantidade de chumbo presente nas mãos da acusada? A que se deve? Ela não tem contato algum com o chumbo, pois, ao que se sabe, não é mecânica nem soldadora. E ainda foi feito outro teste residuográfico, nos autos do processo, que resultou na reação das partículas recolhidas da mão da suspeita, que foram depositadas em papel filtro, com uma solução acidificada de rodizonato de sódio, usualmente amarela, mas, em contato com chumbo, adquire uma coloração avermelhada intensa, como é visto nos exames de Cíntia Navarro. Não restam dúvidas em relação à autoria deste homicídio doloso, senhores do júri, e a justiça tem de prevalecer.

            - A justiça prevalecerá somente quando minha cliente for absolvida. São acusações desprovidas de provas –Marsalis mordeu o lábio inferior - Não conseguem ver, como seria possível esta doce mulher cometer qualquer prejuízo à vida de alguém, ainda mais do seu amado marido?

            - A argumentação do advogado de defesa é totalmente isenta de provas químicas. Tenta ignorar o fato de que estas são incontestáveis e que não adianta enaltecer o caráter duvidoso da acusada. A química está em todo lugar, em cada ação, em cada movimento e sua cliente, ao cometer o crime, provavelmente desconhecia essa circunstância, pois deixara todas as evidências de seus atos criminosos explícitas – bufava, sopeando a madeira velha do chão – Senhores do júri, a criminosa sequer tirou suas impressões digitais do revólver. Que mais será necessário para deixar clara sua culpa? A promotoria requer o depoimento da acusada.

            - Requerimento aceito; que seja posta a acusada sob testemunho. Navarro levantou, caminhando desajeitada em seu vestido índigo. O estridor dos saltos durou algum tempo até que se sentou no banco das testemunhas. Cruzou lentamente suas pernas antes de jurar su veraz em seu testemunho.

            - Muito bem, peço que nos relate o que aconteceu, a partir do momento em que a senhora chegou à cena do crime.

            - Ah, então...  Estava em uma inauguração, até tinha convidado o pobre Thomás, mas tadinho... Já não tinha mais ânimo para essas coisas. Quando cheguei em casa, vi meu amor estirado no chão da sala de visitas. Fiquei sem palavras, muito triste.

            - E a senhora abraçou o corpo? Tocou na arma?

            - Sim, para dar meu último adeus... Meu querido Thomás, que saudades... – sua falsidade pouco convincente rasgou um meio-sorriso nos lábios do promotor, certo do próximo passo – Não toquei na arma, quero dizer, não intencionalmente, pelo menos... Mas eu posso ter esbarrado... Não sei.

            - Hum... – digeriu o promotor – E como pode a senhora justificar suas digitais no gatilho e na munição do revólver? O cloreto excretado pelas suas glândulas sudoríparas mostra quão apreensiva estava a suspeita, por programar a morte de seu marido. Esse cloreto, ao ser posto em contato com nitrato de prata, já no laboratório da perícia, reagiu, formando o cloreto de prata e um nitrato qualquer. Ressalta-se que somente cloretos de prata, mercúrio e chumbo são insolúveis em água. A arma do crime e a munição, após reagirem com o nitrato de prata, foram depositadas numa câmara escura, até que secassem; em seguida, quando exposto à luz solar, torna as impressões digitais visíveis, que foram fotografadas e enviadas aos papiloscopistas do departamento de datiloscopia criminal, junto às amostras das suas digitais, que eram as mesmas da arma, inclusive na munição. A senhora tem mesmo certeza que não mexeu na arma do crime?

            - Ah... – suspirou, virando os olhos – Não estou passando bem; falta-me ar! Ajudem-me, por favor!

            - Basta! – interrompeu colérica a juíza – Limite-se em responder às perguntas do senhor promotor, não estamos numa peça teatral.

            - Calma Meritíssima, pois já estou melhorando – suas palavras saiam entrecortadas, numa tentativa de pensar algo convincente em tempo – Sabe promotor, se mexi na arma faz muito tempo, pois fui eu quem a dei para meu esposo, creio que deve ter sido esse o momento em que minhas digitais ficaram lá... – pressionou os lábios, lembrando ao promotor que lhe restava uma última cartada antes das alegações finais.

            - Já é suficiente meritíssima, não mais insistirei nesse ponto, mas ainda restam-me alguns questionamentos – dirigiu-se para a senhora Navarra – A senhora usa sempre esse tom de batom?

            - Protesto! – interrompeu o advogado de defesa, impedindo a senhora de responder – Não é uma pergunta relevante.

            - Protesto negado; que o promotor tenha sua indagação respondida.

            - Sim, bem, eu adoro vermelho, sabe? Até tentei usar um rosa que o Thomás me deu, mas não consegui... Não combina comigo...

            - E aproveita para disfarçar um ferimento que a senhora possui na boca, talvez na gengiva, na hora de sorrir, certo?

            - Por que o senhor diz isso? – atônita, cruzou as pernas mais uma vez.

            - Provavelmente porque quando a senhora foi matar seu marido deixou que o sangue do ferimento caísse tanto no revólver quanto na camisa de seu querido esposo – um vozerio tomou conta do recinto, que acabou convertendo-se em balbúrdia.

            - Ordem! Silêncio!

            - A senhora deve estar bem surpresa, pois a quantidade de sangue que caiu foi praticamente imperceptível. Mas, com o uso do luminol, foi possível identificar e ainda ser feito um posterior exame de DNA com a amostra que confirma que era seu sangue e que foi a senhora a autora do homicídio – exaltado, concluiu golpeando a palma de sua mão na mesa de mogno.

            - A defesa pede que o processo seja detalhado – arriscou o advogado, tentando ganhar tempo.

            - Pois muito bem. “A reação de luminol com peróxido de hidrogênio em água necessita de um catalisador redox. Uma grande variedade de metais de transição pode ser usada para este fim. No caso do teste, para a presença de sangue, este catalisador é o íon do elemento ferro que está presente nos grupos ‘heme’ da hemoglobina. Este catalisador oxida o luminol em diazoquinona, a qual sofre ataque pelo ânion de peróxido de hidrogênio, formando o endo-peróxido. Este último perde nitrogênio, uma molécula muito estável, e forma o diânion do ácido 3-aminoftálico no estado excitado, o qual decai para o estado fundamental, processo acompanhado pela emissão de radiação por fluorescência do 3-aminoftálico com comprimento de onda de aproximadamente 431nm”, que corresponde à cor azul. A defesa tem mais alguma dúvida? – indagou pungente o promotor

            - Só temos a declarar que é muita presunção da acusação ter tanta certeza de um suposto ferimento que não existe realmente.

            - Não? – foi a gota d’água. Sem nada falar, o promotor dirigiu-se à acusada, com pés pesados, agarrando-a e imobilizando-a. O tribunal estava eufórico. Ele, então, bruscamente puxou o lábio inferior da suspeita, revelando um grande ferimento inflamado – Tem certeza que não? Que machucado mais espantoso, senhora Navarro! Por que ainda não foi tratá-lo num pronto-socorro hospitalar? Talvez porque lá eles identificariam este como lesão típica da ingestão de cocaína que se encontrava abundância no seu sangue, não é, homicida?

            (...)

            No dia seguinte os lábios rubros de Cíntia Navarro estampavam as manchetes de todos os jornais. Assassina e sedutora, tão bela quanto perigosa, o disparate em sua ânsia por fama, dinheiro e glamour foi coerente à sua personagem desatinada. Faria muito sucesso na prisão.

            A química é, afinal, parte de tudo; e, para a ré, sua reação foi lancinante.

Bibliografia

http://www.quimica.net/emiliano/especiais/cienciaforense/index.html
http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc24/ccd2.pdf
http://www.ciencia-ahora.cl/Revista19/01QuimicaForense.pdf
http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/balisticaforense.pdf
http://www.ageventos.com.br/downloads/qh09.pdf
ttp://www.aspecgo.com.br/artigos/e760ebcb10014859938a4edc2021eacd.pdf


Autor: Iago da Silva Caires
Co-autor: Yhanic Noá V. Vilhalba  do Nascimento

1a Série Ensino Médio

Esc. Educação Básica Prudentina

  Cidade de Presidente Prudente

 

Química forense: a ciência por trás da investigação

 

Define-se química forense como a aplicação da Química em questões de cunho jurídico. Juntamente com a Medicina Legal, ela fornece subsídios para elucidação de circunstâncias relativas a crimes variados. Percebe-se seu uso com maior facilidade em casos de homicídios e outros crimes de natureza hedionda. A principal causa desse destaque é a grande exposição que os peritos (profissionais encarregados de coletar e analisar o material a ser usado como indício ou prova em um processo judicial) sofrem por parte dos meios de comunicação. Prova disso é a crescente popularidade de séries de televisão cujo tema central baseia-se na atividade de investigadores que se utilizam de recursos científicos para solucionar crimes.

Porém, consiste um erro pensar que a química forense fica restrita aos estúdios de Hollywood ou aos grandes casos de repercussão nacional (como o assassinato da menina Isabela Nardoni, explorado exaustivamente no início de 2008). Muitos problemas do dia-a-dia podem ser resolvidos graças ao auxílio de ferramentas químicas simples. Um exemplo prático consiste na análise da quantidade de álcool presente na gasolina. De acordo com a legislação brasileira, a concentração de etanol (o álcool utilizado em veículos) nesse combustível tem de ser menor ou igual a 24% em volume, ou seja, cada 100 mL de gasolina devem conter até 24 mL de álcool. A verificação dessa porcentagem pode ser feita por meio da simples adição de água à gasolina, de forma que, após a agitação da mistura, verificar-se-á aparentemente um aumento na quantidade de água, que, na verdade, corresponde ao teor de etanol. Isso se explica da seguinte maneira: o etanol é formado de duas partes, uma apolar (não possui pólos elétricos entre suas moléculas) e uma polar (possui os tais pólos). A primeira tem uma afinidade com as substâncias que formam a gasolina (os hidrocarbonetos), enquanto a segunda liga-se às moléculas de água. Esta última interação é mais forte, devido à presença de elementos com maior poder de ligação, a saber, oxigênio unido a hidrogênio. Por causa disso, quando se adiciona água à gasolina, o álcool presente nesta, faz com que o volume daquela aumente. Efetuando-se a subtração entre os volumes final e inicial, encontra-se a quantidade de etanol procurada, o que permite concluir sobre uma possível adulteração. 

Um outro campo no qual a atuação da química forense passa geralmente despercebida é o dos crimes ambientais. Muito em voga hoje em dia, as questões referentes ao meio ambiente, no entanto, permanecem relacionadas apenas à Biologia. Para mostrar como essa aparente exclusão da Química não é correta, basta referir-se a um dos mais palpáveis danos à natureza: a emissão de poluentes atmosféricos. Primeiramente, é necessário esclarecer que um poluente constitui uma substância que altera a composição original da atmosfera. Dessa forma, o dióxido de carbono (ou gás carbônico), principal “vilão” do aquecimento global, não polui, pois é naturalmente produzido através da respiração celular. Os principais poluentes atmosféricos são o monóxido de carbono e os óxidos de enxofre e nitrogênio. Eles são amplamente produzidos pelos motores de automóveis, mas isso, por enquanto, não implica responsabilidade jurídica. O que é passível de ser enquadrado como crime ambiental é a emissão de poluentes por parte de grandes indústrias. Visando a detectar essa situação, foi desenvolvido um método de análise atmosférica baseado na espectrometria, ou seja, na identificação de átomos por meio dos comprimentos das ondas eletromagnéticas (luz) que absorvem. A verificação é feita emitindo-se feixes luminosos, que atravessam a área determinada, e recolhendo-os por meio de um receptor. Este transforma os dados obtidos em um gráfico, o qual possibilita a percepção das diferenças entre as faixas de luz absorvidas e, conseqüentemente, a determinação dos elementos presentes no ambiente.

Apesar de, nos dois exemplos citados, a atuação da química forense não ser aparente, existem certas áreas em que essa ciência aparece claramente, como a realização de testes antidoping.  De modo bem simples, pode-se definir doping como a ingestão de substâncias ilícitas com o intuito de obter melhor rendimento em atividades esportivas. Essa prática é combatida rigorosamente pelas organizações regulamentadoras, como se observou durante o curso das Olimpíadas de Beijing, realizadas em 2008. Para averiguar a presença de drogas proibidas, costuma-se fazer uma análise da urina do atleta. Um dos principais métodos para tal exame é a cromatografia líquida: coloca-se a urina a ser examinada num tubo com um solvente determinado e um suporte (como, por exemplo, uma tira fina de papel poroso). Com o tempo, as substâncias vão se separando visivelmente, conforme suas respectivas velocidades de migração. Depois que esse processo termina, elas são observadas por microscopia eletrônica e identificadas por meio de comparação com padrões pré-determinados, podendo-se concluir a respeito de seu caráter, lícito ou não.

Os recursos da química também são muito úteis no combate à falsificação de obras de arte, crime que, na maioria das vezes, envolve cifras milionárias. As primeiras técnicas para o reconhecimento da autenticidade de uma pintura envolviam sobretudo os raios-X, seguindo o mesmo princípio que rege os exames realizados no corpo humano, ou seja, a difração (desvio provocado pelo choque com determinados objetos) da radiação permitia que fosse gravada uma imagem da tela estudada. Contudo, essa prática é, em certa medida, prejudicial, pois afeta a composição química da obra de arte. Para solucionar esse empecilho, foi desenvolvida uma nova técnica, que utiliza como base as variações dos campos magnéticos gerados pelos pigmentos das tintas. Isso se explica da seguinte forma: todo átomo, devido à circulação dos elétrons ao redor do núcleo, tem um campo magnético próprio, logo, quando se identificam os campos magnéticos emitidos por certas substâncias, é possível indicar por quais átomos (ou, melhor dizendo, por quais elementos) são formadas. Numa comparação, dir-se-ia que cada tela teria sua impressão digital, de acordo com as tintas nela presentes.

Por fim, resta apresentar os mecanismos químicos envolvidos na elucidação de crimes como roubos e assassinatos. No primeiro caso, um exemplo claro é a identificação de carros roubados que tiveram seu chassi adulterado. Esse número, gravado ainda na linha de produção da montadora, apresenta um relevo diferente do da região ao seu entorno. Mesmo após a remoção por desgaste mecânico, essa característica permanece (ainda que imperceptível a olho nu), de modo que o número pode ser identificado por meio da aplicação de uma solução aquosa de hexacianoferrato de potássio, conhecida como reagente de Murikami, que provoca o aparecimento de uma intensa coloração azul na região originalmente marcada.

Em relação a assassinatos, dois procedimentos são amplamente utilizados para a produção de provas: o reconhecimento de vestígios produzidos por arma de fogo nas mãos do suspeito e de marcas de sangue no local do crime. O primeiro baseia-se no fato de que, quando do disparo de um revólver ou uma pistola, por exemplo, traços de algumas substâncias saem pela culatra, aderindo à mão do atirador. Uma dessas substâncias é o chumbo, que pode ser identificado por meio de uma reação com rodizonato de sódio, de cor amarela. Para tanto, coleta-se material das mãos do suspeito com uma fita adesiva e acrescenta-se o reagente citado. Caso seja observada a formação de um vermelho intenso, tem-se a confirmação da presença de chumbo, forte indício de que o disparo tenha sido cometido pela pessoa da qual se suspeita.

Já o segundo procedimento envolve a utilização do luminol, um pó formado por nitrogênio, hidrogênio, oxigênio e carbono. Para identificar possíveis manchas de sangue, os peritos borrifam, no local que querem analisar, uma solução desse pó em peróxido de hidrogênio (popularmente conhecido como água oxigenada) e outros produtos. Esses são os reagentes responsáveis pelo aparecimento de uma coloração azul característica, porém para que esta apresente um brilho intenso, é necessário que exista um catalisador (substância que acelera uma reação química). E o principal catalisador dessa reação é o ferro, que pode ser encontrado nas moléculas de hemoglobina presentes no sangue. Logo, o aparecimento do brilho praticamente confirma a existência de sangue na cena do crime. Sobre o luminol, faz-se apenas uma ressalva: por ter caráter destrutivo (já que não é possível reverter a reação), deve ser usado após uma minuciosa análise do lugar.

Esta breve apresentação das diversas situações nas quais a química forense é utilizada mostra que essa ciência não é algo complicado ou impossível de se entender. Basta conhecer as possibilidades que as substâncias ao nosso redor oferecem, sempre com o objetivo de solucionar os mais diferentes crimes.  Afinal, a Química não se restringe a decorar fórmulas complicadas ou os elementos da Tabela Periódica. Ela está em todo lugar, e saber usá-la é essencial para compreender o fascinante mundo em que vivemos.

Bibliografia

- “Química Forense: A Utilização da Química na Pesquisa de Vestígios de Crime”, Marcelo Firmino de Oliveira (disponível em http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc2Cami4/ccd2.pdf).
- “Explorando a Química na Determinação do Teor de Álcool na Gasolina”, Melissa Dazzani, Paulo R. M. Correia, Pedro V. Oliveira e Maria Eunice R. Marcondes (disponível em http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc17/a11.pdf).
- “Feixe de luz detecta poluentes atmosféricos” (disponível em http://www.apolo11.com/noticias_da_terra.php?id=dat_20050623-065903).
- “A Espectrometria” (disponível em http://www.geocities.com/vienna/choir/9201/espectrometria.htm).
- “Estudo cria novo método para exame antidoping”, USP online (disponível em http://www2.usp.br/index.php/ciencias/5461).
- “Imagem magnética contra a falsificação de pinturas”, Camila Pascoal Povoa (disponível em http://www.museologia.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=308&Itemid=9).
- “Os Raios X” (disponível em http://www.fisica.net/quantica/curso/os_raios_x.php).
- “Luminol”, Luiz Molina Luz (disponível em http://www.mundovestibular.com.br/articles/1148/1/LUMINOL/Paacutegina1.html).
- Nova Enciclopédia Barsa – São Paulo: Barsa Consultoria Editorial Ltda., 2001, volume 5, página 6, verbete “Cromatografia”.



Autor: Jessica Pascotto David

1a Série Ensino Médio

Colégio: Técnico Unipav Villa Branca

  Cidade de Jacareí

Professor: Julio Cesar Moreira

 

O caso Albuquerque e a Química Forense

 

Hoje pela primeira vez em dois anos decidi falar sobre uns dos casos mais intrigantes da minha carreira como perita, o caso dos Alburquerques.

Era uma sexta-feira, por volta das 23h15, estava na minha casa, quando recebi um telefonema do meu superior informando-me de um caso no Bairro dos Jardins.

Logo que eu cheguei fui me informar sobre o delito, fui analisar o corpo, era Rochelle Albuquerque, 26 anos, 1,68 m, e trabalhava como executiva e era acionista na empresa do seu padrasto, Paco Santos Albuquerque. No local do crime havia indício de arrombamento, havia também cigarros, sucos, um copo de plástico caído no chão ao lado da vitima, a vitima estava caída ao lado da piscina, nenhum sinal de afogamento, apenas uma bala acoplada na costela. Os peritos já haviam fotografado a vitima, e nós liberamos o corpo para análise no IML (Instituto Médico Legal). Fomos para o laboratório analisar as impressões digitais. Quando a impressão digital é recente, a água é o principal composto no quais as partículas de pó aderem, por isso devemos começar por ela. À medida que o tempo passa, os compostos oleosos, gordurosos ou sebáceos são os mais importantes. Essa interação entre os compostos da impressão e o pó é de caráter elétrico. Usei a técnica da Ninidrina para achar as impressões digitais. A Ninidrina tem uma grande afinidade com os aminoácidos. Existem técnicas em que, juntamente com a ninidrina, são adicionadas enzimas (Enzimas são um grupo de substâncias orgânicas de natureza geralmente protéica, com atividade intra ou extracelular que têm funções catalisadoras e promovem a “quebra” de proteínas em aminoácidos - um aminoácido é uma molécula orgânica formada por átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio unidos entre sí de maneira característica) a fim de aumentar a quantidade de reagentes e, assim, tornar a revelação da ID (impressões digitais) mais intensa.

A mistura utilizada costuma ser a de ninidrina com etanol (álcool etílico). A proporção usada é de 0.5g de ninidrina para 30 ml de etanol. Posteriormente esta mistura é armazenada num recipiente que permite a pulverização sobre a ID. O líquido deve ser borrifado de longe (cerca de 15 cm). Esperam-se alguns instantes até que o solvente evapore e, então, borrifa-se novamente, quantas vezes forem necessárias.

O desenho da impressão digital só aparecerá quando a superfície ficar totalmente seca. Isto pode levar horas na temperatura ambiente, mas pode-se fazer em fornos que proporcionem temperaturas da ordem de 50-70°C.

-

Na análise das digitas só havia digitais da vitima, das empregadas e do caseiro. Como havia indício de roubo nós estávamos sem suspeitos até o momento.

Já no laboratório fui analisar o cartucho, precisamos entender melhor o conceito arma de fogo. Ela é uma máquina térmica. Sua utilização independente da força física e como não poderia deixar de ser, baseia-se nos princípios da termodinâmica (é a parte da física que estuda as formas de calor em movimento).

O cartucho observado de fora parece grande. Contudo, uma pequena parte, o projétil, é que ira ser expelido pela arma após o disparo. A força com que este é projetado para fora do cano depende da combustão da pólvora. Essa força gera gases, os quais, com a elevação da temperatura interna (podendo chegar aos 2500°C) aumentando o volume e a pressão no interior da arma, fazendo com que o projétil seja “empurrado”, violentamente (3ª lei de Newton).

A arma é de calibre 38, fomos averiguar se alguém na casa ou na vizinhança tinha porte de arma e descobrimos que o padrasto de Rochelle guardava uma 38, e estava faltando um cartucho no estojo e havia vestígio de pólvora na sua mão.

Conversei com Paco, ele disse que não sabia de onde vieram os resíduos, e que ele tinha um ótimo relacionamento com Rochelle.

Expliquei para ele que no momento do tiro alem do projétil são expelidos diversos resíduos sólidos e produtos gasosos como monóxido de carbono, dióxido de carbono, óxidos de nitrogênio e outros.

Também integram a parte sólida dos resíduos, partículas provenientes de explosivos como sais de chumbo, bário e antimônio. Os resíduos do tiro são formados em condições especificas de temperatura e pressão durante o disparo, e permitindo que ocorra a vaporização e a condensação de elementos oriundos principalmente da espoleta (Sb, Ba, Pb) em partículas com formato esférico.

Após a conversa com Paco, recebi uma ligação urgente do IML avisando-me que no exame toxicológico estava pronto e havia constatado que a vítima havia ingerido sulfato de nicotina junto ao suco e a causa da morte foi por causa do envenenamento e não por causa do tiro.

Cheguei ao laboratório toxicológico para analisar os resíduos presentes no copo caído. Utilizei a técnica da Cromatografia gasosa. A Cromatografia Gasosa é essencialmente um método físico de separação em que os componentes a serem separados são distribuídos entre duas fases, uma das quais estacionarias e a outra móvel, através da primeira, sendo que a distinção entre os principais métodos cromatográficos é feita em função das propriedades da fase móvel. Como na cromatografia gasosa existe uma pressão exercida pelo gás (fase móvel) no interior da coluna, os componentes da amostra apresentam menor força de atração pela fase estacionária e passam a ser conduzidos como maior facilidade pelo gás, ocorrendo à separação da amostra, no copo havia resíduos de sulfato de nicotina. Sulfato de nicotina (C10H14N2)2 H2SO4 é um sólido ou solução; branca a marrom claro; sem odor e se mistura facilmente com água; ele é tóxico se ingerido.

Como um bom perito sempre volta à cena do crime, voltamos para analisar se havia algum produto que teria sulfato de nicotina. Voltamos à casa dos Alburquerques e achamos um inseticida à base de sulfato de nicotina e usei o método da ninidrina para coletar as impressões digitais. No inseticida havia digitais do caseiro Vicente Emilio de Amorim, 42 anos e trabalhava como caseiro há 15 anos com a família. Diz ele que tinha um ótimo relacionamento com Rochelle.

Fizemos uma análise geral e resolvemos fazer um interrogatório com o caseiro, falamos para ele que as digitais dele estavam presentes no inseticida que foi utilizado para envenenar Rochelle e que havia vestígios de pólvora na mão do padrasto dela. Ele começou a negar as acusações e nós fomos pressionando-o até que ele confessou:

-Eu ajudei matar Rochelle! O Sr. Paco me ofereceu uma grande quantia para envenená-la, simulamos um assalto, ele atirou nela, ele não queria que ela assumisse o posto de presidente que é dele e os dois tinham um relacionamento amoroso, e a mãe de Rochelle nunca desconfiou, pois, ela vivia viajando a negócios.

Prendemos o caseiro e quando fomos com o mandado de prisão para o Paco descobrimos que ele tinha saído do país. A mãe de Rochelle voltou da Europa, soube do caso e ocupou o posto de presidente da empresa.

Dois anos se passaram vejo casos como estes todos os dias, é difícil aceitar que às vezes os nossos esforços não dão em nada. Que a justiça prevalece para os ricos. Mas eu, como perita, acredito que os nossos esforços irão ser compensados algum dia.

Bibliografia

- Chemello, E.Química virtual, dezembro 2006-Ciência Forense: impressão digital
- Chemello, E.Química virtual, dezembro 2006-Ciência Forense: balística forense
- Veloso, Genival de França; Medicina legal /7° edição.
- Branco, Regina do Carmo Pestana de O./Química Forense sob Olhares Eletrônicos.
- http://www.members.tripod.com/alkimio/quimica/forense.htm
- http://www.fcfar.unesp.br/alimentos/bioquimica/imagens/reacao_ninidrina.GIF
- http://www.cetesb.sp.gov.br/emergencia/produtos/sulfato%20de%nicotina


Autor: Juliana Caixeta Guimarães

1a Série Ensino Médio

Colégio: Bandeirantes

  Cidade de São Paulo

Professores: Lilian Siqueira e Fabio Siqueira

 

A QUÍMICA NA SOLUÇÃO DE CRIMES

 

            Um corpo estirado no chão, sem nenhum ferimento evidente. Perto de uma das mãos, um saquinho aberto contendo um pó branco não identificável à primeira vista. Uma pistola jogada em um canto. Manchas vermelhas escuras espalhadas em vários pontos do assoalho.

            Essa foi a cena com que os oficiais da polícia investigativa se depararam ao chegarem ao local do crime. Junto com eles, um perito responsável pela coleta de provas, que foram levadas ao laboratório para serem analisadas à procura de evidências do crime cometido.

            O saquinho com pó branco e a pistola eram provas óbvias e foram imediatamente recolhidas, mas além dessas existiam muitas outras ocultas.

            Primeiramente, o perito coletou amostras das manchas escuras, que foram levadas ao laboratório para identificação. Em seguida, ele aplicou um pouco de pó de óxido de ferro (III), um entre os muitos utilizados para o mesmo fim, na maçaneta, na janela e em alguns outros pontos onde o criminoso poderia ter tocado, à procura de impressões digitais. Esse processo teve que ser efetuado com muito cuidado para que as marcas não fossem danificadas. O pó se aderiu à gordura, ao suor e a outras substâncias deixadas na maçaneta por dedos, possivelmente do assassino, revelando o contorno da forma procurada.

            O perito fixou algumas tiras de esparadrapo nas mãos do morto, para investigar a presença de resíduos de tiros que provassem o disparo da arma por parte dele.

            Depois de alguns outros processos, o investigador efetuou a última etapa, a aplicação de luminol, pois assim a substância não destruiria evidências ainda não investigadas. O luminol, de fórmula química C8H7O2N3, é utilizado para revelar resíduos de sangue não visíveis, ou por causa do seu tamanho reduzido, ou por causa da limpeza de manchas maiores. Mesmo com uma possível limpeza no local do crime, resquícios de sangue ainda podem ser identificados pelo luminol. As áreas a serem investigadas foram pulverizadas com uma mistura de pó de luminol, peróxido de hidrogênio (H2O2), um hidróxido e algumas outras substâncias químicas. O peróxido de hidrogênio e o luminol são os principais reagentes, mas para que a reação produza uma luminosidade forte é necessário um catalisador, que pode ser íons ferro presentes na hemoglobina.

Após a aplicação da mistura, as luzes foram apagadas e percebeu-se um brilho azulado vindo de respingos no chão, provavelmente de sangue. Apesar do brilho encontrado, os respingos não são necessariamente de sangue humano, pois o sangue de outros animais também pode agir como catalisador. Outras substâncias como água sanitária doméstica e peroxidases vegetais, presentes em alimentos comuns, também são evidenciadas pelo luminol. Mesmo assim, os vestígios encontrados foram obviamente registrados em fotos ou vídeos.

Depois de terminada a coleta de evidências na cena do crime, o perito químico se retirou para o laboratório, para analisá-las à procura de provas definitivas.

Lá, sua primeira ação foi procurar mais impressões digitais, dessa vez no saquinho que continha o pó branco e na pistola.

            O saquinho foi colocado em um recipiente fechado com cristais de iodo, que foram agitados até que fosse gerado calor suficiente para a sublimação deles, resultando em um vapor violeta. Esse vapor foi absorvido pelas digitais através de uma interação física (não há reação química), mudando de cor para um marrom amarelado. Esta técnica, que é utilizada para objetos pequenos, apresenta a vantagem de não danificar as impressões.

            Na arma, ele utilizou outra técnica: a do nitrato de prata. As glândulas sudoríparas da pele eliminam diversas substâncias, entre elas os cloretos, que são depositados nos materiais quando os tocam. Os cloretos são geralmente solúveis, porém ao reagirem com o nitrato de prata formam o cloreto de prata, que é insolúvel, segundo a equação:

XCl(aq) + AgNO3(aq) → AgCl(s) + XNO3(aq)

onde X é um cátion qualquer, diferente de Ag+, Hg2+ e Pb2+. O objeto foi colocado para secar e depois exposto ao sol para formar a prata metálica, que formou o desenho da digital. A imagem foi fotografada rapidamente, antes que toda a superfície escurecesse. A impressão combinava com a do morto.

            Logo em seguida, o químico examinou as tiras de esparadrapo que haviam sido fixadas nas mãos do morto para descobrir se haviam resíduos de disparo de arma de fogo. Para isso ele aplicou nelas rodizonato de sódio, de cor amarelada, obtendo uma coloração vermelho escura. Isso aconteceu porque toda vez que se dispara uma arma de fogo, resíduos de chumbo são expelidos junto com os gases que saem pela parte posterior e se fixam nas mãos da pessoa. Esse chumbo reage com o rodizonato de sódio segundo a seguinte equação iônica:

Pb2+  +  C6O62-  ®  PbC6O6

cujo produto possui uma coloração avermelhada. O teste teve resultado positivo. O morto provavelmente atirou em seu assassino.

            Por último, o perito analisou a amostra de pó branco para identificá-la, usando a técnica da cromatografia. Essa técnica funciona através da migração de duas fases, a estacionária e a móvel, que leva à separação dos componentes em faixas coloridas. Depois de obter as faixas, ele as comparou com padrões já existentes, descobrindo que a substância era cocaína altamente concentrada, que poderia ter sido a causa da morte.

            A polícia trouxe para o laboratório um suspeito, com um ferimento grave, que poderia ter sido causado por um tiro. Suas digitais combinavam com as encontradas no local do crime e no saquinho com a droga. As evidências químicas encontradas foram fundamentais para provar que se tratava de mais um crime causado por divergências no comércio ilegal de drogas.

            Mais um caso resolvido.

            Esta seqüência de operações demonstra a utilização da Química como ferramenta de investigação, que vem sendo desenvolvida e aprimorada nos últimos anos. Cursos específicos têm sido elaborados, e já há busca por profissionais especializados nessa área no mercado de trabalho. Nesse caso, é necessário que se tenha um conhecimento amplo de vários tópicos da disciplina, que se complementarão na resolução dos mais diferentes tipos de situação.

            De qualquer forma, essa é mais uma ramificação da Química, que é classificada por muitos como “Ciência Central”, e agora é utilizada, também, na investigação de crimes: a Química Forense.

 

Bibiografia


http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc24/ccd2.pdf
http://www.mundovestibular.com.br/articles/1148/1/LUMINOL/Paacutegina1.html

http://www.quimica.net/emiliano/especiais/cienciaforense/index.html

http://www.quimica.net/emiliano/artigos/2006dez_forense1.pdf

http://www.quimica.net/emiliano/artigos/2007jan_forense2.pdf

http://www.quimica.net/emiliano/artigos/2007fev_forense3.pdf

http://www.quimica.net/emiliano/artigos/2007mar_forense4.pdf

http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc07/atual.pdf



 Autor: Lucas Saade Fernandes
Co-autores: Arthur A. Scarance; Caique Barral; Lucas Carraturi Rosa

1a Série Ensino Médio

Colégio: Leonardo da Vinci

  Cidade de Osasco

Professor: Saulo Theodoro da Silva Jr.

   

Um Cachorro Encontrado 

            O policial militar Roberto Lopes estava em sua patrulha na tarde do dia 15 de Fevereiro de 2008, aproximadamente as 16h00min duma tarde ensolarada. Roberto passava na Alameda Santos, no bairro dos Jardins da cidade de São Paulo, quando um cachorro cruzou sua frente, fazendo-o frear bruscamente quase atropelando o animal. Ele saiu de sua viatura, e observou que o cachorro possuía várias manchas de sangue por todo o seu corpo.

            Roberto ficou pasmo em ver o animal naquele estado, e resolveu socorrê-lo, levando-o ao veterinário mais próximo. Chegando lá, foi até a emergência e foi atendido pelo veterinário Augusto. Este examinou o cachorro minuciosamente, e concluiu que o cão não possuía nenhum ferimento e acabou dando um banho no cachorro, que estava com um cheiro muito desagradável. Achou extremamente estranho e liberou o cachorro para o policial. O animal possuía um pingente de identificação, em que se lia: “Caso encontre esse cachorro, favor comunicar a Marcelo Mendes dos Anjos, Alameda Campinas, nº 318”. O policial resolveu levar o cachorro até o endereço e devolvê-lo ao seu dono.

            Chegando lá, bateu na porta da casa descrita pelo endereço, mas não foi atendido. Bateu inúmeras vezes, tocou a campainha, bateu palmas, mas nada de alguém atender a porta. Então decidiu tocar à porta dos vizinhos para ver se alguém conhecia o cachorro.

            Na casa ao lado, a porta estava destrancada. Abriu-a. Roberto achou estranho e entrou da casa. Lá dentro, sentiu um cheiro horrível de putrefação, e gritou: “TEM ALGUÈM AI?”, e acendeu a luz. Ele encontrou muitas garrafas de bebida alcoólica no chão da sala, o cheiro estava mais insuportável ainda. Tentando seguir a intensidade do cheiro, ele subiu ao quarto e encontrou uma porta entreaberta, chutou-a  mantendo sua arma em mãos e viu uma pessoa jogada no chão de bruços e uma poça de sangue ao lado do corpo.

            Roberto gritou: “POLICIA! TEM ALGUEM AI? MÃOS PRO CHÃO!”. Vasculhou o quarto à procura de alguém que podia ter assassinado a pessoa. Ligou para a central pedindo reforços e fez uma busca pela casa, mas não encontrou ninguém.

            Alguns minutos depois, doze viaturas estavam à porta da casa para dar reforço ao policial. Outros policiais fecharam o perímetro de aproximadamente 1.5km, por causa do uma possível fuga do assassino.

            Não encontrando ninguém, o perímetro foi liberado e foi acionada a policia científica da cidade de São Paulo.

            A equipe que estava no local era composta por quatro pessoas: O tenente Cláudio Tavares, a legista Renata Costa, e os dois policias Lucas Castro e Arthur Silva. Entrando na casa, logo sentiram um cheiro característico de pentametilenediamina (C5H14N2), proveniente da hidrólise protéica de tecidos orgânicos de corpos em decomposição. Com isso, eles já avisaram os policias de que a morte da vitima não era recente. Liberaram o perímetro e ficaram apenas dois policias militares no local para algum auxilio.

            A equipe subiu e foi ao encontro do cadáver. Perceberam logo que no ambiente já havia ocorrido ou uma discussão ou até um ataque de raiva por parte da vítima, pois havia dois copos quebrados no chão e um armário virado. A legista foi até o corpo, mediu a temperatura do fígado e notou a presença de larvas de mosca-varejeira. Assim, ela constatou que o corpo estava lá há aproximadamente três dias. Verificou também que o corpo possuía um ferimento à bala, apenas na têmpora esquerda, sem ferimento de saída, assim, a bala permanecia dentro do corpo. Com uma pinça, ela retirou o projétil e a deu para o policial Lucas, que era perito em balística. Ele constatou que era de calibre .38mm e o guardou. Arthur estava com a câmera fotográfica em mãos, tirando foto da cena do crime. Encontrou: dois copos quebrados, uma poça de sangue, o armário virado, dois tacos de sinuca jogados no chão, vários papéis jogados num canto, a cama desarrumada, uma arma calibre .38mm,  quatro papelotes de cocaína, um garrafão contendo dois litros de gasolina e várias garrafas de bebida. Fotografou, etiquetou o guardou tudo. Foi encontrada também uma carteira que continha um documento de identidade no nome de: Roberta Gimenez de Lima. O tenente Claudio ficou observando sua equipe e propôs  hipóteses: O que poderia ter acontecido? Homicídio? Suicídio?...

            Após a análise da cena do crime, algumas hipóteses foram levantadas: muitos copos de garrafas de bebidas quebrados, uma arma ao lado do corpo, vários papelotes de cocaína, e a vítima morta com o tiro na têmpora. Tudo indicava para um possível suicídio. O corpo foi levado até o laboratório da polìcia científica e a casa isolada para se mais tarde fosse necessária, uma nova perícia na cena do crime.

            Nada que os policias encontraram indicava quem era a vítima, apenas uma menina de aproximadamente 19 anos, segundo a legista, com algumas “queimaduras” no nariz, proveniente do uso de cocaína.

            No dia seguinte, no laboratório da polícia cientifica, foi feita a autopsia da vitima e um exame toxicológico na vitima para poder descartar a morte por envenenamento. Na análise do ferimento, foi constatado que havia queimaduras ao redor do ferimento na têmpora esquerda da vítima, o que indicava que o tiro foi dado a “queima roupa”. Mas o que realmente intrigou a legista foi que não havia sangue coagulado ao lado do ferimento, nem uma possível regeneração do tecido epitelial da vítima, o que indicava que o tiro havia sido dado após a sua morte. Constatou-se também haver uma pequena quantidade de farpas de madeira encravadas no ferimento. Foi encontrado também na vagina da vitima, algumas escoriações e com a ajuda de uma luz UV, foi encontrada a presença de sêmen ao redor da vagina da vítima, que foi coletado e enviado para análise de DNA. Havia também a presença de tecido epitelial nas unhas da vítima, que foi recolhido para análise. Com isso, a legista chegou à conclusão de que a vítima não poderia ter cometido suicídio, e de que se tratava de um homicídio com base nas provas. Restava saber somente a conclusão do exame toxicológico para provar se a morte havia sido por envenenamento.  Ela rapidamente informou isso ao Tenente Claudio, que comunicou para que sua equipe voltasse à cena do crime para averiguar mais provas, dessa vez, procurando algum rastro deixado pelo assassino.

            Na cena do crime, encontraram alguns cigarros jogados no chão, que foram recolhidos para  análise do DNA, que através da saliva presente, poderia colocar alguém na cena do crime e indiciar de assassinato. O Policial Lucas munido de luminol resolveu usá-lo para tentar encontrar algum sangue diferente do da vítima, pelo fato de ter sido encontrado tecido epitelial embaixo de suas unhas, sendo isso um indício de luta corporal. Arthur comentou com Lucas: “eu sempre tive duvidas de como funciona esse tal de luminol... cada um me diz uma coisa... você poderia me explicar como ele funciona?”

            Lucas explicou para Arthur como ele funciona e como ele deve ser usado: “O luminol (C8H7O3N3) é um composto em pó feito de nitrogênio, hidrogênio, oxigênio e carbono. Misturando o pó de luminol com um líquido contendo peróxido de hidrogênio (H2O2), um hidróxido (OH-) e outros produtos químicos, despejam o líquido em um borrifador. O peróxido de hidrogênio e o luminol são os principais agentes da reação química, mas para que produzam um brilho forte, precisam de um catalisador para acelerar o processo. A mistura detecta a presença desse catalisador, no caso o ferro contido na hemoglobina. Para executar um teste com luminol, os criminalistas pulverizam a mistura em qualquer lugar onde pode haver sangue. Se a hemoglobina e a mistura de luminol entram em contato, o ferro na hemoglobina acelera a reação entre o peróxido de hidrogênio e o luminol. Nesta reação de oxidação o luminol perde átomos de nitrogênio e hidrogênio e adquire átomos de oxigênio, resultando em um composto denominado 3-aminoftalato. A reação deixa o 3-aminoftalato em um estado de energia mais elevado, pois os elétrons dos átomos de oxigênio são empurrados para orbitais mais elevados. Os elétrons retornam rapidamente para um nível de energia menor, emitindo a energia extra em forma de um fóton de luz. Com o ferro acelerando o processo, a luz brilha o suficiente para ser vista em um ambiente escuro”. Arthur ficou até espantado pelo tamanho do conhecimento de Lucas sobre o luminol, agradeceu a explicação e voltou ao seu trabalho. Aplicando o luminol sobre o chão do quarto, foram encontradas gotas gravitacionais de sangue, o que indica que quem expeliu esse sangue estava parado, fazendo as gotas de sangue cair em um ângulo reto. Isso indicou a presença de outra pessoa no local do crime, descartando completamente a hipótese de um suicídio. Foi encontrado também um pedaço de papel alumínio no chão do quarto com uma substância estranha nele, que foi recolhida. Encontraram-se um copo com uma marca de batom, e a mesma substância encontrada no papel alumínio, no fundo desse copo. Os policiais recolheram tudo e voltaram ao laboratório.

            O policial Eduardo que havia feito a denúncia comunicou ao tenente Claudio sobre o cachorro que foi encontrado com uma grande quantidade de sangue, e que o animal poderia ter alguma ligação com o crime. Claudio disse que queria testar o sangue encontrado nesse cachorro para ver se ele pertencia a vítima. Trouxeram o cachorro de volta ao laboratório, todavia ele estava limpo devido ao banho que o veterinário havia dado. Claudio passou um cotonete pelo pêlo do cachorro à procura de algum vestígio de sangue. Após isso, pingou uma gota de luminol no cotonete, o luminol entrou em contato com a hemoglobina presente no sangue que foi encontrado no cachorro, e o cotonete ficou rosa, indicando que aquilo era sangue humano. O cotonete foi enviado para a análise de DNA.

            Após três dias, as análises de DNA chegaram com a seguinte conclusão: o esperma encontrado na vitima possuía o mesmo DNA encontrado nas bitucas de cigarro na cena do crime. O batom encontrado no copo possuía células epiteliais que eram da vitima, deixando claro que o copo foi usado por ela. As impressões digitais na arma eram diferentes das impressões da vitima, o que indicava que ela tomou um tiro após morta, dando a certeza de suicídio forjado. Na análise da arma, não foi encontrado nenhum fragmento de madeira, o que indicava que a presença de madeira no ferimento da têmpora tinha vindo de algum outro objeto. O sangue encontrado no cachorro era da vitima, o que colocava o cachorro na cena do crime.

            Esse fato intrigou os policiais. O que o cachorro fazia na cena do crime? Assim, eles resolveram descobrir de quem era esse cachorro, essa pessoa poderia ser um suspeito de assassinato da vítima. Voltando ao endereço constante no pingente de identificação do cachorro, encontraram o Sr. Marcelo Mendes dos Anjos. Os policiais o autuaram pelo homicídio de Roberta Gimenez e ele foi levado à delegacia. Sua esposa que estava em casa, deu um depoimento a polícia que era impossível que o marido tivesse feito esse crime, pois ele estava viajando fazia uma semana, numa viagem de negócios à China e que tinha voltado hoje para a casa. Mesmo assim ele foi levado à delegacia e a denúncia de sua esposa averiguada.

            Arthur, observando novamente o quintal da casa da vitima, encontrou um taco de bilhar jogado no chão, com a ponta quebrada e sangue na ponta. E pensou: “acho que foi daí que apareceram as farpas de madeira no ferimento da vitima...”

            De volta à delegacia, foi feito o depoimento de Marcelo Mendes dos Anjos. “É impossível que eu a tenha matado, eu estava em viagens de negócios à China, fiquei uma semana lá e voltei para a casa, é impossível que eu tenha matado a vitima.” O policial ligou para a companhia de viagens, e para o hotel que Marcelo havia ficado e realmente constatou que ele havia permanecido lá. Assim, Marcelo foi liberado, pois nada constatava que ele estava na cena do crime durante a morte da vitima. Eles haviam ficado sem suspeitos.

            Duas semanas depois, o exame toxicológico da vítima ficou pronto, constando uma grande presença de C17H21O4N, o que os peritos já esperavam, pelo fato da vitima ser usuária de cocaína. O que os deixou intrigados, foi uma altíssima presença de C10H14N2 em seu corpo, o que poderia ser uma hipótese de morte por envenenamento. Claudio exclamou: “Como alguém pode ter um nível de nicotina tão alto no corpo? Isso foi provocado por envenenamento.” Chegou também o resultado da substância encontrada no papel alumínio e em grande quantidade no copo com marcas de batom da vítima. Era C10H14N2, nicotina. Isso deixou claro, a morte fora provocada por envenenamento, e deixou claro também a tentativa de forjar um suicídio, com um tiro dado na têmpora.

            Assim, eles voltaram a conctatar Marcelo, pois em mortes por envenenamento, estar ausente não serve como álibi, pois o envenenamento pode ter sido feito antes de a pessoa estar fora, não sendo necessária a presença da pessoa no local do crime. Isso indicava outra coisa também, Marcelo tinha um cúmplice que foi até o local do crime e forjou o suicídio. Só não estava explicada uma coisa, a presença de madeira chamuscada ao redor do ferimento da vitima e na bala retirada da vitima. Marcelo deu um novo depoimento, falando sobre o que ele conhecia da vitima. “Roberta era uma menina muito alterada, gostava de rock, vivia indo em baladas estranhas, usava muita cocaína, morava sozinha, não sabia se ela tinha família, alguém depositava todo mês em sua conta bancaria uma quantia de vinte mil reais, mas ela nunca comentou de onde veio esse dinheiro. Ela não tinha inimigos, não tinha nem amigos, ela vivia isolada do mundo, não conheço ninguém que poderia te-la matado.” Claudio pediu uma amostra de DNA para Marcelo para poder descartar a hipótese de ele ser suspeito, e Marcelo concedeu isso a ele. Com um cotonete, Claudio o introduziu na boca de Marcelo, raspando suas bochechas por dentro para conseguir tecido epitelial. Também a esposa de Marcelo, Julia Pereira dos Anjos, deu um depoimento a policia. “Não sei quem a matou, mas só sei que fez bem em matá-la, essa menina fazia um mal imenso a sociedade, era usuária de drogas, vivia ouvindo música alta, roubava meu cachorro para brincar com ela, que culpa tenho eu de que ela não tem amigos? Ela que compre um cachorro para ela... Não sei mesmo quem matou ela, só sei que vez muito bem, agora minha vida vai voltar ao normal e eu vou poder ser feliz novamente com o meu marido. Os dois foram liberados e voltaram para casa.

            Claudio achou muito estranho esse depoimento de Julia, mas trouxe uma nova pista para a investigação. Estava explicado como o cachorro foi parar na cena do crime. A vitima o pegava, porque se sentia sozinha. Assim, Claudio enviou a amostra de DNA de Marcelo para análise.

            Após a análise do DNA de Marcelo, foi constatado que o DNA presente nas bitucas de cigarro e o esperma presente na vagina de Julia era dele. Isso o colocava cada vez mais na cena do crime. Novamente, Marcelo foi chamado à delegacia para prestar mais um depoimento: “O que seu sêmen fazia na vagina da vitima?” Ele resolveu contar a verdade e como ele conhecia a vitima tão bem assim. “Conhecia ela há aproximadamente três anos, era um ex prostituta vindo do RJ, não conhecia sua família, era uma necessitada que não tinha onde cair morta. Conheci-a em uma viagem até o Rio, e me apaixonei por ela. Trouxe-a para São Paulo, aluguei uma casa para ela ao lado da minha onde ela poderia viver. Éramos como amantes, encontrava-nos todos os dias de noite, e tínhamos relações sexuais. Sempre tentei a fazê-la parar com as drogas, mais o vicio dela era tão grande que não tinha o que a fizesse parar. Tentei várias vezes colocá-la em grupos de reabilitação, mas não havia nada que a fizesse parar com as drogas. Tentei também comprar um cachorro para ela, mas ela gostava somente do meu, tinha um grande apego nele, e como minha esposa gosta muito do cachorro também, não tinha como dar o cachorro para ela. Falando em minha esposa, ela não sabe nada disso, e nem pode imaginar. Não sei mesmo quem matou ela, não tenho motivos nenhum para ter matado ela, eu a amava mais que qualquer coisa nesse mundo, não demonstrei tanto sentimento de perda quando soube da morte dela por causa da minha esposa, mais já chorei muito às escondidas, acho que não vou conseguir viver com essa perda.” E Marcelo começou a chorar. Claudio não sabia se acreditava na historia dele e resolveu ver com a esposa se ela não sabia mesmo da história para ter certeza do que Marcelo disse era verdade.

            Claudio chamou Julia para depor, e fez a seguinte pergunta para ela: “Seu marido mantinha alguma relação com Roberta?” Julia respondeu: “Não”.

            Claudio disse: “Tem certeza disso? Encontramos esperma de seu marido em Roberta...” Julia falou para Claudio: “Já estou cansada dessa situação, Sempre soube que Marcelo teve um caso em Roberta, mas como ele me sustentava, nunca disse nada, nunca perguntei e nunca questionei nada, ele me fazia feliz em alguns momentos por isso tentei contornar essa situação, tinha momentos de fúria, momentos de alegria, mas nunca soube o que realmente eu quis na vida...” E começou a chorar... Lucas, vendo toda essa situação, deu um copo d’água para Julia se acalmar um pouco, Ela bebeu e saiu da sala de depoimento. Claudio perguntou por que ele tinha oferecido água, ele nunca tinha feito isso. Lucas contou que teve uma idéia, quando Julia disse que sabia do caso dos dois, ela passava a ser suspeita, e para conseguir uma impressão digital dela, ofereceu um copo d’água, e assim, sua impressão ficaria marcada no copo. Claudio exclamou que nunca tinha visto isso e que queria ver como a impressão havia ficado no copo. Assim, Lucas pegou em sua maleta sulfato de prata, e borrifou no copo e com a ajuda de um pó preto aveludado  e uma escova, ele escovou suavemente a superfície em movimentos circulares, deixando assim, a impressão digital de Julia totalmente perceptível no copo. E com a ajuda de uma fita, retirou a impressão e a enviou para a análise.

            Após a análise das digitas de Julia, comparando com as digitas encontradas na arma, no taco de bilhar e no papel alumínio, chegou-se a uma conclusão: as digitais eram as mesmas, assim, concluiu-se que Julia estava presente na cena do crime durante a morte da vitima. O DNA encontrado nas unhas de Roberta, podiam também pertencer a Julia, mas como eles não tinham uma amostra de DNA dela, não podiam relatar que poderia ter havido uma briga, criando a hipótese de uma segunda pessoa no local.

            Julia foi chamada novamente a delegacia e achou estranho, pois toda a investigação rondava seu marido. Claudio disse: “Encontramos suas digitais na arma usada no crime. Algo a declarar?” Assim, Julia disse: “Eu não estava mais agüentando aquela situação, ver todo dia meu marido ir a casa dela, e eu em casa, sabendo claramente que estava sendo traída. Um dia, fui procurar meu cachorro, e ele não estava lá, aquilo para mim o a gota d’água, sabia que ele estava na casa de Roberta. Já estava planejando matar Roberta a um bom tempo, por envenenamento quando meu marido viajasse para poder incriminar ele. Então peguei uma porção de nicotina que havia guardado para isso e fui até a casa de Roberta. Entrei no quarto dela, meu cachorro estava lá, fui até o copo dela que estava cheio de vodka e joguei toda a nicotina e me escondi no armário. Ela entrou no quarto, devia estar drogada, e tomou toda a vodka e caiu no chão. Ela viu que tinha alguém no armário e pegou uma arma que guardava embaixo da cama e apontou para mim, fiquei com muito medo e acabei saindo do armário e derrubando ele. Ela começou a me arranhar com muita força e eu não estava conseguindo escapar dela, pois ela sabia que eu que tinha tentado envenena-la, estava evidente que ela não gostava de mim. Assim, peguei um taco de bilhar que estava no canto, e a atingi na cabeça, o taco entrou na cabeça dela, ela caiu no chão e pareceu ter uma morte instantânea. Fiquei apavorada naquela hora, não era pra aquilo ter acontecido, devia ter matado ela por envenenamento, assim, peguei a arma e acabei dando um tiro no ferimento para tentar encobrir. Joguei a arma fora e fui para casa. O cachorro ficou lá, o único amigo dela.” Cláudio chamou os policiais militares que prenderam Julia por homicídio. “Mais um caso encerrado, mais um criminoso preso.” exclamou Arthur. E Claudio concluiu: “Tudo graças a um cachorro, um cachorro encontrado.”

 

 Bibliografia:

            ARAÚJO, Tarso. “Ciência Contra o Crime”. Superinteressante. Edição 257, 2008, Outubro: Pág. 70 a 79.
Crime Scene Investigation Miami 1ª temporada, Episódios 1 ao 24, Anthony Zuiker, 2002
HARRIS, Tom. Como funciona o luminol, 30 de Outubro de 2008,< http://pessoas.hsw.uol.com.br/luminol.htm >
Wikipédia. Cadaverina, 30 de Outubro de 2008, < http://pt.wikipedia.org/wiki/Cadaverina>
Wikipédia. Nicotina, 30 de Outubro de 2008, < http://pt.wikipedia.org/wiki/Nicotina>
Wikipédia. Cocaína, 30 de Outubro de 2008, < http://pt.wikipedia.org/wiki/Coca%C3%ADna>




Autor: Lúcia Angelo Furlan

1a Série Ensino Médio

Colégio: Santa Cruz 

  Cidade de São Paulo

Professor: Rodrigo Marchiori Liegel

 

A ATUAÇÃO DA QUÍMICA NA ELUCIDAÇÃO DE CASOS JUDICIAIS

 

O termo “forense” é relativo a foro judicial. Desse modo, as ciências denominadas forenses são aquelas que atuam na resolução de casos legais. É importante observar, então, que a Ciência Forense não é um ramo específico e sim um conjunto de diversas áreas, como, por exemplo, a medicina, a biologia e a química. No caso da química, podem ser citadas as atuações na identificação de impressões digitais, disparos de armas de fogo, identificação de resíduos de sangue em roupas ou em outros objetos, constatação de substâncias entorpecentes, exame de combustíveis adulterados, análise de autenticidade de obras de arte ou documentos e identificação de ingestão de álcool.

Durante a resolução de um caso, a objetividade é fundamental, pois certos detalhes são decisivos para uma resolução criminal que pode culpar ou inocentar alguém, de modo que as perícias devem ter extremo rigor. Um resíduo de sangue encontrado em determinado lugar, por exemplo, pode indicar o modo como a pessoa foi morta; o tipo de substância num documento pode identificar sua procedência. Policiais e outros agentes da perícia com conhecimento químico podem lidar com situações que exijam deles esse tipo de conhecimento de forma mais rápida e eficaz, encaminhando a situação da melhor forma possível. Um exemplo é o da apreensão de uma droga. De posse de reagentes que indiquem pela coloração a presença de determinadas substâncias, como o caso de identificação da cocaína como uso de tiocinato de cobalto, e sabendo utilizá-los corretamente, o policial pode controlar e conduzir a situação com mais agilidade, evitando preâmbulos que atrapalhariam o caso, além de ganhar mais segurança. A necessidade de um real conhecimento nas investigações mais imediatas, como as identificações de substâncias no local do crime, ou mais longas e elaboradas, nas quais é necessário que amostras sejam levadas para o laboratório, é evidente. Diversos avanços têm ocorrido ao redor do mundo, tanto na área de pesquisa com relação a métodos de investigação, quanto no desenvolvimento tecnológico para a aplicação dos métodos químicos elucidativos em si, que é, por exemplo, o caso do uso de uma chapa revestida para a identificação de impressões digitais na pele da vítima.

Apesar do caráter rigorosamente científico, há certa visão espetaculosa ao redor da ciência forense. Primeiramente vem o fato de que a aplicação da ciência forense não envolve apenas casos policiais, questões judiciais que implicam a decisão de regularidade de um local, se ele é perigoso ou não para um trabalhador, também são abrangidas. O segundo fato que estimula essa visão são os diversos seriados de televisão, como “Detetives Médicos”, que mostram casos judiciais de investigações nos quais apenas um fio de cabelo pode indicar absolutamente todos os dados do crime, como Valter Stefani, professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul disse em uma entrevista para a Agência FAPESP: “Encontrar apenas um fio de cabelo e dizer que pertenceu a uma menina loira de 9 anos, que foi agarrada pela perna esquerda, sacudida três vezes, e assim por diante, é bobagem. Mas isso não quer dizer que não estejamos próximos disso”. Apesar dos exageros, as atuais perícias estão de fato em um nível avançado.

Um bom exemplo é a detecção do agente de disparos de armas de fogo. Quando ocorre o disparo, é liberado um fluxo gasoso, gerado pela combustão da carga explosiva presente na munição da arma. Parte dessa massa de gás adere à pele daquele que efetuou o disparo. O fluxo gasoso contém gás carbônico e dióxido de enxofre, assim como outros compostos, como nitrito, nitrato, cátions de metais (como antimônio e chumbo principalmente). O chumbo pode ser oriundo do agente detonador, vindo nesse caso do trinitroresorcinato de chumbo, ou da carga em si, vindo do estifinato de chumbo. Quando é feita uma análise da pele do suspeito pelo disparo há a procura pelos íons ou fragmentos metálicos que teriam se depositado na pele e que seriam uma prova de que o acusado é realmente o autor do disparo ou não. A análise feita é chamada de residuográfico, na qual uma amostra é tirada da pele do acusado por meio de tiras adesivas, colocadas em superfície de papel filtro, que posteriormente são borrifadas com uma solução acidificada de rodizonato de sódio. O resultado considerado positivo é aquele no qual aparecem pontos de coloração avermelhada esparsos pela fita. A reação que ocorre é a formação de um complexo do íon de chumbo e do íon rodizonato, que possui coloração específica avermelhada, diferente do rodizonato de sódio, cuja coloração é amarelada. Como já foi enfatizado, o papel do químico é, então, de suma importância. Saber como manejar as substâncias envolvidas no processo e poder interpretar o resultado exige o conhecimento do material que está sendo utilizado. Conseqüentemente, uma correta análise pode inocentar ou acusar definitivamente o suspeito de ter cometido o ato do disparo, o que conduz o julgamento de forma mais rápida, podendo até concluí-lo.

A necessidade de um químico também se dá pelo fato de ser preciso saber em qual condição a amostra foi coletada, se ela entrou em contato com substâncias que podem tê-la modificado, como chegou ao laboratório e como foi armazenada, dado que exposições a ambientes desfavoráveis podem desencadear uma formação de fungos,  contaminando-a. Por esse motivo é essencial que o próprio químico vá buscar o material no local do crime. Um exemplo disso é próprio caso do residuográfico no disparo de arma de fogo. O material levado, no caso as fitas adesivas, o papel filtro e o rodizonato de sódio, devem estar em condições adequadas na hora em que vão ser utilizados. A pessoa que vai executar o exame também deve fazê-lo de modo adequado, usando luvas. Além disso, aquele que vai ter a pele analisada deve ser mantido em condições adequadas, o que significa não deixar que suas mãos entrem em contato com substâncias que alterem o resultado, como a urina, por exemplo. Um químico possui esses conhecimentos e pode determinar se as amostragens são válidas ou não.

Outro exemplo da utilização da química na resolução de casos é o do uso do luminol, uma substância que possibilita a identificação de resíduos sanguíneos não visíveis a olho nu, por meio de um processo chamado quimiluminescência. O luminol é misturado com alguns reagentes, como o peróxido de hidrogênio, e se decompõe, liberando um brilho azulado. Para que ocorra essa reação há a necessidade de um catalisador, que no caso é o ferro, presente na hemoglobina do sangue. Assim, a mistura indica a presença desse catalisador. Há, no entanto, certas restrições na hora da aplicação. Não só pelo fato de a aplicação do luminol poder danificar outras evidências no local do crime, mas também pelo fato de não poder ser aplicado em locais onde existam substâncias metálicas. "Como ele identifica o ferro, a superfície metálica interfere no resultado da perícia, pois pode dar uma pista positiva e falsa", explicita Sérgio Pohlmann, perito criminalístico especializado em química legal, do Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul (IGP). Mesmo assim, segundo ele, a utilização dessa técnica é excelente, pois pode identificar a presença de resíduos sangüíneos até mesmo em locais que foram lavados com produtos de limpeza.  Pohlmann também levanta a grande utilidade desse processo nas investigações: "A sua utilização é muito importante porque auxilia o perito na hora de levantar todos os vestígios para solucionar um crime. A partir das manchas de sangue, pode-se sugerir uma dinâmica do que teria acontecido". Após a análise, os policias podem fotografar a cena, filmar ou até mesmo levar uma amostra do resquício sangüíneo, caso seja necessário um posterior teste de DNA, para que seja identificada a origem do sangue. Todavia, não deve ser esquecido o fato de que não é uma análise feita com luminol que desvendará todo o crime, outras perícias devem ser feitas para que se chegue a um resultado final mais preciso e confiável.

Recentemente, no começo deste ano de dois mil e oito, houve um caso amplamente divulgado na mídia em que foi utilizado o luminol para as investigações, o caso do assassinato da menina Isabella Nardoni. Resíduos de sangue foram encontrados pelo apartamento onde morava a menina e estes resíduos puderam indicar como o crime teria ocorrido. Resquícios encontrados na roupa do pai da menina apontaram-no como um forte suspeito pelo assassinato. Outras manchas nos móveis indicaram que o corpo da menina havia entrado em contato com eles. O caso foi mostrado de modo sensacionalista pela mídia, mas mesmo assim, a relevância de uma perícia especializada para as investigações não deixou de ficar evidente.

 Como conclusão, percebem-se diversos casos em que um conhecimento químico é de extrema importância para a realização da investigação e/ou solução, tornando cada vez mais evidente o papel do químico no âmbito judicial e, conseqüentemente, aumentando cada vez mais a sua contribuição para a sociedade. Um laudo mais preciso permite que injustiças não sejam cometidas.

Ainda pode ser lembrado que um maior desenvolvimento dessa área da ciência forense abre um maior espaço para a atuação do jovem de hoje, pois a gama de atividades que podem ser realizadas cresce cada vez mais, dado que um real conhecimento passa a ser mais exigido em um maior número de áreas.

Bibliografia

http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc24/ccd2.pdf
http://quimicaforense.com.br
http://www.fes.br/disciplinas/far/toxicologia/12%AA%20aula%20-%20Qu%EDmica%20Forense.ppt#258,4,Slide 4
http://www.abq.org.br/cbq/2007/trabalhos/13/13-741-211.htm
http://noticias.terra.com.br/educacao/vocesabia/interna/0,,OI2768337-EI8411,00.html
Márcia Borges Furlan – Promotora de justiça da Auditoria Militar do Mato Grosso



 Autor:  Murilo Izidoro Santos

1a Série Ensino Médio

Colégio: Singular

  Cidade de São Bernardo do Campo

Professoras: Miriam P. do Carmo e Adriana C. Adobo

 

Um poço, dois mundos

 

     Hercule Poirot e Arthur Hastings estavam a caminho de mais uma cena de crime das ruas da Londres da década de 20. Mesmo àquela época, os criminosos já davam muito problema.

     Envenenamentos por arsênico eram comuns, mortes por armas de fogo e armas brancas também. Investigar essas mortes não era uma tarefa para qualquer um, não havia tantos recursos como hoje.

    Chegando no local, um galpão sujo e escuro, um depósito de cargas e mercadorias, Hercule começou a fazer o que sabia, pensar, não gostava muito de procurar todos aqueles vestígios, dizia que estaria sendo como um cão de caça. Foi olhando os mínimos detalhes, rastreou passos molhados de sangue e, finalmente, encontrou o que queria, o corpo da moça que havia sido morta, debaixo de um pano.

     - Achamos a moça, mas não há nada que nos dê pistas de um suspeito, nenhuma arma, corda ou objeto que o assassino tenha tocado.

     - Vamos olhar naquele poço.

     Chegaram próximos ao poço, e o pior aconteceu, Hercule escorregou e caiu dentro dele. Hastings ficou desesperado, e prometeu chamar a polícia, não perderia seu parceiro.

     Hercule acordou. Estava agora em um local estranho, havia luz, construções modernas, e um barulho de metrô.

     De onde apareceu esse metrô? Ele ainda não passava por aqui.

     Subiu de volta ao galpão, que não parecia ter mudado muito. Lá também havia um corpo, uma moça também. Até que um policial o barrou.

     - Senhor, este é um local de investigações proibido a civis.

     - Eu sou também um detetive, me chamo Hercule Poirot.

     O policial, Jonny, como estava na sua farda, começou a rir sem parar enquanto Hercule olhava sério para ele. Poirot tentou se explicar, de como havia caído no poço, mas não funcionava. Então teve uma idéia, mostrou um jornal do dia do acidente que estava em seu bolso.

     O policial ficou impressionado, não sabia como o famoso detetive das histórias de Agatha Christie havia viajado mais de oitenta anos no tempo, parando em 2008.

    - Retiro tudo o que eu disse, seria uma honra investigar esse crime com o senhor.

    - Jonny, também será uma honra para mim.

    Quando Hercule disse que um verdadeiro policial deveria utilizar a massa cinzenta, e que poderia resolver o crime sentado de olhos fechados, novamente o policial começou a rir. Hercule olhou e não sabia o por quê daquilo.

    - Caro Hercule, nós da polícia atual além de usarmos a cabeça, nós temos agora uma grande aliada que se chama química forense. A ciência da química associada às investigações criminais. Com ela, conseguimos enxergar mais longe. Por exemplo, nós temos nos laboratórios um instrumento chamado microscópio eletrônico de varredura.

     - Como ele funciona? eu só conheço o microscópio óptico.

     - Ele usa as radiações dos elétrons, que quando reunidos em um feixe, batem contra os elétrons de outra substância e os jogam para fora, então outro elétron toma o seu lugar liberando raios-x e fornecendo uma imagem muito mais precisa.

     - Para enxergar as impressões digitais vocês também têm novas alternativas?

     - Além dos pós como a grafite e a fuligem, vindos do carbono, nós temos outros como o de óxido de ferro e o dióxido de manganês, misturados à fuligem e resinas.

     - Tudo bem, os pós já existiam na minha época.

     - Nós temos o vapor de iodo, pois ele sublima, passando de sólido direto para o estado gasoso, aderindo às impressões digitais sem danificá-las. O Nitrato de Prata também é curioso, ele reage com os cloretos presentes na impressão, formando cloreto de prata, que é insolúvel em água, depois essa impressão é exposta à luz, formando prata metálica e possibilitando a fotografia das impressões.

XCl(aq) + AgNO3(aq) → AgCl(ppt) + XNO3 (aq)

Outra importante substância para o químico forense é a ninidrina, que reage com os aminoácidos presentes na impressão, formando um composto colorido.  A fórmula estrutural dela está aqui em meus manuscritos, veja.     

-

     Hercule também perguntou se havia algo a fazer sobre os vestígios, como resíduos de tiro, vidro, tintas, até drogas como a cocaína.

     - Sim, Poirot, nos laboratórios, além do microscópio que também pode identificar a composição do material pelos diferentes espectros de raios-x emitidos com a espectroscopia, há também a cromatografia gasosa, que separa os gases da substância, os quais são examinados com um espectrômetro de massa, que separa os gases por massa, encontrando a composição e até adulterações no material. Existe, além desses dois, o Rodizonato de Sódio, que reage com vários metais formando compostos de diferentes cores, uma para cada metal.

    - Você pode me dar um exemplo de utilização?

    - Nas armas de fogo usa-se a pólvora, geralmente uma mistura de salitre (nitrato de potássio, KNO3), Carvão e enxofre, que quando explode, impulsiona uma bala, geralmente de chumbo com um pouco de antimônio.

   Com os produtos do tiro, são eliminados resíduos que se espalham pela cena do crime e também na mão de quem atirou. A química pode solucionar o problema e resolver crimes como suspeita de incêndio criminoso, falsificações e muito mais.

    - Há sangue na cena, mas muitas vezes os criminosos conseguem escapar da prisão lavando o local. Tem como detectá-lo? Antigamente nós usávamos água oxigenada, o peróxido de hidrogênio (H2O2), que em presença das células era decomposto, mas ele destruía as células.

    - Caro Hercule, Hoje, ainda é utilizada a água oxigenada, dissolvida e em pequenas quantidades, com outras substâncias, que ajudam a detectar o sangue.  No reagente de Kastle-Meyer, por exemplo, que é uma mistura de fenolftaleína, hidróxido de sódio, zinco e água, olhe como ocorre a reação.

                                   -

  O [H] liberado torna incolor a fenolftaleína, mas se a mistura for mesmo de sangue, a água oxigenada irá liberar H2 e O2, que mudarão a cor novamente da substância. Tudo isto ocorre pela ação da enzima peroxidase, que decompõe a água oxigenada, já que ela é tóxica para o corpo.

Os criminosos têm muito medo é do Luminol, cujo nome verdadeiro é bem esquisito:

5-amino-2, 3-di-hidroftolazina-1, 4-diona. Veja como ele é.

-

     Este aliado dos policiais pode acusar a presença de sangue lavado, mesmo após seis anos.

     O que cataliza sua reação é um material comum no sangue, o ferro das hemoglobinas.

     O luminol oxidado pelo ferro é atacado pelo ânion dá água oxigenada até chegar ao estágio de diânion do ácido 3-aminoftálico, que no estado excitado, libera luz.

     - Muito esclarecedor, meu caro Jonny.

     - Hercule, eu tenho certeza de que você não conhece este método de identificação, ele só começou a ser utilizado há 20 anos, aqui na Inglaterra. Tudo começou com a descoberta de um material que transmite as características dos pais para os filhos e que diferenciam uma pessoa da outra. O DNA, ou Ácido desoxirribonucléico. O DNA é um grande polímero, formado por nucleotídeos, os quais são formados por um açúcar, nesse caso a desoxirribose (C5H10O5), um fosfato (PO43-) e uma base nitrogenada dentre quatro, Adenina, Timina, Guanina e Citosina. Presente em todas as células do corpo, é encontrado, na pele, no cabelo, na saliva e até no suor. Essa é sua grande utilidade, ele pode ser examinado para identificar as pessoas.

     - Fantástico!

     - “O teste de DNA é para a justiça como um telescópio para as estrelas” ¹, o que muda de uma pessoa para outra são as seqüências de bases nitrogenadas, que controlam a síntese de proteínas, fazendo as pessoas diferentes como são.

     A identificação do DNA é feita pelo método do DNA Fingerprint que em português significa Impressão Digital do DNA, no qual as enzimas de restrição, proteínas que cortam o DNA em algumas seqüências de bases nitrogenadas, então ele é colocado em um gel de Agarose, um polissacarídeo, e o elemento contrastante, Brometo de Etídio, que torna o DNA visível à luz UV. Veja aqui em minhas anotações a fórmula estrutural dele.

-

A mistura é passada sob a eletricidade. Os pedaços menores da molécula são atraídos primeiro para o pólo positivo, formando bandas de acordo com o tamanho molecular, a seqüência das  bandas podem ser comparadas entre as pessoas, sendo que o filho herda 50% do material genético da mãe e 50% do pai. Até o sêmen, tecidos e membros podem ser examinados.

    - Você disse que é possível examinar o suor, mas não há muitas células nele, não é?

    - Sim, você está certo, mas com a pouca quantia disponível, é possível multiplicá-lo.  Com o método PCR (Reação em cadeia da polimerase), utlizando enzimas de uma bactéria marinha, o químico forense consegue multiplicar a quantia de DNA de pequenas amostras.

    - Esses métodos são magníficos, é difícil pensar como os criminosos ainda estão à solta.

    -Hercule, é difícil dizer que quanto mais a ciência evolui, os ladrões também.

    -Bom, Jonny, então a ciência terá que me ajudar em uma coisa, não posso viver aqui para sempre.

     -Você tem razão. Acho que a única coisa a fazer é voltar por onde chegou.

     -Volte para o Poço, e eu tomarei providências para fechá-lo.

     -Adeus, meu amigo.

     E Hercule Poirot voltou novamente para sua realidade, o grande poço das páginas do livro, a imaginação. Conseguiu encontrar uma estreita escada, e foi direto para o galpão. Hastings ainda estava pálido e bem assustado.

     - Você está bem, Hercule?

     -Melhor impossível, cheguei quase um século à frente e percebi como nossa vida é difícil. Acho que vou me aposentar. Sabe, a verdade é que descobri uma tal de química forense, uma química muito especial, foge daquela idéia de química escolar, aquela cheia de conceitos isolados. Com ela, nós observamos um novo ângulo da química, que nos mostra que os acontecimentos do mundo macroscópico, os crimes, nossa vida em jogo, podem ser observados por simples substâncias presentes no mundo microscópico.

    -Magnífico! Vamos voltar para casa, lá você me conta todo o resto.

    -Vamos sim, o dia foi difícil para você, Hastings.

    Tinham mais casos esperando por eles, mas para Poirot e Hastings, a descoberta da química forense podia facilitar e muito as suas investigações, tudo seria diferente a partir daquele instante.


¹- Barry Scheck e Peter Neufeld, criadores do Project Innocence, que salva presos injustiçados com provas de exames de DNA.

 
Bibliografia.

Revista Super Interessante, Edição 257, Out/2008, Editora Abril, São Paulo
FARIAS, Robson Fernandes de. Introdução à química forense, Campinas, SP: Editora Átomo, 2008. 2ª Edição.
How Stuff Works : www.hsw.uol.com.br: Ciência Forense, Na cena do Crime, A reação Química.
www.quimica.net/emiliano: Série Ciência Forense (Balística, Impressões Digitais, manchas de sangue, teste de DNA)
Wikipédia: pt.wikipedia.com – Barry Scheck; Cromatografia;  Negro-de-fumo; Espectrometria; Toxicologia; Enzimas de Restrição; Hercule Poirot.
[Tradução] Forensic Chemistry: www.chemistryexplained.com/Fe-Ge/Forensic-Chemistry.html&sa=X&oi=translate&resnum=2&ct=result&prev=/search%3Fq%3Dforensic%2Bchemistry%26hl%3Dpt-BR
Enzimas de Restrição e eletroforese em gel http://educar.sc.usp.br/licenciatura/2003/siteprojeto/2003/6_enzima_e_gel.pdf



Autor: Renata Tuoni Hanna

1o Série Ensino Médio

Colégio: Bandeirantes

  Cidade de São Paulo

Professores: Lilian Siqueira e Fabio Siqueira

 

RELATÓRIO DE MINHA JUSTIÇA

Nova Iorque – 27/08/2016 – 09h33min

Meus colegas de trabalho examinavam minuciosamente cada centímetro de minha casa, enquanto o delegado Thompson tomava nota do depoimento que meu namorado prestava. Ou ex-colegas e ex-namorado, não sei como me referir às pessoas com quem me relacionava quando viva. E pensando assim, é um tanto mórbido. Eu estava morta. Eu estou morta. E não me lembrava de como tudo acontecera.

Laura, a legista, examinava meu corpo, ainda um pouco rosado, imóvel no chão ao lado do balcão da cozinha. Por sua análise, concluiu que eu não devia estar morta há mais de quatro horas, e que, aparentemente, a causa de minha morte fora traumatismo craniano, com o que parecia um forte impacto contra a borda do fogão. Ouvi Gerald atemorizado, contando a Thompson que havia vindo, como todas as manhãs, para me dar carona ao trabalho, apenas a três quarteirões de onde trabalhava, e que, ao chegar, utilizara sua chave extra, e me encontrara lá. Philip, o mais jovem do grupo, apenas dois anos mais novo que eu, examinava a maçaneta da porta da frente, na qual não havia nenhum sinal de arrombamento. Ele utilizava uma escovinha, parecida com aquela que usamos para passar blush, para espalhar pela esfera dourada a cré – carbonato de cálcio (CaCO3) sob a forma de calcita – e, tendo feito-o, recolheu as digitais cuidadosamente com um plástico adesivo de polietileno ([-CH2-CH2-]n), que colou num fundo preto.

Enquanto Philip retirava as digitais da porta, James examinava a janela sobre a pia da cozinha, que tinha a trave violada. Encontraram por onde o assassino adentrara minha casa. Usando-se do mesmo procedimento que Philip, mas com pó de grafite ao invés de calcário, James procurou por digitais na janela e em seus batentes, encontrando apenas uma impressão parcial do lado interno, provavelmente minha. Aparentemente, o que o assassino usara para quebrar a trave fora também o que ele usara para arrastá-la – a possibilidade de ele estar usando luvas ainda pairava em nossas cabeças. Resolveu, então, examinar a bancada. Ao lado da máquina de café quebrada, havia uma poça de água, e uma pegada enlameada de bota, não precisa, mas como se a pessoa houvesse escorregado. James fotografou a pegada, e com a mente distante, fez movimentos semelhantes àqueles que o assassino faria, tentando descobrir aproximadamente onde se apoiaria por suporte. Chegou à conclusão de que teria se segurado à bancada onde esta estava coberta de água. Remexeu o seu kit e levantou-se com um pequeno potinho, rotulado por uma etiqueta em que estava escrito “Óxido de Zinco”. Despejou um pouco do pó branco na água, e esperou que sedimentasse. Logo que a sedimentação ocorreu, fotografou a digital visível pela reação do ZnO com a gordura.

Fechou as cortinas e pediu para que desligassem as luzes, e borrifou,

então, um pouco de luminol (C8H7O2N3) dissolvido em peróxido de hidrogênio (H2O2) na pia. Com isso, uma pequena quantidade de luz azul passou a iluminar a superfície inox, indicando que ali havia resíduos de sangue (já que íons ferro da hemoglobina agiram como catalisadores ao entrarem em contato com a solução, acelerando a reação de oxi-redução entre o luminol e o peróxido, da qual o resultado foi o composto 3-aminoftalato em um estado de energia mais elevado, cujos elétrons emitiram fótons de luz – eu havia feito minha lição de casa). James coletou uma amostra da substância que agora brilhava com um cotonete e armazenou-a em um saquinho que rotulou como “Amostra de sangue da pia”.

Algumas horas se passaram enquanto a equipe terminava de vasculhar o local, coletar as digitais, a saliva e o tamanho do calçado de Gerald, amostras do vidro da cafeteira, do sangue na borda do fogão e algumas fibras que encontraram no jardim, abaixo da janela da cozinha.

 Nova Iorque – 27/08/2016 – 13h47min

Tudo foi enviado para análise, inclusive meu corpo. Pela autópsia, Laura determinou muitas das circunstâncias do crime. Primeiro, percebeu que, algumas horas depois de ter pré-examinado meu cadáver, hematomas apareceram em meus braços, demonstrando que ocorrera uma luta. Também apareceu uma coloração arroxeada em meu pescoço, levando-a a concluir que eu havia sido estrangulada. Antes de abrir meu torso, examinou o ferimento em minha cabeça e os cortes em meu cotovelo, e os pequenos pedaços de vidro que removeu deles eram do material que compunha o vidro da cafeteira. Uma vez iniciada a autópsia, percebeu que a verdadeira causa de minha morte fora realmente o estrangulamento: a batida da cabeça apenas teria me deixado inconsciente ou atordoada.

Fez os exames básicos, determinando, pela concentração de potássio em meu globo ocular, que eu morrera em torno das 5h00min.

James comparou o tamanho do pé de Gerald com o da pegada borrada, da qual pôde obter um valor aproximado da largura do pé do invasor e determinar que calçava 44, inocentando meu ex-namorado, que calçava 41.

 Nova Iorque – 28/08/2016 – 08h23min

 Gerald foi interrogado logo pela manhã, e contou que eu recebera algumas ligações estranhas nos últimos dias, como se não houvesse ninguém do outro lado da linha. Era verdade, mas não pensara que fossem relevantes algumas horas atrás. Mas naquele momento comecei a me sentir observada, e comecei a ligar alguns pontos em minha mente.

 Nova Iorque – 28/08/2016 – 12h39min

 Philip rastreou todas as minhas ligações da última semana, selecionando as que se repetiram e duraram menos de um minuto, obtendo apenas um número: de um telefone público, é claro.

James adicionou a foto da digital que tirara ao banco de dados, procurando por uma combinação, mas a evidência estava comprometida, uma vez que a mão do assassino havia também escorregado.

 Nova Iorque – 28/08/2016 – 12h57min

 As macromoléculas do DNA da amostra de sangue na pia e dos cacos de vidro da cafeteira, após terem sido partidas em fragmentos pela enzima denominada DNAse, estavam em seus últimos momentos de eletroforese em gel (procedimento no qual tais fragmentos são separados por tamanho, uma vez que as de menor massa migram mais rapidamente que as de maior massa, durante a aplicação de uma diferença de potencial). Ao ficarem prontas, as análises indicaram duas pessoas distintas: eu e um homem, caucasiano, cujo ácido desoxirribonucléico estava sendo comparado com os dados presentes no banco de dados da polícia. Aparentemente, durante a briga, ele também havia se cortado com os cacos de vidro da cafeteira e havia limpado seu ferimento na pia.

Alguns minutos foram necessários para que surgisse na tela a combinação: o assassino era Thomas Jerkins, 33 anos, que estava em condicional após treze anos de detenção na Presidiária de Nova Iorque, para onde EU o havia mandado. A verdade era que, numa investigação de um homicídio em que trabalhei sozinha, eu havia levado para os tribunais que ele era o culpado, com provas suficientes para mantê-lo preso por um bom tempo.

Então fora isso. Eu morri por trabalhar em aplicar justiça.

 Nova Iorque – 31/08/2016 – 11h32min

 O júri julgou Jerkins culpado, sentenciando-o a 22 anos de prisão. Talvez um pouco tarde, mas a justiça foi feita. Novamente.

 Mais um caso resolvido. Mas não com a facilidade e precisão aparentes. O sucesso obtido pelos peritos deve-se aos avanços das Ciências, que nos levam cada dia mais além de todas as nossas expectativas, especialmente da ramificação da Química conhecida como Química Forense. A idéia principal dessa ciência é tentar descobrir com certeza inegável o que aconteceu em uma situação que não presenciamos, combinando conhecimentos tanto de Química Analítica, Físico-Química e Análise Instrumental quanto de Biologia e Física.

Dessa forma, o avanço de conhecimentos em cada uma dessas ciências proporciona facilidades e melhorias na obtenção de resultados.

Como sempre, a pesquisa científica é a responsável por tais avanços, não somente na Perícia Criminal, como também na Medicina e Engenharia, por exemplo. Porém, há uma coisa que nem toda pesquisa e todo conhecimento acumulado pela humanidade nos últimos séculos pode me proporcionar: meu desejo de ainda estar viva...

 

Bibliografia
http://en.wikipedia.org/wiki/Forensic_chemistry

http://www.centrodorio.com.br/pericia/default.htm

http://www.discoverybrasil.com/guia_crime/crime_medicos/index.shtml

http://www.forensicmag.com/articles.asp?pid=232

http://en.wikipedia.org/wiki/Fingerprint_powder

http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc24/ccd2.pdf

http://quimicaforense.com.br/

http://www.ageventos.com.br/downloads/qh09.pdf

http://members.tripod.com/alkimia/curiosidades/forense.htm

http://www.sbq.org.br/28ra/curso_1.php

http://www.igp.sc.gov.br/setores.htm

http://www.virginmedia.com/afe/afe.php?q=Qu%C3%ADmica+Forense

http://www.iq.ufrj.br/index.php?option=com_content&task=blogsection&id=2&
Itemid=56

http://clickeaprenda.uol.com.br/cgi-local/lib-site/conteudo/mostra_conteudo.pl?nivel=m&disc=not&codpag=NOT0808180801

http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%93xido_de_zinco

http://pt.wikipedia.org/wiki/Polietileno
http://pessoas.hsw.uol.com.br/luminol2.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Eletrofoese_em_gel



Autor: Wilton Bastos de Jesus

1a Série Ensino Médio

Colégio: Objetivo Unidade São Vicente 

  Cidade de São Vicente

Professora: Sandra B. Canda Rodrigues

 

Desabafo

 

“Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta” Albert Einstein

            Há uma falha no sistema. As escolas de hoje bombardeiam de forma extremamente inadequada seus alunos com números e fórmulas. Formam-se repetidores de informações, não críticos. Temos uma geração de jovens frágeis, consumistas e imediatistas, reféns dos paradigmas impostos pela mídia. Não há lugar para contestações, e o homem chegou ao ápice da sua mediocridade.

            Era nesse contexto que se encontrava Leonardo, rapaz dotado de uma capacidade singular. Sempre foi um grande observador. Sua maior paixão era analisar o mundo em que vivia. Foi crescendo e, a cada dia, percebia o quão caótica era a situação em que se encontrava a nossa espécie. Buscava ser diferente, ir de encontro aos dogmas que alienavam o homem. Exilou-se em livros, amava ler. Nas horas vagas costumava ler biografias e, conforme as lia, uma arrebatadora necessidade de mudar o mundo ia tomando o seu eu.

            Confúcio, Sócrates, Platão, Abraham Lincoln, Gandhi, Einstein, Freud, Max Weber, Assis, Marx, John Kennedy, Luther King. Inúmeras eram as personalidades que deslumbravam o garoto ingênuo, mas, seguramente, a que mais o influenciou foi Leonardo da Vinci. Sua inteligência não se restringia aos padrões da sua época. Era um pintor, matemático, escultor, arquiteto, físico, escritor, engenheiro, poeta, botânico e músico, tendo se destacado em todos os ramos em que atuou. Um pioneiro!

            O nosso garoto afastava-se das pessoas e ia descobrindo na ciência uma chance, ainda que ínfima, de mudar o mundo. Era chegada a hora de escolher uma carreira. O jovem era um colecionador de medalhas, poderia ingressar com relativa facilidade em qualquer universidade. Dominava todas as disciplinas, o que dificultava ainda mais a sua escolha. Porém, ao tomar ciência de um curso novo ficou maravilhado. Havia encontrado sua vocação.

            Tal carreira era para ele o Leonardo da Vinci das profissões. Tal carreira aliava conhecimentos de inúmeros âmbitos como Bioquímica, Química Orgânica, Biologia, Microbiologia, Toxicologia, Ciências Sociais, Fundamentos de Direito, Criminalística e Química Analítica. Tal carreira era a Química Forense!

            Essa amplitude fascinou Leonardo, e esse fascínio o motivou a escolher a química forense como sua profissão.

            Logo nos primeiros meses de curso o rapaz teve contato com a magia da química forense, seus preceitos, seus precursores, sua história. Sua paixão pela leitura nunca fora tão bem explorada. Leonardo podia viajar nos livros que comprava com tamanho esforço.

            Ao estudar a trajetória de Edmond Locard, Leonardo conheceu um dos princípios fundamentais da ciência forense. Trata-se do ‘princípio da troca’, cujo enunciado pode ser resumido no fato de todo contato deixar um vestígio. À primeira vista tal princípio parece até intuitivo, mas a sutileza presente nos ideais de Locard encantou o nosso garoto. Realmente ele havia encontrado a sua vocação. 

         “... o químico forense precisa ser uma espécie de ‘super-químico’, pois deve possuir não apenas sólidos conhecimentos em todas as subáreas da Química, mas também ter a perspicácia necessária para decidir, em determinado momento, se as análises efetuadas são suficientes para chegar a uma conclusão e, caso contrário, o que ainda precisa ser feito.” (FARIAS, 2008, p. 16)           

Leonardo, agora bacharel em química forense, tinha seu primeiro emprego como perito policial. Seu primeiro caso supostamente tratava-se de um homicídio. A vítima se chamava Joyce e o principal suspeito era seu namorado, Rafael. As circunstâncias o denunciavam. Havia ameaçado a vítima no local do crime uma ou duas semanas antes do ocorrido, e tinha uma gama de testemunhas que moravam na vizinhança dispostas a depor contra ele.

            O detetive já estava a tirar suas conclusões. Mas não o nosso químico, ele tinha a capacidade de observar majestosamente as entrelinhas, era um cético. Havia marcas de pneus no chão. Leonardo resolveu fazer um molde de gesso (CaSO4.2H2O) das aludidas marcas a fim de obter maiores informações. Modelagem, técnica largamente utilizada na ciência forense, capaz de registrar elementos que nem mesmo a mais sofisticada das máquinas fotográficas poderia registrar.

            Poder-se-ia inferir, através da profundidade das marcas, que um carro esteve ali recentemente. No corpo de Joyce, havia balas. Naquele momento uma voz rouca penetrou como um raio na consciência de Leonardo:

– Chumbo... Chumbo – era Mateo Orfila, um dos primeiros químicos a aplicar seus conhecimentos na elucidação de crimes. Leonardo pensou que estava louco. Mais tarde viria a descobrir que esse era um dom oriundo de muitos anos de estudos. Agora poderia fazer uso da sapiência de seus predecessores. Não estava mais sozinho...

            A mensagem de Orfila ficou gravada no subconsciente de Leonardo. Após meditar por alguns minutos, chegou a uma conclusão: o uso de armas de fogo resulta numa expansão gasosa causada pela combustão da carga explosiva contida nos cartuchos. Tal expansão libera resíduos, os quais vão tanto para a parte anterior, quanto para a parte posterior da arma. Aqueles que vão para a parte posterior depositam-se na pele do atirador, e o metal encontrado em maior quantidade é justamente o chumbo (Pb).

            Leonardo resolveu fazer um exame residuográfico, ainda que a confiabilidade do mesmo fosse contestável. Mas, para que se pudesse efetuar este exame ele precisava primeiramente encontrar o verdadeiro suspeito. Foi aí que se manifestou mais uma voz:

            Meu filho, todos nós temos marcas que nos acompanham até a decomposição dos nossos corpos. Use-as! – Desta vez quem falava era Francis Galton, o pai da papiloscopia, a arte das impressões digitais.

Leonardo compreendeu o conselho de Francis rapidamente. Providenciou, então, dois tipos de pós: pó carbonato de chumbo e um pó magnético. O pó carbonato de chumbo seria utilizado na determinação das impressões presentes na casa. O magnético seria utilizado na determinação das impressões contidas na pele da vítima.

As impressões digitais encontradas no corpo de Joyce pertenciam ao seu ex-namorado,  Antônio, e não ao atual, como todos suspeitavam. Ao ser encontrado pela polícia Antônio foi submetido ao exame residuográfico. E o resultado? Havia resíduos de pólvora nos poros do suspeito.

Entretanto, o exame residuográfico não é decisivo, porém, ao efetuar uma perícia detalhada no carro do suspeito, Leonardo constatou que as marcas de pneus encontradas no local do delito eram idênticas aos pneus do carro de Antônio. Não havia dúvidas, Antônio era realmente o culpado. O motivo? Uma crise de ciúmes. E quanto à discussão que ocorreu entre Rafael e Joyce? Certamente Rafael estava insatisfeito com as tentativas de reaproximação de Antônio. Pronto! Leonardo solucionava ali o seu primeiro caso.

Desde aquele dia, Leonardo solucionou inúmeros casos. Orgulhava-se da sua profissão e ficava indignado quando percebia como a química forense era desconhecida. Era notável o pasmo de seus colegas do colegial ao saberem da carreira que Leonardo escolhera. A bibliografia direcionada à química forense era escassa, o que o motivou a escrever sobre o tema.

Os “contatos” com os mestres da ciência forense tornaram-se cada vez mais freqüentes e Leonardo, mais experiente, já tinha se habituado a aquele dom. Dentre os casos mais marcantes temos o da menina Joana, que havia sido envenenada com trióxido de arsênio (As2O3) pela madrasta. Neste caso, a contribuição de James Marsh foi decisiva, afinal de contas, quem pode ser melhor lidando com o arsênio do que o criador de um dos métodos mais eficazes na detecção do mesmo? O arsênio é um dos venenos mais utilizados. É o mestre dos disfarces. É hidrossolúvel, insípido e costuma passar despercebido nas análises químicas convencionais. Napoleão que o diga!

            O caso mais complicado que Leonardo teve que resolver nos seus primeiros anos como químico foi o de José. Até mesmo o local do crime era incerto. O garoto José estava desaparecido havia três dias; ouviram-se gritos no condomínio Recanto dos Bandeirantes e tinha um assassino em série à solta. José satisfazia ao perfil das últimas vítimas do aludido assassino. Era precipitado associar o desaparecimento de José aos demais casos. Foi aí que entrou Hans Gross, pai da criminalística, esbanjando experiência com conselhos extremamente úteis. Os conhecimentos Walter Specht também foram decisivos na resolução do caso. Ele sugeriu o uso de luminol (C8H7O2N3) nos andares em que se escutaram os gritos.

E assim Leonardo procedeu. O assassino era assaz inteligente, tinha ocultado os vestígios. Porém, o luminol reage com inúmeras substâncias presentes no sangue e, mesmo após uma lavagem cuidadosa, continuava a emitir uma luz azul quando em ‘luz negra’ (BELL, 2006). Leonardo encontrou o apartamento em que ocorreu o assassinato e, bastou um fio de cabelo do criminoso para solucionar o caso. Gross estava certo.

            Após três anos como perito policial Leonardo se demitiu, a rotina estressante o abalava. Era sensível o garoto. Atuou em diversas áreas desde então. Um erro muito comum reside em restringir a química forense à criminalística. A química forense está presente nos mais variados âmbitos, como em “perícias trabalhistas, perícias industriais (alimentos, medicamentos etc.), perícias ambientais, doping desportivo” (FARIAS, 2008). Leonardo era a prova viva disso!

            Como posso saber isso? Simples, a história que acabei de narrar é, na verdade, a minha história. A história de um idealista. A minha maior virtude é, sem dúvidas, o meu maior martírio. A ignorância é uma benção... Confesso, quando jovem considerava tal pensamento absurdo, um ultraje à inteligência humana, mais um clichê frívolo, insignificante. Hoje, após frustrantes tentativas de mudar o mundo, percebi que esta frase sintetiza a nossa sociedade. Sintetiza a nossa espécie...

 Bibliografia

 BELL, S. Forensic Chemistry. New Jersey: Pearson Prentice Hall, 2006.
FARIAS, R. F. Introdução à Química Forense. 2 ed. São Paulo: Átomo, 2008. 140 p.
LARINI, L. Toxicologia. São Paulo: Manole, 1997.
<http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc24/ccd2.pdf>. Acesso: 20 out. 2008.
<http://www.tabelaperiodica.hpg.ig.com.br/as.htm>. Acesso: 25 out. 2008.
<http://pt.wikipedia.org>. Acesso: 02 nov. 2008.
<http://www.abq.org.br/cbq/2007/trabalhos/13/13-741-211.htm>. Acesso: 21 out. 2008.
<http://www.ffclrp.usp.br/graduacoes/quimica/bachareladoemquimicaforense.html>. 23 out. 2008.



Autor: Carlos Henrique Leite Da Silva

2a Série Ensino Médio

Colégio: Estrela da Manhã

  Cidade de Guarulhos

Professores: Jailson A. Ferreira, Fabia Vilela da Fonseca

 

Química Forense

No célebre romance O nome da rosa de Umberto Eco, “a morte de sete monges em sete dias e noites, cada um de maneira mais insólita, é o motor responsável pelo desenvolvimento da ação” (parte do prefácio da 27ª edição, editora nova fronteira com tradução de Aurora F. Bernardini e Homero F. de Andrade), coincidentemente todos esses monges aparentemente leram o maior de todos os segredos num dos livros proibidos da abadia, o mistério intriga o leitor, tratava – se de um veneno posto no canto inferior de todas as páginas do livro, e conforme o leitor molhava o dedo com sua própria saliva para virar a página, acabava ele mesmo levando veneno até a sua boca “Está fazendo frio no scriptorium, dói-me o polegar; deixo esta escritura, não sei para quem, não sei mais sobre o que[1] . O nome da rosa é um típico romance policial e usa – se da investigação criminal para solucionar o caso.

É fato que até hoje a investigação criminal com a química forense é excitante, e é palco de um grande público, tanto O nome da rosa, como já citado, quanto uma das séries policiais mais bem-sucedidas da atualidade “CSI – investigação criminal” sempre colaborou para a divulgação desse tipo de trabalho, e o uso da química forense sempre esteve presente.

Mas para entender melhor sobre química forense, é preciso entender primeiro o que é química. A química moderna pode ser definida como a área de estudo e/ou atuação relacionada às substâncias da natureza e suas relações íntimas, ou seja, sua interação baseada na estrutura molecular. Química forense, em definição, é o uso dos conhecimentos da química aplicados a fins legais com o objetivo de dar embasamento científico na promoção da justiça, como por exemplo, comprovar ou não, homicídios, falsificações, e qualquer tipo de contravenção.

Pode-se se dizer que a química forense teve início desde que começou a civilização, como por exemplo, os altos índices de mortes por envenenamentos na Roma Antiga, isso ocorreu muito no período renascentista[2] também, marcado pela grande valorização da arte e início do pensamento absolutista, disputas de terras e de influencia levavam os monarcas ao assassinato por envenenamento, uma vez que era um método sutil e facilmente confundido com suicídios e com mortes naturais, isso criava um contexto que colaborou, de certa forma, para os estudos da química, em especial, das relações toxicológicas com o corpo humano, prova disso foi um livro publicado em 1700 de Bernardinho Ramazzini[3] , As doenças dos trabalhadores[4] que mostra um conhecimento amplo sobre o assunto, tal livro foi de extrema importância para a química forense de hoje. Um caso típico da aplicação da química forense datado de 1840 foi o envenenamento de Charles LaFarge por sua esposa Marie, onde M. J. B. Orfila[5] comprovou, através de análises a presença de arsênio no corpo da vitima.

A química forense teve grandes avanços e contribuições desde então, um exemplo importantíssimo foi o estudo da datiloscopia (estudo dos padrões das cristas dérmicas referente à ponta dos dedos) onde já era empregada, de forma basicamente experimental, no Japão (séc. VII) e na China Medieval (séc. XII).

Mas os estudos teóricos e o reconhecimento como ciência importante na identificação humana começa com a descoberta da ninidrina[6] por Siegfried Ruhemann, que reage com os aminoácidos encontrados no suor e revela impressões digitais. Outro grande colaborador foi Sir Francis Galton[7] com o livro: Finger Prints[8] , que diz respeito à identificação de pessoas com o uso de impressões digitais, tal método teve grande relevância quanto à identificação humana, (mas vale lembrar que o sistema aceito no Brasil e na Argentina é de Vucetich[9] ). Porém, tal qual a química forense tem avanços, os contraventores também, e o simples usar de luvas em um delito já faz desnecessário o uso da datiloscopia. Por isso, é necessário o conhecimento amplo de várias técnicas de preservação e recolhimento de provas, quanto a identificação e interpretação das mesmas. Fica claro que o trabalho forense é resultado de uma equipe de peritos com conhecimento amplo, mas distintos. A investigação criminal é interdisciplinar, como por exemplo, no uso da balística, que se faz necessário o conhecimento da física, e nas autopsias, onde conhecimento da anatomia humana é essencial. Mas a química tem um espaço especial, pois desde o recolhimento de provas à sua análise laboratorial, o conhecimento em química analítica é, simplesmente, indispensável.

Dentre os avanços em química forense, um dos mais importantes é o teste DNA, que possibilita não só uma identificação precisa do indivíduo, como também sua paternidade.  Possibilita também a relação de determinado material biológico (mancha de sangue, sêmen, etc.) com o suspeito. Este teste teve grande avanço com o estudo do DNA mitocondrial, que além de propiciar a linhagem materna do individuo, possibilita a análise com pouca amostra (até então, era necessária uma amostra relativamente grande do material a ser analisado, o que nem sempre era possível devido ao fato de que os contraventores também detinham essa informação, levando – os a ter um cuidado maior com as possíveis provas, a fim de evitá-las), entretanto, os últimos avanços no tocante ao DNA mitocondrial propicciaram uma analise feita do material biológico presente na impressão digital uma vez que uma só célula possui mais de 5.000 cópias deste tipo de DNA.

Para a realização destes testes é de extrema importância o reconhecimento de matéria orgânica no local do crime, e muitas vezes só é possível com o uso de reagentes químicos, o luminol (3-aminoftalhidrazida (C8H7O2N3)), por exemplo, é uma substância revolucionária na área forense, pois possibilita o reconhecimento de sangue no local mesmo depois de uma possível limpeza, tal propriedade é possível devido ao fato de ele reagir com substâncias presentes no sangue e em exposição à luz negra, ele fica fluorescente azul.

Outro exemplo, muito próximo, e pode ser considerado forense é o teste do bafômetro[10] e o teste antidoping que tem uma teoria de funcionamento totalmente baseada em reações químicas e é usada para o cumprimento da lei.

Fica claro, então, a complexidade deste assunto uma vez que a química forense usa-se de respaldo legais e necessita uma capacidade maior do profissional da área, pois ele não tem ao certo qual será a situação e qual subárea da química será necessária para o recolhimento e processamento das provas, exigindo discernimento para a escolha precisa do método de acordo com as variações possíveis de local do crime, superfície a ser analisada, etc. O estudo da química forense é, então, não só uma ciência complexa, mas um estudo de suma importância para a sociedade.

Bibliografia
 

FERNANDES DE FARIAS, R.F.F. Introdução à Química Forense. 2ª. Ed. Campinas, SP. Editora Átomo, 2008. Páginas
17 a 89.
FELTRE, R. F. Fundamentos da Química. 4ª. Ed. São Paulo: Editora Moderna, 2005. Página 540.
ECO, U.E. O Nome da Rosa. Tradução de Aurora Bernardini e Homero Freitas de Andrade.  27ª Ed. Rio de Janeiro. Nova fronteira, 1983. Páginas
567 a 562.
SANTOS LEAO DE AQUINO, R.S.L.A., JACQUES MOREIRA DE ALVARENGA, F.J.M.A., AZEVEDO FRANCO, D.A.F. e CAMPOS LOPES, O.G.P.C.L. Historia das sociedades, das sociedades modernas às sociedades atuais. 32ª ed. Rio de Janeiro. Ao livro técnico, 1995. Páginas
79 a 81.
CHEMELLO, E. Química Virtual, Dezembro 2006. Páginas
1 a 10.


[1] Eco, Umberto – O nome da rosa - 27ª edição, p.562 – Parte da citação de um monge envenenado.

[2] O renascimento foi um período onde suas principais manifestações ocorreram de 1490 a 1560. “O renascimento foi a expressão do movimento humanista cãs Artes, Letras, Filosofia, Musica e Ciências, constituindo-se em um “prodigioso desabrochar da vida sob todas as suas formas” (adaptado, MOUSNIER, R., op. Cit., p. 17)

[3] (3 de novembro de 1633, Capri - 5 de novembro 1714, Pádua) foi um médico italiano, precursor no uso de um derivado do quinino no tratamento de malária. E fundador da medicina ocupacional.

[4] Tradução para o português da obra de Ramazzini, em sua 3ª edição, publicada pela fundação Jorge Duprat Figueiredo de segurança e medicina do trabalho.

[5] Mateo José Bonaventura Orfila (1787-1853) Proeminente toxicologista e químico, considerado por muitos como o pai da toxicologia (tirado de Introdução à Química Forense, Robson Fernandes de Farias).

>[6] Poderoso agente oxidante que reage com a-aminoácidos, entre pH 4 e 8, originando um composto púrpura, que não apresenta sempre a mesma intensidade de coloração (Os aminoácidos prolina e hidroxiprolina são exceções pois apresentam coloração amarela).

[7] Provou cientificamente o que Herschel e Faulds já haviam notado: a imutabilidade das impressões digitais, ou seja, nenhum individuo tem a mesma impressão digital.

[8] Impressões digitais, em português.

[9] Juan Vucetich Kovacevich (1858-1925) Croata, neutralizado argentino, em 1891 elaborou um sistema de identificação de impressões digitais, e descreve seu sistema de classificação no livro Dactiloscopia comparada, publicado em 1893.

[10] Teste usado na identificação do nível de embriaguez. Constitui basicamente (os mais antigos) da reação de K2Cr2O7 e ácido sulfúrico com o álcool, formando, dentre outras, uma substância que muda a coloração inicial do bafômetro e indica o nível de embriaguez de acordo com a coloração (do alaranjado ao verde).


Autor: Daniele Cristina de Oliveira Faria
Co-autores: Michele B.A. Ribeiro; Vinícius M. Dalbelo

2ª Série do Ensino Médio

Colégio:  Colégio Técnico de Lorena

Cidade de Lorena

Professor: George Jackson de Moraes Rocha

 

Reagentes Forenses e Elucidação Criminal

 

Atualmente, com o progressivo desenvolvimento das ciências em geral e as constantes situações de ilegalidade que assolam a sociedade fez-se necessário a reunião de técnicas especificas para a resolução de inúmeros crimes de diversas naturezas. A elucidação de operacionalidades que estão vinculadas à  justiça mostra a complexidade dos delitos a partir de sofisticadas atuações tanto do âmbito investigativo quanta dos agentes que geram o problema. Para isso, o surgimento de uma ciência voltada a pericia criminal partindo da análise sistêmica das evidencias, tornou-se importante. Essa ciência denomina-se forense, que se constitui de diversas vertentes disciplinares focadas na averiguação dos dados coletados na cena do crime. Estas que constituem o amplo arsenal de dados e informações são, em sua maioria, ciências que apresentam uma gama de conhecimento técnico e específico. Dentre aquelas mais destacadas pode-se citar, como por exemplo, as áreas de farmácia e bioquímica responsáveis principalmente pela averiguação de resquícios de moléculas orgânicas, como o DNA. Por fim, a química se destaca por sua credibilidade e rígidas diretrizes de análise, utilizando desde quimiluminescência até o manuseio de equipamentos que dispõe de alta precisão tecnológica, operados a partir de reagentes.

No Brasil, ha uma nítida deficiência de investimento público e privado para o setor de perícia criminal, desvalorizando-o em relação a outras áreas subsidiadas pelos órgãos responsáveis. Existem pois, manipuladores dos recursos "forenses" que se situam em São Paulo, Porto Alegre e Brasília. Por outro lado, a carência, a legislação e a falta de capacitação dos profissionais demonstram que o país não apresenta potencial para a propagação da ciência forense como meio de resolução de crimes. Contudo a frequência de análises para determinados casos tem se ampliado com a valorização de novos profissionais do ramo, dentre os quais podemos destacar a identificação de substâncias lícitas e ilícitas, autenticidade de documentos e casos particulares de crimes em que ocorra o falecimento da vitima.

Atualmente, no Brasil, propagou-se o emprego de equipamentos "forenses", produzidos em grande escala. Desde o estabelecimento da Tolerância Zero como princípio de autuação para motoristas alcoolizados, o etilômetro, também conhecido por bafômetro difundiu-se e até mesmo vulgarizou-se. Este aparelho é um instrumento apto a detectar quantitativamente a concentração de álcool, a partir da expiração. Neste caso, o álcool detectado é etílico, através de reações químicas entre este e um reagente específico denominado dicromato de potássio em meio acidificado com acido sulfúrico. Ha uma peculiaridade relacionada ao cromo, pois na realidade ele forma íon cromato que apresenta coloração amarelada. O íon adquire oxidação +3 tornando-se verde. Portanto, a partir do nível de coloração do bafômetro pode-se medir a quantidade de álcool no organismo.

Os químicos forenses devem se adaptar para solucionar casos em que drogas mais modernas apareçam, como as anfetaminas, metanfetaminas e os alucinógenos sintéticos. Fica cada vez mais difícil saber se uma vítima de overdose foi alvo de um assassinato, cometeu suicídio ou foi porque aquela substância era um mero componente de sua medicação regular.

No caso da verificação de drogas, geralmente utilizam-se reagentes que adquirem determinada coloração em presença de algum tipo de entorpecente. Como, por exemplo, a cocaína e a heroína que podem ser detectadas através de uma solução de tiocianato de cobalto. Além dos testes que implicam na mudança de coloração, existem outros tipos que exploram as propriedades dos compostos, como: solubilidade e ponto de fusão.

Em homicídios, para ter uma idéia de quando houve a morte, sabe-se que são cinco ácidos liberados pela decomposição da gordura e músculos. Ou, ainda pelo necrochorume que e uma solução rica em sais minerais e de substâncias orgânicas de odores degradáveis, liberada por cadáveres em putrefação. Esse líquido possui coloração castanho-acinzentada, cheiro forte, viscoso. Mas se, ao invés do corpo, tiver apenas o esqueleto é possível analisar a concentração de sete compostos inorgânicos liberados dos ossos para o solo, como o sódio, potássio, e cálcio. A decomposição humana depende da umidade do ambiente e do tipo de solo em que o cadáver é encontrado. A mumificação é favorecida pela ação microbiana impedida em um ambiente de ar seco e quente. Mas, quando o ar é úmido em demasia, favorece a saponificação, onde a gordura adquire um aspecto céreo. Para ocorrer isso, os solos são argilosos, porosos, impermeáveis ou pouco permeáveis quando saturados em água.

Assumindo outra vertente, temos os crimes cometidos com o auxilio de arma de fogo. Essas deixam vestígios tanto em quem recebe o projétil como em quem o dispara.

Desta vez a questão é conhecer o componente da mistura detonante, os componentes da pólvora de cada arma, por exemplo, algumas são compostas de pólvora negra. Conhecendo os componentes, é possível reconhecer os resquícios que provavelmente serão encontrados. A forma de reconhecimento pode ser feita tanto com o auxílio de uma lupa quanto de um reagente específico. A eficiência do método neste caso é dada pela rapidez do processo, pois muitas substâncias expelidas pelo projétil são facilmente oxidadas pelo oxigênio.

Para o auxilio dos químicos forenses, um reagente químico amplamente usado na detecção de sangue no local do crime e o Luminol, reagente orgânico em pó. Para ser usado, dissolve-se esse pó em Hipoclorito de Sódio, um hidróxido (-OR) e outros compostos químicos. A reação ocorre principalmente pela ação do hipoc1orito e do luminol. Borrifando essa mistura no local do crime, o ferro (presente na hemoglobina do sangue) reage com a mistura, atuando como catalisador da reação, isto é, acelera a velocidade desta e faz a reação brilhar muito mais. Com essa reação acontece um efeito chamado quimiluminescência que colore as manchas de sangue de azul ou verde fluorescente.

Porém, o Luminol também brilha quando reage com água sanitária comum, ou com batata, feijão, nabo, cebola, repolho, tomate. Dessa forma, a mistura é aquecida, pois apenas o sangue brilha na solução aquecida. E, a respeito do sangue, saber se ele é humano ou animal, são feitos os testes de Tipagem sanguínea, Fator Rh e DNA.

Esse reagente químico, geralmente não resolve casos de assassinato, mas ajuda a conseguir informações valiosíssimas a respeito do crime

É  necessário o uso de luz ultravioleta para a cor "fluorescer" e que o ambiente esteja fechado e escuro, o que dificulta quando o crime acontece em ambientes abertos, o efeito luminoso dura apenas 30 segundos.  Além disso, o maior problema de se usar muito o luminol é porque pode destruir outras evidencias do delito. É  por essa razão que ele só é utilizado na cena do crime quando outras opções já foram descartadas, ou outros dados já foram coletados.

O reagente não é caro, mas para o Brasil vem através de importação. Por esse motivo o professor Carlos Lopes, do laboratório de Síntese e Análise de produtos Estratégicos no Departamento de Química da UFRJ  desenvolveu, em 2001, a "versão brasileira" do reagente que usa uma síntese do luminol, a partir de nióbio e seu pentac1oreto, compostos no qual o Brasil é o maior exportador.  Esse "novo" luminol possui muitas vantagens como facilitar a detecção de sangue até mesmo em concentrações de ppb (parte por bilhão) enquanto luminol convencional está na faixa de ppm (parte por milhão). Seu custo é baixíssimo, cerca de 10%  do importado e não é preciso que haja luz especial para ocorrer a cor fluorescente. Esse novo reagente só precisa de escuro para agir e reage com o ferro e o cobalto.

Contudo, outros reagentes também podem ser empregados para dar cor ao invisível. Um exemplo e o Genipim, extraído do fruto da Gardênia jasminoides que é um agente revelador de impressões digitais poderoso, que quando brilha, emite luz azul que se tornam ainda mais nítida com uma luz amarela.

Além disso, a química forense também assiste a autenticidade de documentos.

Por exemplo, em um dos laboratórios do Instituto Nacional de Criminalística a (INC) da Policia Federal, peritos analisam documentos - cheques, notas fiscais, certidões de nascimentos entre outros - e determinam processos e métodos utilizados nas falsificações de documentos.  O nome para esse procedimento é documentoscopia. No Laborat6rio de Documentoscopia foi concluída a prova de que o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, que foi cassado, recebeu R$ 20 mil para renovar a concessão do restaurante da Câmara.

O reconhecimento do profissional forense pode ser visto em rede nacional, através de programas de TV, que reproduzem de maneira eletrizante o dia-a-dia de um investigador forense. Porém, observa-se determinadas situações irreais em relação a solução de crimes, por exemplo, a rapidez com que as análises são feitas. Levando em consideração que um simples teste de DNA pode perdurar por semanas, na TV ele ocorre da noite para o dia.

As verificações de cenas de crimes e o trato com as amostras obtidas demandam muito cuidado, e em hipótese alguma podem ser violadas. Outro detalhe importante é que um cientista forense deve apenas se concentrar nas amostras e nas evidências, ele jamais entra em contato com os suspeitos.

Apesar de todas as parcialidades, programas de investigação médica ou de investigação criminal representam um elo entre os cientistas forenses e os leigos. Tal ligação pode implicar na formação de novos profissionais para a crescente demanda do mercado.

O investigador forense deve ter uma ampla rede de conhecimento, pois na realidade nada ocorre de maneira isolada, existe uma relação de interdependência entre os fatos. Este vasto conhecimento é que permite uma analise confiável e resultados satisfatórios.


Bibiografia

http://www.apcf.org.br/%C3%81 reaberta/ APCFNoticias/tabid/293/ctl/Details/ mid/61 O/ItemID/7 5 8/Default.aspx

http://www.mundovestibular.com.br/articles/1148/1/LUMINOL/Paacuteginal.ht ml

http://dererummundi.blogspot.com/2007 /l1/química- forense-o-algodo-no-engana.html

http://www.parana-online.com.br/canal/tecnologia/news/174087 /

http://super.abril.com.br/superarquivo/2002/conteudo _120031.shtml

http://quimicaforense.com.br/

http://www.abq.org.br/cbq/2007/trabalhos/13/13-741-211.htm

http://pt. wikipedia.org/wiki/BafOloC3 %B4metro



Autor: Lucas dos Santos Almeida

Co-autores: Felipe S. Graças; Inara C. Silva; Alexandre V. Carvalho; Tamara R.M. Santos

2a Série Ensino Médio


Colégio: Objetivo Mogi Guaçú


Cidade de Mogi Guaçú


Professor: Waldemir Rossini



Diário de investigação


Tudo começou naquela manhã chuvosa logo após a prova de matemática. Era chegada a hora da aula dupla de química, e eu estava envolvida em uma das conversas deprimentes que ocorriam depois de uma prova como essa. Isso se puder chamar de conversa todo o conjunto de guinchos e grunhidos sem sentido que se ouvia pela sala.

– Acho que o meu cérebro

entrou em combustão! – comentou alguém que andava de cabeça baixa, se jogando, logo depois, na carteira mais próxima.

– E o meu? – replicou outro com uma voz de condenado à cadeira elétrica – Parece que vai explodir!

       As teses sobre a ação catalisadora da aritmética na decomposição de cérebros humanos logo cessaram com a entrada do professor na sala.

        Era um tipo baixo e atarracado, trazendo uma mochila a tiracolo na qual, sem dúvida, seria possível encontrar o sempre presente suco de maçã e um pedaço de pudim que comia, invariavelmente, no intervalo. Esse pudim, vale dizer, era o motivo do apelido pelo qual era conhecido o Sr. Thompson, sendo que seu nome verdadeiro permanecia na obscuridade.

       Como de costume, ele entrou e colocou a mochila sobre a mesa, começando, em seguida, a escrever na lousa. Peguei meu caderno, esperando pelas próximas funções orgânicas, mas o mínimo que se pode dizer é que fiquei surpresa com o que li. Será que o meu cérebro também estava se dissolvendo?

“Hamlet” – “A Cartomante” – “Otelo”

Eu não estava enganada. Olhei para o lado e recebi de volta, em resposta, uma meia dúzia de olhares de incompreensão. Por que estaria o professor de química escrevendo o nome de peças de Shakespeare e de um conto de Machado de Assis na lousa?

Sem maiores explicações, ele dividiu os grupos e pediu que lêssemos os respectivos livros para dali a duas semanas. A aula continuou sem mais surpresas.

>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>

“Hamlet” me pareceu uma leitura um pouco complicada de início, mas o enredo logo me conquistou. Falava de um príncipe que queria vingar a morte do pai assassinado.

“A cartomante”, por sua vez, é um conto que retrata um caso de traição que resulta no assassinato da esposa e de seu amante pelo marido traído.  

“Otelo” é, também, um drama cujo final se dá com mais um assassinato movido, desta vez, por ciúmes infundados.

>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>

Mas qual seria a relação entre os livros e a química, afinal?

A aula dupla de química chegou como as respostas às minhas indagações.

Quando o professor entrou, eu podia sentir as minhas têmporas latejantes de curiosidade. Depois do que pareceu uma eternidade, ele começou a falar e, a cada palavra, o porquê de tudo pareceu se esclarecer em minha mente.

     Aparentemente ele queria que, através da utilização de procedimentos de criminalística e química legal, reuníssemos as informações dos assassinatos existentes apresentando certos indícios de sua ocorrência em verdadeiras investigações periciais.

  >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>

A cena do crime estava montada, o pai de Hamlet jazia morto. Ao lado de seu cadáver, permanecia uma taça de vinho pela metade cujo líquido escorria pelo rosto do defunto.

Todo o grupo deveria saber: estávamos diante de um envenenamento, algo fora colocado naquela bebida com o único intuito de ocasionar a morte de alguém.

Nossas conclusões eram confirmadas pelo enredo do livro, restava-nos agora, no entanto, procurar por provas conclusivas.

Segundo as evidências observadas na cena do crime, como amostras do vinho ingerido, e outras encontradas no corpo da vítima, pode-se descobrir o tipo de veneno utilizado para tal.

A área da química forense responsável pelo estudo das substancias tóxicas é chamada de química toxicológica, a qual estuda a capacidade de uma substância provocar danos a um sistema biológico, assim como sua dose letal mínima (MDL), ou seja, a dose capaz de matar um organismo. Essa área tira conclusões como a relação entre a dose do agente tóxico e o grau de resposta do sistema biológico, uma vez que o efeito dos venenos não pode ser testado experimentalmente em seres humanos.

As dosagens nocivas podem ser determinadas pela análise da curva sigmóide, formada em gráficos como este:

Quanto ao crime, entre os principais venenos que podem ter sido utilizados podemos citar o cianeto de potássio (KCN), que reage com o suco gástrico (que tem em sua composição o HCl) liberando gás cianídrico (HCN), um sal formador de um ânion de ácido muito fraco e de cátion de base muito forte, sofrendo hidrólise e liberando cianidreto, cujo íon reage com o ferro III presente no organismo, fazendo com que ocorra a paralisação da respiração celular. Para a identificação do cianeto, realiza-se uma reação com o azul da Prússia.

     Outro agente pode ter sido, por exemplo, o Azinhavre (zinabre), resultante da oxidação do cobre e altamente tóxico.

    A análise das digitas presentes na taça pode nos revelar, nas futuras análises comparativas, os principais suspeitos do crime.

>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>

    Como no conto não temos detalhes da cena do crime, podemos fazer suposições que seriam comprovadas em uma investigação criminal. Sabemos que os brutais assassinatos de Camilo e Rita  resultaram de disparos de arma de fogo acionados por Vilela, à queima-roupa, mas, se não obtivéssemos tais dados com o enredo do livro, poderíamos  depreender essas  evidências com uma minuciosa perícia.

    As identidades das vítimas poderiam ser reveladas por testes de DNA ou pela leitura de impressões digitais, realizada em uma superfície suspeita através da suspensão aquosa de nanopartículas de ouro e íons citrato. A do homicida poderia ser confirmada se os peritos o examinassem borrifando Rodizonato de Sódio em suas mãos ou vestes, para identificar traços de chumbo, ou seja, de pólvora recente. Como os corpos estavam na cena do crime, seria possível fazer algumas avaliações de ensaios químicos residuográficos precisos e determinar a distância entre o atirador do projétil e as vítimas, e até mesmo de qual direção a arma foi disparada a partir de uma equação com esta:

-

Se a situação fosse diferente, e a cena do crime estivesse limpa, sem nenhum vestígio perceptível à primeira vista, os criminalistas utilizariam uma substância chamada Luminol (C8H7O3N3). Tal mistura seria borrifada em um local suspeito e evidenciaria a presença de sangue por meio de uma reação de oxidação, a qual, liberando fótons de luz em um ambiente escuro, destacaria de forma brilhante o composto sanguíneo antes oculto. E ajudaria os investigadores a localizar o ponto de ataque e até mesmo a sentenciar o tipo de arma utilizada, comparando os sinais de respingo registrados no local.

Os recursos relatados foram encontrados em um livro que, emprestado de uma biblioteca próxima, tratava de perícias criminalísticas. Ele continha várias curiosidades sobre balística, documentoscopia, datiloscopia e química legal.

 >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>

Nosso grupo se reuniu na última semana para a resolução do caso Otelo, no qual Desdêmona é assassinada por meio de asfixia. A partir desse enredo, resolvemos utilizar para conceituar essa ação criminal recursos como a internet e, através de várias pesquisas em alguns sites, encontramos algumas formas de sufocamento, gases asfixiantes e procedimentos que interrompem os canais respiratórios, facilitando o diagnóstico. As pesquisas ainda nos apresentaram diversas técnicas que podem ser aplicadas na cena do crime, como a análise de objetos e vestígios, proporcionando múltiplas interpretações que mais tarde resultarão em provas para apontar possíveis motivos ou os próprios criminosos.

Após as pesquisas feitas, e debates entre os integrantes do grupo, chegamos a algumas possíveis conclusões sobre o homicídio de Desdêmona. Sabemos que a musa sofreu asfixia, a qual resultou seu óbito. Asfixia pode ocorrer de várias formas químicas ou mecânicas. A asfixia química é provocada pela inalação de gases de ação sufocante (Cl2, SO2, NO2), anemiante (CO), hemolítica (AsH3, PH3, SbH3) e histotóxica (HCN,H2S). Gases como o metano (CH4) e o gás carbônico (CO2), que também fazem parte do grupo de gases asfixiantes, podem ser tóxicos se inalados em altas concentrações.

A asfixia mecânica, por sua vez, consiste na supressão da respiração e, conseqüentemente, no impedimento das trocas de gases. Desdêmona sofreu de asfixia direta, decorrente da obstrução das vias aéreas respiratórias, ou seja, ela sofreu um sufocamento provocado por um travesseiro. Análises feitas em uma ficcional perícia comprovariam a presença de cianose, coloração azul na pele e em membranas mucosas, causada pelo excesso de hemoglobina reduzida, provocada pelo acúmulo de CO2 no sangue, principalmente nos glóbulos vermelhos. Presenciaríamos ainda manchas puntiformes avermelhadas, típicas de hemorragias, constatadas na região da face e do pescoço, chamadas de manchas de Tardieu.

Na investigação criminal, o perito, a partir de indícios e de averiguações, poderia captar possíveis materiais genéticos, como a saliva de Desdêmona ou um fio de cabelo acidentalmente deixado por seu homicida, Otelo, e, através de genotipagens do DNA nuclear, descobrir ou confirmar a presença dessa pessoa na cena investigada.

>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>

      A partir desses procedimentos e das evidências, encerramos com sucesso nosso caso criminalístico. Na semana seguinte apresentamos nossas conclusões, que foram complementadas pelas observações de outros grupos.

     Todo o trabalho foi finalmente justificado quando nosso professor explicou o motivo de ter pedido tal relatório curioso. Ao que parecia, a química forense era o tema da redação da Olimpíada Brasileira de Química desse ano e, depois de toda essa investigação, estávamos, sem dúvida, mais que preparados para escrevê-la.  

   

Bibliografia

http://www.lfg.com.br/material/DELEGADOSP_ASFIXIOLOGIA_FORENSE_QUESTOES.ppt
http://intervox.nce.ufrj.br/~diniz/d/direito/ou-Resumo_Medicina_Legal.doc
http://quimicaforense.com.br/
http://bdjur.stj.gov.br/dspace/bitstream/2011/3184/1/Investiga%C3%A7%C3%A3o_Pericial_Criminal.pdf



Autor:  Guilherme Zainotti Miguel F. Bottino

2a Série Ensino Médio

Colégio: Etapa

  Cidade de São Paulo

Professor: Rubens Conilho Junior

 

Visão Além do Alcance: o Papel da Química nas Questões Judiciais

 

                Num mundo tão moderno, onde os criminosos desenvolvem maneiras cada vez mais criativas de driblar a lei, torna-se necessário deixar de lado uma ciência pericial primitiva e partir para uma investigação ainda mais criativa que as novas técnicas de contravenção. Nesse contexto surge a ciência forense – ciência aplicada a questões legais –, contando muito com a ajuda da Química, que deixa de fazer o papel de ciência experimental de aplicação em sua maioria industrial, e passa a utilizar seu conhecimento na análise dos crimes. A Química Forense parte sempre do princípio de que, por mais que as evidências físicas e visíveis possam ser extremamente minimizadas, todo e qualquer tipo de crime deixa vestígios. Deve-se então buscar as provas não mais a partir de mera observação, e é justamente onde entra o trabalho do químico forense. Cabe a ele coletar e analisar tudo aquilo que pode conter esse vestígio, podendo constituir numa prova substancial contra o criminoso em questão.

Embora esteja num ramo cujo desenvolvimento é particularmente recente (surgiu como área oficial nos Estados Unidos, nos anos 50), a Química Forense já conta com técnicas de identificação de substância bastante avançadas, amplamente empregadas em quase todos os processos dentro dos laboratórios, altamente tecnológicas e automatizadas. Existe também atuação dentro do meio popular, e os exemplos são em sua maioria, polêmicos, como os testes de drogas e alcoolismo (Blue Test e bafômetro, por exemplo). A maioria dos laudos periciais consiste na extração e identificação de algum tipo de substância, com o uso de meios padronizados.

                No que tange às análises laboratoriais, partindo de uma amostra já coletada da cena do crime, o primeiro passo é a extração do objeto de análise. Princípios ativos de narcóticos e cosméticos, metais pesados retidos na mão de um suposto atirador e amostras de tintas em roupas ou cabelos são só alguns exemplos desse objeto de análise buscado. Para tal, existem métodos padronizados de extração, sendo as mais populares e utilizadas as extrações Líquido-Líquido (ELLs) e de Fase Sólida (EFSs). A primeira, utilizada na extração de princípios ativos orgânicos, consiste na aplicação básica do conceito de solubilidade: é utilizado, em sistema com pH e temperatura controlados, um solvente com o qual o analito – parte de interesse na amostra – possui certa afinidade, de maneira a formar na mistura duas fases: uma aquosa e outra orgânica (contendo o analito). Pode-se separá-las, então, a partir de uma destilação ou de um funil de decantação, o que faz dela o método mais simples. Por outro lado, a fim de se obter um maior refinamento na separação, deve-se recorrer a uma EFS: uma maneira fácil de explicá-la seria imaginar uma coluna dividida em duas fases separadas por discos de polímeros: uma delas funcionaria como uma espécie de reservatório, e na outra, revestida por líquido sorbente, seria operada a extração. Inicia-se com uma certa solução que sofre condicionamento (geralmente um tampão ou um solvente) para melhor controle das condições do meio, preparando-o para a posterior adição da amostra contendo analito. Depois da adição, toda a fase líquida é drenada, ficando retida a fase sólida. No caso de haver contaminação, pode ser realizado um processo chamado clean-up (limpeza) na amostra. Restando depois apenas o analito sólido, é adicionado eluente na medida necessária e a solução final é extraída. A EFS é muito mais utilizada hoje em dia por vários motivos, entre eles a economia de solvente – utiliza bem menos que a ELL – e a possibilidade da sua automatização, eliminando os erros do manipulador humano, além, é claro, de ter maior qualidade.

                Segue-se então a fase de identificação de substâncias, e entra em cena uma das técnicas já consagradas mais usadas nos métodos laboratoriais: a Cromatografia. Embora o nome sugira que tenha a ver com as cores, os métodos mais avançados usados hoje em dia independem dessa propriedade. Trata-se de uma análise de caráter físico-químico que consiste basicamente num sistema com duas fases imiscíveis: uma estacionária e outra móvel. Dependendo do estado dessas fases, existem variadas técnicas. A mais primitiva delas – Cromatografia Planar Simples – consiste numa fase estacionária sólida (papel absorvente ou coluna de sílica, por exemplo) e numa fase móvel líquida (solvente). A fase móvel vai, por adsorção, avançando sobre a fase estacionária, levando consigo o analito, que se separa em várias fases que alcançam níveis diferentes, segundo sua concentração e afinidade com o solvente, entre outros parâmetros. Pode-se então comparar o resultado com um padrão e tirar uma conclusão.

Uma aplicação extremamente refinada desse princípio é a chamada Cromatografia Planar de Camada Delgada (CCD): Numa placa preparada geralmente com composto de sílica, são feitas várias cromatografias planares ao mesmo tempo, em ambiente fechado e com possibilidade de usar uma fase móvel gasosa. A placa passa, então, por um revelador que é capaz de identificar curvas incolores e muito sutis, invisíveis a olho nu, tornando-a um método eficiente para fins laboratoriais. Esse revelador, então, identifica as substâncias a partir da razão entre a altura da coluna de alguma fase e a altura alcançada ao final pela fase móvel, comparando-as com valores já tabelados ou obtidos com cromatografia do composto puro no mesmo processo.

A mais popular das técnicas, porém, é um processo denominado Cromatografia Gasosa de Alta Resolução (CGAR). Um tipo de Cromatografia de Coluna extremamente avançado, ela é capaz de identificar em escalas de nano a picogramas (10-9 a 10-12) os componentes de amostras voláteis. O Aparelho de CGAR consiste basicamente numa coluna extremamente fina (fase estacionária), porém comprida, onde é injetado o analito gasoso e, logo em seguida, um gás de arraste inerte a essa fase (fase móvel). O gás fará com que o analito passe pela coluna, podendo ser retido em vários pontos da mesma, com intensidades diferentes, de acordo com a afinidade do analito com a fase estacionária, entre outros parâmetros. Ao final da fase, um detector analisa a quantidade dos compostos que chegam ao final da coluna ao longo do tempo, e imprime um gráfico quase instantaneamente. Exemplos da larga aplicação desses métodos são as análises para detecção de drogas por meio físico-químico, o chamado Exame Químico-toxicológico. A vulga Maconha (Cannabis sativa), por exemplo, de princípio ativo Tetrahidrocanabinol, pode ser facilmente identificada com uma CCD em fase móvel de tolueno-clorofórmio, provendo um resultado confiável em pouco tempo. De maneira análoga ocorre com drogas como a Cocaína, por exemplo, porém com diferentes reveladores e fases móveis. A partir das técnicas descritas é que se resolve a maioria dos casos.

Contudo, para efeitos de economia de recursos, pode-se preferir uma análise química, ao invés de físico-química: testes colorimétricos. Esses testes consistem em reações entre a substância-problema e um chamado reagente colorimétrico, que geralmente modifica a cor do meio reacional no resultado positivo. Exemplos clássicos são os testes entre Canabinóides e compostos como Duquenois (positivando na presença de cor azul) e Echtblausalz (positivando na presença de cor vermelha), além de exemplos como o famoso Blue Test: Reação da Cocaína com Tiocianato de Cobalto, que torna o meio azul no caso de teste positivo, graças à liberação de íons Cobalto (daí o nome). Pode-se destacar também o polêmico bafômetro, simplesmente um meio reacional ácido contendo íons dicromato (que dão cor laranja ao meio), que em contato com o etanol oxidam-no, formando íons Cr3+, que tornam o meio ligeiramente esverdeado.

                O Método químico com reações colorimétricas é largamente aplicado nas investigações balísticas. No momento do disparo de uma arma são expelidos, além do projétil, diversos resíduos sólidos, como Chumbo, Antimônio e Bário, provenientes do próprio projétil, da mistura iniciadora ou da pólvora. Parte dos resíduos sólidos permanece na arma, mas o restante é projetado para fora, atingindo partes do corpo e roupas do atirador, além de se espalhar pela cena do crime. Quando uma constatação física (observação) desses resíduos é impossível, deve-se partir para um método químico, chamado de Exame Residuográfico. O teste mais empregado consiste na adição de Rodizonato de Sódio, em meio tamponado, à amostra retirada da mão de um suspeito. O teste positivo denotará uma coloração avermelhada onde houver resíduo de Chumbo. Esse teste é muito polêmico, por alguns motivos: ele não detecta com eficiência Bário e Antimônio, e não consiste em prova máxima de que o suspeito foi atirador, porque o Chumbo das mãos pode estar associado a partes do carro, Bário a alguns cosméticos, e o Antimônio a fibras de poliéster. A vida pessoal deve ser, portanto, analisada. Por isso, hoje em dia, microscopia eletrônica de varredura está se popularizando cada vez mais na detecção de Chumbo.

                A Química Forense está presente também nos casos de falsificação de papel-moeda, com uma atuação dupla: desenvolvimento de técnicas que previnem a falsificação, e investigação e constatação da mesma. Tomando por exemplo o Real brasileiro e o Dólar americano, existem várias provas conhecidas dessa atuação, que, no fundo, não passam de fenômenos químicos: tinta fotossensível, pontos da nota que se destacam sob luz negra, papel de fibra sintética e microimpressão com tinta magnética, que não adere totalmente ao papel, para formar alto-relevo. Tudo isso para dificultar a falsificação. Dentro dos métodos de detecção dessa falsificação existem vários exemplos, às vezes métodos tão simples quanto uma “Caneta Anti-falsificação” – uma caneta com tinta de iodo, que muda sua coloração quando em contato com a celulose dos papéis comuns, ficando incolor em contato com a fibra genuína – ou talvez tão bem elaborados quanto um preliminar exame eletrônico contra Negatoscópio utilizando tintas reagentes e posterior Cromatografia de amostra de tinta da nota falsa.

                A contribuição da Química dentro da área das Ciências Forenses foi essencial para a obtenção de respostas rápidas para questões que antes exigiam muito tempo de investigação e retornavam resultados muito duvidosos. Um período curto num laboratório de criminalística atualmente pode resolver um crime a partir das evidências mais improváveis, graças à aliança entre a tecnologia e o conhecimento aqui abordados. Embora, por um lado, ainda falte muito avanço, é uma área em constante crescimento e aperfeiçoamento, e é impossível fechar os olhos a tamanhas contribuições, que auxiliam dia após dia na manutenção da lei. 

Bibliografia

Química Forense - http://alkimia.tripod.com/curiosidades/forense.htm
Discovery Brasil/Ciência Forense - http://www.discoverybrasil.com/guia_crime/crime_pratica/index.shtml
Métodos de extração de compostos(Artigo) - http://www.scielo.br/pdf/qn/v24n1/4452.pdf
Ciência Forense: Balística - http://www.quimica.net/emiliano/artigos/2007fev_forense3.pdf
Cromatografia: um breve Ensaio - http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc07/atual.pdf
SSP/SP – Falsificação - http://www.ssp.sp.gov.br/home/noticia.aspx?cod_noticia=2858
Química Analítica Qualitativa - Arthur I. Vogel
Agradecimento a Hélio Hilário Ferreira, Engenheiro Químico formado pela Escola Politécnica da USP



Autor:  Idel Reis Waisberg

2a Série Ensino Médio

Colégio: Bandeirantes  

  Cidade de São Paulo

Professores: Lilian Siqueira e Fabio Siqueira

 

A Química Forense e a busca pela verdade

 

A utilização de conhecimentos científicos para a elucidação de crimes é tão antiga quanto a própria humanidade. Isso porque o homem, sempre que possível, procura basear suas decisões não apenas em meras especulações, mas sim em provas e fatos concretos. Daí a importância da chamada Química Forense: ao recorrer a reações químicas e propriedades específicas dos milhares de compostos existentes, o homem é capaz de reconstruir o passado e elevar exponencialmente suas chances de atingir uma decisão verdadeira e, portanto, inquestionável.    

Embora hoje a Química Forense esteja atrelada a diversas funções, seu objetivo inicial foi o de elucidar crimes de assassinato e envenenamento. Estudiosos começaram a perceber que determinadas substâncias possuíam afinidades químicas entre si e por isso participavam de reações específicas, o que permitia a identificação de compostos. Por exemplo, em 1836 o escocês James Marsh desenvolveu um método para o reconhecimento de arsênio, um dos principais princípios ativos de venenos. O método consiste em acrescentar à amostra suspeita uma combinação do metal zinco com ácido sulfúrico. Se realmente houver óxido de arsênio na amostra, o zinco reduzirá o As+3 a As-3, que em meio ácido acaba por formar arsina (hidreto de arsênio, AsH3), de acordo com a reação de oxi-redução abaixo:

As2O3 + 6 Zn + 6 H2SO4 --> 2 AsH3 + 6 ZnSO4 + 3 H2O

Como a arsina é gasosa, ela é conduzida por um tubo até um recipiente onde é aquecida e se decompõe, com a decorrente formação de arsênio, um pó preto e brilhante. Para que não seja confundido com o antimônio (Sb), elemento da mesma família do arsênio e de propriedades físicas similares, o composto é posto em contato com hipoclorito de sódio (NaClO); caso ocorra reação, fica confirmada a presença de arsênio na amostra.

Atualmente, a Química possibilita a identificação de álcool e drogas, substâncias comumente associadas a crimes e transgressões. Álcoois são compostos orgânicos que apresentam o grupo hidroxila (-OH) ligado a carbono saturado (que faz apenas simples ligações). O álcool mais comum e encontrado em bebidas é o etanol ou álcool etílico (CH3CH2OH), que pode ser facilmente identificado com o uso dos chamados “bafômetros”. O ar expirado pela pessoa que utiliza o aparelho é canalizado para uma mistura de ácido sulfúrico, dicromato de potássio, água e nitrato de prata (este último como catalisador, substância que faz com que a reação química ocorra com uma velocidade maior, sendo no entanto regenerada no final do processo). Caso a pessoa realmente esteja alcoolizada, o ácido sulfúrico tornará o pH propício para a reação entre o etanol e o dicromato de potássio e haverá a formação dos produtos sulfato crômico, sulfato de potássio, ácido acético e água, de acordo com a reação:

2K2Cr2O7 + 3CH3CH2OH + 8H2SO4  -->   2Cr2(SO4)3 + 2K2SO4 + 3CH3COOH + 11H2O

 

A mudança de cor de laranja (íon dicromato) para verde (Cr3+) denota a ocorrência da reação, que além de qualitativa possibilita uma análise quantitativa, pois a mudança de cor está diretamente relacionada com o nível de álcool expelido.

No tocante à análise de drogas, a Química Forense mostra-se muito útil. Existem diversos tipos de testes para a identificação de substâncias desconhecidas, como testes de cores, cromatografias e espectrometrias de massa. Como exemplo de testes de cores, podemos citar a chamada Reação de Reichard: ao adicionar uma solução de 2-naftol (um tipo de fenol) e hidróxido de sódio a uma amostra desconhecida, uma coloração azul intensa indica a presença de cocaína. De forma análoga, a Reação de Marquis, que se baseia na adição de uma solução de formaldeído (um tipo de aldeído, pois apresenta um grupo aldoxila na ponta da cadeia) e ácido sulfúrico concentrado a uma amostra, permite identificar a presença de morfina caso apareça uma coloração vermelha, que passa lentamente para azul e para violeta.

A cromatografia é utilizada largamente em testes anti-doping (confirmação do uso de substâncias proibidas para os atletas). O processo ocorre em duas partes: a fase estacionária, na qual ocorre a fixação da substância em questão na superfície de outro material; e a fase móvel, na qual um solvente fluido (líquido ou gás) arrasta o material a ser isolado. Dependendo da densidade da substância, ela apresentará maior ou menor velocidade de migração e ficará aderida às superfícies em locais distintos. Logo depois, a substância é levada a um espectrômetro de massa, onde recebe um raio de elétrons que a quebra em vários íons. A maneira como ocorre essa quebra permite aos químicos analisar qual é a substância em questão.

Um dos compostos mais importantes para a Química Forense é o luminol (C8H7N3O2). Trata-se de um sólido cristalino branco-amarelado, solúvel em água e solventes orgânicos, que apresenta uma luminescência azul ao ser irradiado por “luz negra”. Para exibir essa luminescência, entretanto, o luminol deve ser ativado por um oxidante. Dessa forma, os criminalistas misturam luminol em pó com uma solução de, basicamente, peróxido de hidrogênio (que atua como oxidante), íons hidroxila (OH-), que tornam o meio alcalino, e um metal de transição. Porém, para que a luminescência seja intensa o bastante para ser vista, essa reação deve ser catalisada. Como os íons de ferro presentes na hemoglobina do sangue podem atuar como catalisadores dessa reação, os químicos conseguem descobrir se há vestígios de sangue numa determinada amostra, pois se a hemoglobina e a solução preparada entrarem em contato, o ferro da hemoglobina acelerará a reação e permitirá a visualização da luminescência.

            Uma das principais aplicações da Química Forense na elucidação de crimes é a chamada datiloscopia, isto é, a identificação de impressões digitais. A validade desse método consiste no fato de que, até hoje, não foram encontradas duas pessoas que tenham impressões digitais idênticas. A formação de impressões digitais quando se toca um objeto é decorrente do suor das mãos, composto em 99% por água e em 1% por substâncias sólidas, como aminoácidos (compostos nitrogenados), lipídios (gorduras), glicídios (açúcares), ácidos (graxos e lático), além de ânions cloreto, sulfato e fosfato e cátions sódio, potássio e ferro. Assim, a datiloscopia baseia-se em diversas técnicas, que por sua vez se baseiam na composição do suor. Entre esses métodos, destacam-se a técnica do pó, do vapor de iodo, do nitrato de prata e da ninidrina.

            A técnica do pó é mais simples e também a mais utilizada na datiloscopia. Baseia-se na aderência de diferentes tipos de pó (pó de óxido de ferro, pó de dióxido de manganês, pó de carbonato de chumbo) aos compostos da impressão. A interação entre o pó e a impressão deve-se principalmente às ligações intermoleculares de Van der Walls, sobretudo as ligações de hidrogênio (ligações extremamente polares e fortes entre o hidrogênio e elementos muito eletronegativos – flúor, oxigênio e nitrogênio).

            A tradicional técnica do vapor de iodo baseia-se no fato de que o iodo, um elemento da família dos halogênios (7 elétrons na camada de valência), é muito eletronegativo e, portanto, um potente oxidante. Ao ser aquecido e sublimar (passar direto do estado sólido para o gasoso), o gás retira elétrons dos compostos gordurosos que compõem o suor, que passam para uma coloração amarelo-amarronzada e revelam as impressões digitais. Essas últimas devem ser registradas rapidamente, pois o vapor de iodo é um composto volátil que rapidamente se desprende.

            O método datiloscópico do nitrato de prata baseia-se na reação deste composto com o cloreto de sódio (sal contido no suor), produzindo nitrato de sódio (solúvel) e cloreto de prata (precipitado branco):

AgNO3(aq) + NaCl(aq)  --> NaNO3(aq)  + AgCl(s)

Ao ser exposto à luz, o cloreto de prata termina por ficar cinza escuro (redução do íon Ag+ a Ag0 por ação da radiação ultravioleta), devendo a impressão ser fotografada assim que for revelada.

A ninidrina (C9H6O4) também pode ser utilizada para a revelação de impressões digitais. Pelo aquecimento, o grupo amino (NH2) de um aminoácido (composto excretado pelas mãos) reage com duas moléculas de ninidrina, produzindo um composto azul, denominado “púrpura de Ruhemann”, que revela a impressão digital latente.

            O mecanismo de formação desse composto azul depende da concentração de um intermediário, a hidrindantina. A temperatura considerada ideal para essa reação é de 70 graus Celsius. A fim de melhorar a qualidade da impressão revelada, pode-se utilizar cloreto de zinco, que produz um composto fluorescente, ou sais de európio (Eu) e térbio (Tb) - lantanídeos luminescentes - que permitem uma revelação mais nítida.

            A Química Forense é também muito utilizada na investigação de incêndios e explosões. Como o surgimento e a propagação do fogo ocorrem devido às reações de combustão, eles dependem de três fatores básicos, que constituem o chamado “triângulo do fogo”: um deflagrador (descarga elétrica, chama inicial etc), um comburente (normalmente o oxigênio) e um combustível. Contrariando o senso-comum, os químicos recomendam que se evite o uso de água para extinguir o fogo, uma vez que ela pode reagir com peróxidos e liberar gás oxigênio (comburente) ou com metais alcalinos e liberar gás hidrogênio, muito inflamável. Os bombeiros costumam utilizar o chamado pó químico (contido em extintores de incêndio), formado por bicarbonato de sódio, bicarbonato de potássio e bórax (borato de sódio, Na2B4O7·10H2O). O pó químico se decompõe em temperaturas elevadas conforme a reação abaixo:

2NaHCO3 (s) --> Na 2CO3 (s) + CO2 (g) + H2O (v)

Embora libere água (portanto não é recomendado para determinadas situações), essa reação não produz combustível e tampouco comburente; ao contrário, produz gás carbônico, capaz de extinguir o fogo.

            A Química Forense é capaz de identificar se determinada morte foi ocasionada por incêndio ou não. Em um indivíduo normal, a hemoglobina (proteína presente nos glóbulos vermelhos), que é responsável pelo transporte de oxigênio pelo sangue, está associada a um ferro num estado de oxidação menor (Fe2+). Todavia, quando uma pessoa viva é atingida por fogo, a hemoglobina tende a se transformar em meta-hemoglobina (na qual o ferro está num estado de oxidação maior – Fe3+), que é incapaz de transportar oxigênio. Além disso, em casos de incêndio, a morte é quase sempre provocada por asfixia devido à alta inalação de monóxido de carbono (CO), um óxido neutro (não reage com a água) originado a partir de combustões incompletas (quando o oxigênio é o reagente limitante). Sendo um antimetabólico do oxigênio, o monóxido de carbono (cuja afinidade pela hemoglobina é 250 vezes maior do que a do oxigênio) combina-se com a hemoglobina, formando a carboxi-hemoglobina e diminuindo a capacidade de transporte de oxigênio. A asfixia decorre do fato de que a ligação do CO com as moléculas de hemoglobina aumenta a afinidade das moléculas remanescentes com o oxigênio, o que faz com que este seja liberado com mais dificuldade e acabe acarretando a asfixia.

            Através do que foi apontado, percebe-se que grande parte dos compostos químicos está presente, de alguma forma, nos procedimentos adotados pela Química Forense. Embora cada método desempenhe uma função específica, é a união de todos eles que permite a essa importante ciência elucidar dúvidas e questionamentos acerca de crimes e delitos. De alguma forma, o aprimoramento dos conhecimentos da Química caminha lado a lado com as investigações forenses, permitindo o desenvolvimento de novas técnicas que, cada vez mais, permita ao ser humano basear suas decisões em fatos e provas definitivas a fim de garantir que a justiça seja realmente realizada.  

Bibliografia

http://www.emsb.qc.ca/laurenhill/science/forensic.html                                              
http://science.howstuffworks.com/breathalyzer3.htm
http://en.wikipedia.org/wiki/Forensic_chemistry                                                       
http://en.wikipedia.org/wiki/Luminol
http://science.howstuffworks.com/forensic-lab-technique2.htm                                 
http://it.wikipedia.org/wiki/Ninidrina
http://www.chemistryexplained.com/Fe-Ge/Forensic-Chemistry.html                      
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hemoglobina
http://www.rsc.org/delivery/_ArticleLinking/DisplayArticleForFree.cfm?doi=b4   
http://pt.wikipedia.org/wiki/B%C3%B3rax
Farias FF. Química Forense. Editora Átomo. São Paulo. 2a  edição. 2008.               
Feltre R. Química 2 e 3. Editora Moderna. São Paulo. 2007.



Autor: Jéssica Ragonha
Co-autora: Aline Froes Souza Moraes

2a Série Ensino Médio

Colégio: Koelle Educ. e Cultura

  Cidade de Rio Claro

Professores: Angelo L. Ariente, Alberto P. Sant’Ana, Carlos Eduardo Burin de Oliveira

 

Química Forense, investigação e justiça

 

            A química forense é uma ciência abrangente, através da qual são realizadas análises químicas de cenas de crime, medicamento, doping esportivo, alimento, droga, adulteração em veículos, entre outros.

Cuidado, lógica, segurança e precisão. São itens indispensáveis ao dia-a-dia do químico forense, profissional que atua em pesquisas especializadas da química, com o objetivo de atender às investigações judiciais. Ele precisa dominar vários ramos do conhecimento além da química. A coleta das amostras é feita pelo próprio químico, aumentando ainda mais a sua responsabilidade, uma vez que é necessário saber as condições nas quais elas foram coletadas até o momento de chegarem ao laboratório. Com análises minuciosas dos resquícios, são feitos experimentos laboratoriais que, ao serem interpretados, são encaminhados ao relatório conhecido como laudo técnico-pericial. Tais resultados culminam em evidências com fundamento para que sentenças verdadeiras possam ser feitas.

As análises realizadas pelos laboratórios químicos forenses são, preponderantemente, por três vias. A primeira é a análise clássica, ou também chamada de química úmida. É nesta área que situam-se os exames de falsificação de líquidos e alguns exames específicos da Criminalística, como o teste residuográfico e teste de Feigl-Sutter; responsável pelo diagnóstico de disparo de arma de fogo. Para uma maior precisão e confiabilidade nos resultados, a coleta do material residuográfico deve ser feita logo após o acontecimento, pois dessa forma o perito criminal terá em posse outros elementos de relevância.

Existem vários métodos analíticos utilizados nas investigações forenses, com destaque à cromatografia, que consiste na separação de misturas, para que seus componentes sejam identificados. Esses componentes passam pelas fases estacionária e móvel. Na química forense, há utilização de cromatografia líquida, gasosa e em camada delgada. Além do processo citado, outros métodos analíticos são a microscopia, a calorimetria, a espectrometria e afins.

            A cromatografia e a espectrofotometria são técnicas que permitem estabelecer a composição química de uma substância. São, portanto, o meio responsável para a análise de tintas, bebidas, óleos, graxas, entre outros. Esses exames utilizam equipamentos de alta tecnologia e precisão, como os de microscopia e microanálise, pois os materiais analisados podem oferecer subsídios importantes como objeto de comparação ou indícios.

            Na área criminal, um cuidado ainda maior deve ser tomado, pois qualquer falha pode causar grandes injustiças. Há a necessidade de uma observação minuciosa dos vestígios, tais como sangue, instrumentos, disparos de armas de fogo, fragmentos, impressões digitais e pegadas. Porém, muitas vezes o responsável pelo crime busca não deixar nenhuma pista visível, o que torna a busca de provas ainda mais detalhada. Diante disso, o profissional utiliza substâncias e processos que o auxiliem, como é o caso do luminol (C8H7O3N3). Esta substância, misturada a outras (principalmente ao peróxido de hidrogênio), permite a visualização de partículas não visíveis, através de reações químicas. Ele deve ser colocado no local do crime e, caso haja sangue, reagirá com o ferro presente na hemoglobina, produzindo luz, que pode ser vista quando o ambiente estiver completamente escuro. Mas este é apenas um processo que pode ajudar na investigação, levando em conta que o luminol pode reagir com outras substâncias além do sangue. Por outro lado, ele tem a capacidade de trazer informações essenciais, como o tipo de arma utilizada. Isto nos remete a outro conceito: os disparos de armas de fogo.

Quando ocorre utilização de armas de fogo em um crime, há vestígios do disparo, uma vez que são expelidos gases. Segundo Marcelo Firmino de Oliveira, “Tal fluxo gasoso carrega em sua composição os gases oriundos da combustão (CO2 e SO2), bem como uma ampla gama de compostos inorgânicos, tais como nitrito, nitrato, cátions de metais como chumbo e antimônio e particulados metálicos oriundos do atrito e da subseqüente fragmentação dos projéteis metálicos disparados.”. É realizado um exame chamado residuográfico, no qual a amostra de chumbo retirada das mãos do suspeito de ter atirado é submetida à solução do ácido rodizonato de sódio. O aparecimento de cor avermelhada indica que houve o disparo.

Na atual sociedade globalizada e desenvolvida, cada vez mais a tecnologia invade o mundo dos alimentos e medicamentos. Porém, nem sempre isso ocorre com boa finalidade: muitas vezes há a contaminação desses itens, prejudicando a vida da população. E é nesse contexto que entra a química forense, com o objetivo de identificar tais contaminações e as substâncias responsáveis.

Do inglês, doping significa o uso ilegal de substâncias por um atleta, a fim de obter melhor desempenho em uma competição. Tais substâncias são os narcótico-analgésicos, diuréticos, hormônios, estimulantes e agentes anabolizantes. O teste antidoping consiste na coleta de urina do esportista, para ver se há alguma dessas drogas. Isso ocorre devido ao fato de a urina transportar todas as impurezas presentes no corpo, eliminando também a droga (caso esta realmente tenha sido utilizada).

O bafômetro é um instrumento responsável por verificar se o motorista está ou não alcoolizado. Trata-se de um tubo com soluções aquosas de sílica umedecida com ácido sulfúrico e dicromato de potássio. Se a pessoa porventura ingeriu álcool, ao exalar ar no bafômetro, a cor é alterada, indicando embriaguez.

A química forense também pode atuar na análise de adulterações em veículos. Estas são feitas muitas vezes através da retirada de numerações existentes em superfícies metálicas do automóvel para modificá-las. Tal adulteração pode ser identificada com o uso de agentes reveladores, a exemplo da solução aquosa alcalina de hexacianoferrato de potássio, que revela a marcação original.

            Os estudos em relação à falsificação são também realizados por profissionais forenses. A falsificação pode ser de suas espécies. A apenas chamada falsificação é algo parcialmente falso, com acréscimos, eliminações e substituições de palavra e/ou números, mas com papel autêntico. Na contrafacção, trata-se de uma falsificação total.

            A análise pericial de cartões de crédito exige como qualquer outro documento o acesso a um espécime para efeitos de comparação. É necessário também examinar o gravador de relevos usado na preparação dos cartões e a impressora utilizada para imprimir as facturas com os dados dos cartões contrafeitos em estudo.

Os quadros (pinturas ou desenhos), os móveis, os tapetes, as cerâmicas e as antiguidades de todos os gêneros dizem respeito às falsificações artísticas. Para estes, o processo de investigação também é realizado através da análise e comparação do material.

            A perícia ambiental é um importante fator de preservação do meio ambiente e de controle dos danos que ocorrem devido à ação de pessoa física ou jurídica, que possa resultar na degradação da qualidade ambiental. Através da avaliação, tem-se o objetivo de estipular monetariamente os impactos e uma reparação ao dano. Da mesma maneira que as perícias comuns, a ambiental consiste no exame, vistoria e avaliação, com a mesma prática forense.

A química forense também atua na investigação de incêndios, com a finalidade de descobrir o responsável e a causa. Para isto, os químicos estudam o ambiente em que ocorreu a tragédia, buscando provas nos escombros e nas pinturas. Através de cromatografia gasosa, descobre-se qual substância foi utilizada para causar o incêndio, como gasolina, tíneres e querosene. Outro processo utilizado é a espectrometria, responsável por determinar a quantidade de determinadas substâncias presentes na gasolina, por exemplo. Além disso, o profissional deve ser muito ágil e cuidadoso, pois a maioria das amostras são substâncias muito voláteis.

             Pesquisadores da Universidade de Purdue, localizada em Indiana (Estados Unidos), desenvolveram uma técnica para identificação de explosivos e drogas através das digitais. Ela permite a constatação de substâncias presentes na pele do indivíduo, indicando se ele teve contato com drogas ou explosivos. E mais uma vez a ciência forense contribui para a busca da justiça.

            Inúmeros casos de crimes por dia, constantes adulterações em veículos e doping a cada evento esportivo são apenas algumas das provas da importância da química forense. Afinal, ela não só está presente na busca da verdade, mas também contribui para a criação e aplicação de leis, as quais regem o universo. Química forense: o caminho da justiça.

 
Bibliografia:

 
CASTRO, Fernando C. Análises químicas elucidam crimes. Revista Química e Derivados, n. 447, 2008.
Disponível em: < http://www.quimica.com.br/revista/qd477/atualidades/atualidades01.html>
FARIAS, Robson F. Química a serviço da investigação. Revista da Federação Nacional dos Profissionais da Química, n. 9, p. 14-16, 2007.
Disponível em: <http://www.ageventos.com.br/downloads/qh09.pdf>
Grupo de Monitorização da Convenção Contra a Dopagem do
Conselho da Europa. Lista de Substâncias e Métodos Proibidos - Código Mundial Antidopagem. 2008.
Disponível em: <http://pt.uefa.com/newsfiles/631572.pdf>
MAY, Lilliam. Apresentação de Química Forense
Disponível em: <http://www.fes.br/disciplinas/far/toxicologia/12%AA%20aula%20-%20Qu%EDmica%20Forense.ppt>
NETO, Osvaldo N. Os Laboratórios Criminalísticos na Moderna Investigação Policial.
Disponível em: <http://www.geocities.com/CapeCanaveral/Launchpad/2909/page29.html>
OLIVEIRA, Marcelo F. Química Forense – Química Nova na Escola, n. 24, p. 17-19, 2006.
Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc24/ccd2.pdf>
SANTOS, F. Henrique. Contrafacção e Falsificação, 1998.
Disponível em: <http://ew6nnv.esoterica.pt/forenses/contrafa.htm>


Autor: Frederico Frigeri
Co-autores:Barbara Brayner; Juliana Pincinato, Rafael Folena

2ª Série do Ensino Médio

Colégio:  Colégio Ser!

Cidade de Jundiaí

Professores: Sergio Alexandre Magno  e João Alexandre Bortoloti

 

A Química que faz bem

 

A química forense vem se tornando cada vez mais necessária diante do aumento da criminalidade e do consumo de drogas pela sociedade atual.  Além disso, pode-se dizer que os criminosos vêm se tornando mais e mais criativos, o que justifica o uso de meios seguros, eficazes e contundentes na construção de provas dentro de um processo.

A meta principal da ciência forense é prover apoio científico para as investigações das causas de danos materiais, mortes, drogas encontradas dentro e fora do corpo humano e  outros crimes não solucionados.

Os químicos forenses primeiramente procuram pelas pistas, que são posteriormente analisadas, gerando laudos que podem mostrar significados de impossível interpretação a olho nu.  A ciência forense lida com substâncias como tinturas, vidros, vestígios de solo, metais, plásticos, explosivos, e todas as outras que eventualmente possam estar envolvidas em uma investigação.

Um princípio básico deste ramo da ciência é o fato irrefutável de que todo e qualquer tipo de contato ou interação deixa um rastro.

Após um assassinato, por exemplo, testes químicos podem revelar os culpados a partir de vestígios de pólvora na roupa do atirador, ou encontrando manchas de sangue, pedaços de vidro deixados que podem causar cortes, dentre outros elementos aos quais o assassino fica exposto durante uma fuga.

Com relação às drogas, os peritos são capazes de identificar com facilidade a composição de amostras recolhidas em cenas de crimes e verificar se as mesmas são ou não lícitas, facilitando o trabalho da polícia investigativa.

Assim, devido a esse aumento da demanda de trabalho para os químicos forenses, métodos mais precisos e que permitem análises mais amplas vêm sendo desenvolvidos constantemente nos últimos anos.

Além de assassinatos e identificação de substâncias na cena do crime, a ciência forense também pode contribuir na investigação em situações como: dopagem esportiva, detecção de álcool e outras drogas na corrente sanguínea e até mesmo descobrir excesso de agrotóxicos em produtos agrícolas.

O dopping ou dopagem é o uso de drogas ou métodos ilícitos, com vistas a fazer um atleta ou animal adquirir vantagem com relação ao adversário em uma competição.  Testes podem detectar os sinais das drogas no organismo através de análises de amostras como sangue ou urina.  Atualmente, é possível a detecção de substâncias utilizadas até seis meses antes da coleta no sangue, ou até três meses no caso de urina.

Em grandes eventos, como as Olimpíadas, um grande número de testes antidopagem é utilizado, mostrando grande valia pela sua eficiência.  Todavia, deve-se registrar que o COI (Comitê Olímpico Internacional) restringe-se a coletar apenas amostras de urina dos atletas em respeito a alguns países que, por motivos religiosos, seriam radicalmente contra o procedimento.  Algumas das drogas ilegais mais usadas no esporte atualmente são os betabloqueadores, remédios que abaixam a pressão sanguínea, atuando no sistema cardiovascular, e reduzindo a freqüência cardíaca do atleta.  Tais substâncias podem ser úteis para praticantes de modalidades que exigem precisão como tiro e arco e flecha.  Ainda pode-se mencionar os diuréticos, ingeridos momentos antes da pesagem em esportes de combate como boxe e judô, que dividem os competidores em categorias de acordo com a massa corpóreo dos mesmos.  Para estes atletas, pode ser conveniente participar de uma categoria diferente e enfrentar outros competidores, mais magros.

A classe dos estimulantes, que age direto no sistema nervoso, faz o atleta ficar mais excitado.  A cafeína é o exemplo mais comum.  Velocistas conseguem melhorar significativamente seus tempos com o uso desse tipo de substância; neste caso, os esteróides anabolizantes, hormônios sintéticos que, quando comparados à testosterona (hormônio masculino natural), tem maior atividade anabólica.

Também chamado de etilômetro, o popular bafômetro é uma aparelho que atualmente está sendo alvo de polêmica e promovendo debates devido a já famosa “Lei Seca” sancionada recentemente no Brasil e que reduz para zero o nível de álcool tolerado na corrente sanguínea de um motorista.  O aparelho é capaz de perceber o álcool etílico no sangue do indivíduo a partir do ar expirado de seus pulmões, que é conduzido para um compartimento contendo uma mistura ácida de dicromato de potássio.  O álcool, em contato com a mistura, causa modificações na intensidade da corrente elétrica medida em um sensor, e é a partir dessas modificações que o teor de etanol pode ser determinado.  O composto mais usado para compor esses sensores é o óxido estânico (SnO2), depositado sobre um substrato isolante.  Fatores como a umidade do ar e a temperatura podem alterar o resultado do teste, e por isso o aparelho deve estar rigorosamente calibrado de acordo com as condições no momento do seu uso.

Quimicamente pode-se dizer que o etanol presente no expelido pelo indivíduo é convertido em ácido acético através do processo representado abaixo:

3 CH3CH2OH + 2 K2Cr2O7 + 8 H2SO4 = 3 CH3COOH + 2Cr2(SO4)3 + 2 K2SO4 + 11 H2O

            O cromo, quando na forma de íons dicromato, com número de oxidação +6 exibe coloração amarela.  Após a transformação, o elemento sofre redução, formando os íons do tipo Cr3+, o que causa uma modificação na cor para o verde.  De maneira um pouco menos quantitativa, é possível estimar também a concentração de álcool etílico na corrente sanguínea a partir da intensidade do verde observado.

            A saúde urbana se apresenta em situação grave quando o assunto é contaminação rural.  Análises nas áreas de Química e bioquímica são feitas por amostras para tentar responsabilizar os infratores.  O controle químico de pragas com uso de agrotóxicos já é utilizado há algum tempo.  Aplicações em níveis desnecessários podem ocasionar  diferentes conseqüências negativas na cadeia alimentar, prejudicar a saúde humana e até mesmo afetar o país economicamente nas exportações, uma vez que o “sistema de vigilância internacional mostra-se atento e intolerante com resíduos de agrotóxicos nos alimentos”1.  A técnica aplicada aqui (Luke et al., 1975 e De Kok ET AL., 1998) baseia-se na extração dos resíduos de agrotóxicos das amostras com solventes orgânicos.  Após concentração, os eluatos são usados para identificação e quantificação dos resíduos por cromatografia gasosa em procedimento analítico.

            Para os que tremem ao ler a palavra “química” associada a algo que manuseie ou consome, este é mais um exemplo de como a ciência pode auxiliar a sociedade em seu desenvolvimento quando bem utilizada.

 
Bibliografia

Souza, R.F.; Souza, J.F.P.; Sacheto, D.; Flora M.M.; Ghidini, G. - Revista Química Hoje, 2007, 9, 9-11
www.drogas.netsaber.com.br
www.drauziovarella.ig.com.br/entrevsitas/doping5.asp
Enciclopédia virtual Wikipedia, www.wikipedia.org



Autor:Juliana Cristina de Souza
Co-autores: Camila de  Souza; Carlos Galdino; Higor Rodrigues; Jacques Moraes

2ª Série do Ensino Médio

Colégio:  Colégio Politec

Cidade de Americana

Professor: André  Luís de Souza

 

Diário de um criminoso “forense”

Capítulo 21

17 de agosto de 1997 

            São exatamente 3 horas e 46 minutos.  Encontro-me no fundo de minha saleta, um ar gelado e sombrio paira sobre mim.  O luar penetra lentamente a janela, através da qual posso ver o balançar incessante das árvores em decorrência do vento.  A noite convida a escrever...

            Minha personalidade almeja ambição, sou detalhista, inventivo, fascinado pela química e sócio de uma indústria de embutidos (salsichas, salames, etc.)  Entretanto o ambiente com o qual mais me identifico é o laboratório.

            Hoje meu projeto não saiu como planejado.  Tinha em mente não perder mercadorias.  Sempre visei à obtenção de lucros, porém minhas opiniões divergiam em relação às do Mathias, meu sócio. Possuíamos 600 quilos de carne, a qual necessitava de aditivos, pois estava prestes a ser dominada por microorganismos de compositores responsáveis pela produção de toxinas.  Meu objetivo era durante a noite, adicionar nitrito de sódio (NaNO2) à carne através, além do permitido pela lei.  Agindo dessa forma fixaria a cor e conserva-la-ia por mais tempo.

            Mathias não aceitara meus argumentos, alegando os danos conseqüentes à população, Isso devido ao seu conhecimento da formação de compostos químicos cancerígenos, os quais iniciam com a dissociação do nitrito de sódio na presença de água.  Posteriormente, o íon nitrito reage com o ácido clorídrico presente no estômago e, finalmente, o ácido nitroso pode reagir com determinadas aminas formando nitrosaminas, O  processo pode ser dividido em três etapas:

1.     NaNO2  --> Na+(aq) + NO2 -(aq)

2.     NO2-(aq) + HCl(aq)  -->  HNO2(aq) + Cl-(aq)

3.     HBO2 + determinada amina -->  nitrosaminas

O composto mais conhecido é o N-nitrosodimetilamina, gerado a partir da dimetilamina.

-

 

            Vinte e duas horas.  Expediente encerrado.  O único que permanecia na empresa era Seu Gilmar, o segurança.  No laboratório o silencio amedrontava-me, o excesso de confiança, antes inabalável, parecia partir.   Um mero ruído conduziu-me a uma perscruta minuciosa.  Ao virar, surpreendi-me com Mathias à porta,

            Tive pouco tempo para pensar.  Uma série de acusações choveu aos meus ouvidos e por um impulso, dei-lhe um soco no queixo.  Desmaiou imediatamente.   Pus-me a pensar.  Era a ocasião perfeita para expor meus conhecimentos sobre a química.  Minha obsessão por essa ciência teve início quando jovem.  Acompanhei a atuação de meu pai, um químico forense de muito prestigio.  Desvendou um crime de grande repercussão.  O assassino despertou minha fascinação pelos métodos utilizados para não ser descoberta a real causa da morte.  Naquele instante, mais que necessário, vi-me obrigado a aplicar meu saber, acumulado por minhas incessantes pesquisas.  Mas o que faria com o Mathias:  Utilizaria um elemento inalável?  Uma arma biológica?

            A aflição apoderou-se de mim, meu cérebro guiava minhas mãos a cometer uma audácia.  No início cogitei o uso da faca, já que essa se encontra próxima.  Isso geraria inúmeras provas contra. Teria que ocultar o instrumento.  Era ilógico haver sangue espargido no laboratório, totalmente asseado onde a alvura preponderava.  Além disso, é facial a decifração da existência de sangue, mesmo após a limpeza, através do manuseio do luminol, integrante essencial de uma reação química geradora de luz, quando esse interage com o ferro da hemoglobina.  A luminosidade é resultado das diferentes quantidades de energia entre os reagentes e os produtos.  As moléculas formadas se encontram energeticamente excitadas.  Para perder essa energia, liberam-na na forma de fótons pelo processo de quimiluminescência.

            A reação aduz a ativa participação do ferro, já que é o responsável por acelerar a reação entre o peróxido de hidrogênio e o luminol (em meio alcalino). Nesse processo o luminol transforma-se em 3-aminoftalato num estado eletronicamente excitado.  Para voltar ao estado fundamental, emite os fótons:

-

            Encontrei no cianeto outra alternativa, visto que a ingestão ou inalação poderia ser fatal devido aos efeitos surgidos quando há liberação de ácido cianídrico (HCN) no estômago, na presença do ácido clorídrico: NaCN(s) + HCl(aq) ® HCN(g) + NaCl(aq)

            O cianeto apresenta afinidade pelo Fe3+.  Ao se ligar com o íon férrico, ele inibe a enzima citocromoxidase e provoca a parada da respiração celular.  Todavia, o cianeto possui um odor característico e uma simples análise revelaria a causa da morte. Definitivamente era preciso complicar a atuação dos químicos forenses, já que, agindo desse modo, eles facilmente desvendariam o crime e não era esse meu objetivo.

            Meu corpo estremeceu. Minha visão esquivou-se ao ver a realidade.  Minha audição tornou-se vaga e, por um ímpeto recordei-me do histórico cardíaco de Mathias, o qual poderia ser utilizado em meu benefício.  Nesse exato instante, fixei meu pensamento no cloreto de potássio.  Fui dominado por uma sensação de consolo, acompanhada de desespero.  Até aquele momento essa tinha sido minha melhor idéia.  Porém, não podia ousar em praticá-la no ambiente de trabalho.  Comprometeria a empresa?  Chamaria a atenção?

            O tempo era limitado.  Tinha que ser ágil. Necessitei substituir minhas luvas e a touca.  Estavam sórdidas.  Embrulhei o corpo com um pano de nylon.  Busquei minha maleta e nela guardei os frascos, cujo conteúdo podia ser utilizado em meu favor.  Dirigi-me ao carro de Mathias. Coloquei o corpo no banco traseiro.  A noite escura e o sussurrar do vento incomodavam-me.  Gilmar pareceu não ter notado nenhuma movimentação.  Um alívio para minha face aflita, ocultada atrás do vidro escuro.

            No percurso até a casa de Mathias, lugar mais apropriado para a cena do crime, tencionei simular um assalto, com uma arma de fogo.  A do Mathias!  Dessa forma, meu ato seria evidente.  Porém, com alguns singelos cuidados os indícios contra mim estariam extintos.  Isso porque, com a utilização de arma de fogo os vestígios deixados no meu corpo seriam simples gases, compostos inorgânicos e particulados metálicos originários de uma expansão gasosa, resultado da combustão da carga explosiva.

            No momento do disparo, partículas sólidas seriam lançadas para a região posterior da arma, depositando-as sobre minha pelo e, através do exame residuográfico, a análise química comprovaria a presença do chumbo em minhas mãos, pois os peritos recolheriam uma amostra e, ao borrifarem solução acidificada de rodizonato de sódio, a qual se apresenta amarelada na solução inicial, o complexo resultante apresentaria uma coloração avermelha intensa, visto que os íons de chumbo seriam complexados pelos íons rodizonato:

-

            Mas o uso de luvas e seu conseqüente desaparecimento, juntamente com minha veste, seria o suficiente para encobrir-me do crime.  Entretanto, não prossegui com esse plano.  Era muito comum e continha a causa explicita.   Poderia ir além.  Tinha capacidade para realizar um crime envolvente e indecifrável.

            Após alguns minutos sufocantes dentro do veículo, enfim cheguei ao meu destino.  Uma chuva tênue caia.  A rua deserta e bem iluminada contribuía para aumentar meu pavor.  Desci o corpo do carro.  Com um movimento brusco, fui arrastando-o até o centro da sala.  Sentei-me no sofá, era um móvel bonito revestido por um pano vermelho bastante felpudo.  Nesse momento, eu só conseguia ouvir o ruído incessante do relógio.  O tempo passava de forma impiedosa.  Precisava agir.  Iniciei a operação com muita cautela.  Minhas mãos trêmulas aplicaram a injeção de cloreto de potássio.  O líquido maldito começou a correr por entre as veias de Mathias.  Nunca descobririam o motivo da morte.  A substância produziria sintomas que se assemelham a uma parada cardíaca e não identificariam a causa.  Além disso, já em cadáveres a concentração de potássio se eleva naturalmente.  O funcionamento dos neurônios depende de sódio e do potássio fora da célula, indispensáveis em nosso organismo.  A concentração de íons de carga positiva fora da célula é maior que a de íons de carga negativa dentro da célula, quando em repouso.  Sendo assim, ocorre uma polarização da membrana celular.  Visto que a concentração de potássio fora de célula é crescente, o Potencial de Repouso da Membrana sobe até um dado momento em que o neurônio nunca voltará ao repouso e, consequentemente, os músculos estarão sempre contraídos.

            Passei a recolher meus aparatos.  Eram poucos, porém suficientes para incriminar-me.  Ao descerrar a maleta defrontei-me com frascos, dentre os quais um deles contendo arsênio.  Hesitei em utilizar o pó branco, sem cheiro nem gosto.  Os peritos descobriram tal substância facilmente.

            A fim de assegurar que tudo ocorresse como esperado, fui até o carro verificar se ainda residia algum vestígio.  Sempre carregava em minha maleta uma lupa, que revelou não haver evidências.  Uma sensação tenebrosa tomou posse da minha mente.  Ansiava voltar à empresa. Por um impulso, regressei a casa. Tranquei a porta.  Apanhei minha maleta e, em passos largos e apressados, segui em direção a uma janela razoavelmente grande pela qual eu poderia sair da casa e seguir ao meu destino.

            No caminho, a vizinhança parecia mergulhada em um silêncio profundo.  A chuva para minha sorte cessou.  Meus questionamentos perturbavam-me.  Ao chegar à empresa, de maneira meticulosa entrei pela porta do fundo.  No laboratório, sentei em minha cadeira e aguardei um determinado tempo para que a hora da morte de Mathias não me julgasse suspeito.  Minha intenção era ter, como aliado, Gilmar, cujo testemunho serviria de álibi.

            Em seguida tirei meu jaleco, e o guardei em meu armário. Para mim aquele jaleco era especial.  Em muitas das mais fascinantes experiências usei-o.  Por um ímpeto, pensei em queimá-lo, junto com minhas luvas e touca.  Porém meu afeto por esse foi soberano.  A alvura me convenceu de que não havia motivo.  Despedi-me do segurança.  Providenciei a queima dos objetos.  Nesse momento a convicção me tranqüilizou por saber que a verdade nunca poderia ser descoberta.

Epílogo

            Este lugar é asqueroso, obscuro, fétido.  Nunca passara pela minha cabeça em um dia estar numa cela.  O último período do capitulo 21 não concretizou.  Um mero descuido foi responsável por arruinar minha vida.  Se eu fosse o leitor dessa historia estaria me perguntando: “Descuido?  Mais que descuido?”  É realmente inacreditável.

            Naquela manhã fatídica, assustei-me ao ver a empresa dominada por investigadores.  Meu coração acelerou ao perceber-me cercado de agentes, acusando-me.  Um mero descuido foi responsável por arruinar minha vida.  Os peritos forenses já haviam encontrado, através do microscópio de varredura, fios em meu jaleco e também na cadeira de meu escritório.  Isso os deixou intrigados!  Análises químicas e morfológicas provaram: os fios encontrados em meu jaleco pertenciam ao vermelho, felpudo e sintético sofá de Mathias.

            E agora?  Ah, esses peritos forenses!

Bibliografia

-

 



Autor: Marina da Silva Daniel
Co-autores: Cristiane L. S. Santos; Kelly S. Sousa; Mayara  F. Sousa

2a Série Ensino Médio

Colégio: Instituto Tec. Barueri Munir José

  Cidade de Barueri

Professores: José Baldinato, Umberto Santos e Luis Carlos Silva

 

Olhe para trás, desvende seu futuro!

 Querida filha,

Não sei se você lerá esta carta algum dia, pois não sei o que será de mim daqui pra frente. Não importa o que aconteça, quero que saiba que te amo muito, mas temo que algumas questões possam me afastar para sempre de ti, e isso seria muito doloroso. Telmah, não olhe pra trás e não perca seu tempo com espelhos, nossa família se desfez por uma questão de vaidades.

Com amor,

Stela.

 – Flávio, não consigo entender como isso ficou escondido de mim! Já estou quase entrando na faculdade, essa é a única coisa que a minha mãe me deixou, e só agora, depois da morte do meu pai, descubro que ela existe!

– Não sei, Telmah. É muito estranho. Se ele escondeu, é porque alguma coisa tem! Ele falava que sua mãe morreu por complicações após o parto, mas eu estou estudando sobre química forense e essa carta parece ser uma ótima pista para descobrir o real motivo da morte de sua mãe.

– Química forense não é aquela do seriado da televisão?

– É, mas é bem diferente na realidade. Suponhamos que sua mãe tenha sido assassinada. Os policiais seriam os primeiros a chegar ao local do crime, depois, um perito e um fotógrafo iriam até o local, colheriam todas as possíveis provas como impressões digitais, fio de cabelo, manchas de sangue entre outras tantas. As manchas de sangue podem ser visualizadas pela aplicação de luminol, que ao entrar em contato com o ferro na hemoglobina do sangue sofre uma reação de oxidação. Há um movimento de elétrons que passam de níveis de energias maiores para menores e resultam na emissão de luz. Falando ainda de provas contra crimes, o exame de DNA também é de grande ajuda. No atentado de 11 de setembro de 2001, quando mais de 2.000 pessoas morreram, através do exame de DNA mitocondrial, que é mais resistente a esse tipo de acidente, centenas de pessoas puderam ser identificadas. Voltando ao assunto da sua mãe, se houvesse disparo de arma de fogo, os peritos fariam o exame residuográfico, que consiste na reação de um composto chamado rodizonato de sódio. Para isso, o perito coloca um pedaço de esparadrapo na mão do suspeito e faz uma leve fricção para abrir os poros. Nesse esparadrapo é borrifada uma solução tampão, de ácido tartárico e bitartarato de sódio, que mantém o pH numa faixa adequada para a reação com o chumbo ocorrer. Logo em seguida é borrifado o rodizonato de sódio. Se houver presença de chumbo ele irá se ionizar, e o esparadrapo ganhará uma cor avermelhada. Há um outro equipamento que serve para a mesma coisa, é o Microscópio Eletrônico de Varredura ou MEV, que através da emissão e detecção de um feixe de elétrons que atravessa a amostra, torna possível identificar a composição da superfície da amostra analisada. Ainda existe o rigoroso ICP que usa um feixe de plasma para fazer a detecção. Ele pesquisa a proporção dos três elementos que podem estar presentes na carga de espoletamento: o chumbo, o antimônio e o bário. Dependendo da proporção, é possível ter certeza de que o disparo foi de arma de fogo e até rastrear o fabricante dessa munição.

– Não, acho que ela não morreu baleada, por qual motivo dariam um tiro nela?

– Vai saber se ela mexia com droga? Nesse caso, se houver apreensão de um pó branco, as análises terão que confirmar que ali existe cocaína. Uma das técnicas é a reação de precipitação com Tiocianato de Cobalto e depois um teste de solubilidade. Funciona assim: mistura-se o pó branco com o Tiocianato de Cobalto, se a mistura ficar azul, indica que pode ter cocaína. Depois é adicionado ácido clorídrico, se a cor azul desaparecer, é que não tem cocaína, mas se permanecer, é grande a possibilidade de conter cocaína. Depois o pó é novamente dissolvido em hidróxido de potássio e metanol, coloca-se numa estufa e é feita a cromatografia de camada delgada, na qual se tenta confirmar a presença de cocaína e lidocaína, depois são usados agentes reveladores, como o cloreto de platina, que deixa a cocaína de cor roxa. Outra opção é a cromatografia em fase gasosa, que consiste em solubilizar cocaína com metanol, injetar essa mistura no cromatógrafo e aquecer à temperatura de 180°C, pois assim ela vaporiza, depois passa por um tubo que é impregnado de um material com afinidade pela cocaína. Se realmente houver cocaína, ela será atraída por esse material e acabará não percorrendo o tubo, depois há um aquecimento e as substâncias vão se soltando. Como a cocaína tem mais afinidade com esse material ela é a última a se soltar, e poderá ser detectada. Há também apreensão de materiais voláteis por suspeita de presença de solventes, como clorofórmio ou ácido nítrico que pode ser usado como precursor de explosivos, ou éter que é usado no refino de drogas. Esses materiais são levados para análise e a verificação da presença dessas substâncias é feita por cromatografia gasosa. Em uma coluna é injetada a amostra do material a ser analisado, que é vaporizado e deve percorrer o comprimento da coluna com uma certa velocidade. Dentro dessa coluna tem um “enchimento”, que apresenta certa afinidade com os componentes da amostra, e acontece um processo chamado eluição, em que algumas substâncias saem com mais rapidez e outras com menos. Através desse tempo de eluição, pode-se saber de qual substância estamos falando. Depois é feita uma comparação com uma substância padrão e se o tempo em que as duas ficaram dentro da coluna for o mesmo, as substâncias são a mesma. Esse procedimento é bastante utilizado para constatar falsificação de bebidas, quando se testa a alteração dos compostos chamados congêneres, que fazem toda a diferença no sabor e no aroma. Também é possível fazer a cromatografia líquida, que utiliza um sistema de solventes, e aí as substâncias podem ter ponto de ebulição mais elevado. A esse aparelho é acoplado o espectrômetro de massa, que consegue detectar a massa da substância. Ele funciona a partir de um princípio eletromagnético, que ioniza a molécula e faz a separação pela massa, e depois ocorre a identificação. Existe até um sistema de cromatografia líquida de alta eficiência, com a sigla HPLC, em inglês, e que é utilizado para análises de drogas, medicamentos e praguicidas.

– Você me ofendeu! Minha mãe não pode ter sido uma traficante! Ela deve ter sido belíssima, uma obra de arte, assim como eu!

– Tá bom, desculpa, mas já que você falou em obra de arte, há também a análise dos elementos que constituem as obras, que é feita através de equipamentos de microscopia eletrônica e do espectrômetro de infravermelho, além de técnicas de cromatografia, difração e fluorescência de raios-X. Nos espectrômetros é feito o reconhecimento de alguns pigmentos e componentes orgânicos existentes nas pinturas como resinas, ceras, gomas, colas e óleos.

Não te desculpo! Você me ofendeu de novo! Quis dizer que minha mãe foi falsificadora?!

Não, minha Monalisa! Vamos falar sobre algo que ela não pode ter feito, como por exemplo, adulterar combustível. Nessas adulterações adiciona-se etanol, água ou solventes. A análise da presença de álcool é feita através de densímetros, que medem a densidade sob determinada temperatura, depois é possível ter a indicação da porcentagem máxima de álcool da amostra. Na gasolina é feito o teste da proveta para detectar a presença indevida de álcool. Numa proveta preenche-se a metade do volume com água e uma pitada de sal, o restante se completa com a amostra da gasolina, depois é só misturar e aguardar a separação das fases. O álcool se dissolve na água e, pelo aumento da parte aquosa, é possível saber a quantidade de álcool que estava na gasolina. Creio também que ela não foi a bêbada do bairro, nem tampouco dessas loucas que saem por aí dirigindo embriagadas, ou seria pega no teste do bafômetro. Através de um bocal, o suspeito assopra e o ar vai para uma câmara de amostra, depois vai para um frasco e borbulha numa mistura de ácido sulfúrico, dicromato de potássio, nitrato de prata e água. Aí ocorre uma reação. O ácido sulfúrico tira o álcool do ar e também condiciona a acidez necessária para essa reação, o álcool reage com o dicromato de potássio produzindo algumas substâncias como água, sulfato de potássio, ácido acético e sulfato de cromo. O nitrato de prata não participa da reação, ele é apenas o catalisador que faz a reação acontecer com mais rapidez. Ao reagir com o álcool, o dicromato que tem cor alaranjada muda de cor para o verde do cromo, e o nível de álcool no ar é relacionado com esta mudança de cor. A quantidade de álcool é comparada à de um frasco contendo uma mistura que não sofreu reação, e uma corrente elétrica que percorre o sistema faz a agulha do medidor girar a partir do seu ponto de repouso. O operador lê o nível de álcool através de um botão que faz a agulha voltar ao ponto inicial, o nível de álcool será maior conforme a quantidade de vezes que o operador tiver que girar o botão.

– Hã... Álcool, carro... Isso me lembrou explosão, você sabe alguma coisa?

– Algumas coisas. Quando há alguma explosão, estilhaços, restos de material explosivo ou bisnagas de nitrato de amônio são levados para análise. Quando há suspeita de baixo explosivo, procura-se identificar nitrito, por exemplo. Já quando há suspeita de alto explosivo, procura-se fazer a análise através de um aparelho igual ao espectrômetro de massa, só que menor e mais rápido. Em incêndios, são feitas pesquisas de substâncias acelerantes de incêndio. Através da análise das roupas é possível detectar essas substâncias, como álcool etílico, querosene ou gasolina. Nessas análises feitas por cromatografia, os compostos mais pesados são buscados, já que os mais leves possivelmente já evaporaram; porém, a técnica utilizada não é aquela de injetar o líquido, e sim aquecer a amostra para volatilizar os compostos e depois injetar esse vapor no cromatógrafo.

– Muito sabido você! Tô vendo que você sabe tudo sobre química forense!

– Mas não acabou. Ainda tem os remédios e os documentos. Para detectar a falsificação de medicamentos, a cromatografia de camada delgada é a mais utilizada. Ela consiste em separar os componentes de uma mistura com base na diferença de polaridade dos compostos. Esse processo emprega o fenômeno de adsorção, e os adsorventes mais utilizados são a sílica e a alumínia. Há também a técnica de Espectrometria no Ultravioleta ou no Visível, em que se comparam os espectros da substância analisada com uma de referência. A análise de documentos pode ser feita identificando o pigmento da tinta da caneta, por exemplo, se uma pessoa escreveu um documento e assinou depois com outra caneta, os pigmentos e até a marca da caneta podem ser identificados, já que cada caneta tem uma pigmentação diferente.

– Ufa! Você me surpreendeu, sabe tudo do assunto, mas não conseguimos descobrir qual o motivo da morte da minha mãe.

– Será? Veja, preste atenção nesta parte do bilhete: “Telmah, não olhe pra trás e não perca seu tempo com espelhos” - coloque seu nome na frente do espelho, ou leia-o de trás pra frente!

– Fica “H-A-M-L-E-T”, e?

– Você ainda pergunta “e”? Telmah, na história, o pai do Hamlet é assassinado pelo próprio irmão!

– Você quer dizer que a minha única tia matou a minha mãe? Chega de ofensas por hoje, você deve estar assistindo muita televisão. Até mais, Dr. Sabe Tudo!

– Telmah, espera...

Na manhã seguinte, Flávio se depara com uma carta deixada debaixo da porta:

Querido Leonardo da Vinci, ou Shakespeare, se preferir,

Primeiramente desculpa por ter sido grossa com você. Achei ridículo o que você falou sobre meu nome. Mas ao chegar em casa, caí no sono e sonhei com a minha mãe, parecia tão real... E ela me falou que a minha tia sempre foi apaixonada pelo meu pai, e quando eu nasci, aproveitando-se da fragilidade de minha mãe, colocou veneno em seus remédios. Sabendo o que poderia vir a acontecer, ela escreveu aquele bilhete, dando a mim a possibilidade de desvendar o enigma. Mas ela não me pediu para vingar sua morte (até porque minha tia já morreu) e sim para aproveitar os conhecimentos adquiridos com o Dr. Sabe Tudo! E é isso que vou fazer. Estou indo para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, pois lá eles oferecem graduação em química forense. Prestarei o vestibular.

Obrigada por tudo,

Telmah.

– Nossa! Seria bom se todos os casos se resolvessem assim, como um sonho. Sonho mesmo será quando nós estivermos estudando na mesma faculdade...

Bibliografia

 - Inspirado no livro “Agora estou sozinha...” de Pedro Bandeira (Ed. Moderna, 2003), que por sua vez foi inspirado na peça “Hamlet”, de William Shakespeare
- No dia 09/out/2008 estivemos presentes no Núcleo de Química do Instituto de Criminalística-SP. As informações foram obtidas por meio de diálogos com os peritos: Cristina, Mauro e José Antônio de Moraes
SEADI, J. A.; Crimes hediondos e a falsificação de medicamentos. Editora Edipucrs, 2002
ARAÚJO, T.; Ciência contra o crime. Revista Superinteressante. n.257, out/2008, pp. 70-79
HERNANDES, N.; A química que desvenda crimes. Informativo CRQ-IV (SP) n.93, set/out 2008, pp. 4-7
<http://www.colegioetapa.com.br/redacao_opq> Acessado em 03 de novembro de 2008
<http://www.ciencia.hsw.uol.com.br/bafometros.htm> Acessado em 09 de outubro de 2008
<http://www.pessoas.hsw.uol.com.br/luminol.htm> Acessado em 22 de outubro de 2008
<http://www.quimica.net/emiliano/artigos/2007/mar_forense4.pdf> Acessado em 18 de outubro de 2008
<http://www.ufmg.br/boletim/bol1599/4.shtml> Acessado em 18 de outubro de 2008



Autor: Renan Rodrigues de Souza Cardozo
Co-autores: Ricardo S. Miyazaki; Fernando  M. Souza; Henrique D. Colleta

2ª Série do Ensino Médio

Colégio: E.E.Ensino Médio “Prof. Pedro de Alcantara M. Machado”

Cidade de São Paulo

Professora: Silvia Aparecida Machado Rosa

 

QUÍMICA FORENSE

 

“Química Forense é o ramo da química que se ocupa na investigação forense, a fim de atender aspectos de interesse jurídico”1.  Ela visa desvendar crimes, “ela explica os princípios da ciência natural do debate legal”2.  Assim podemos dizer: “que a química forense é a aplicação da química na investigação criminal”2.

            Ela vem se destacando durante anos no Brasil e no mundo.  Aqui com o aumento da violência está sendo necessário capacitar novos profissionais, e aperfeiçoar os equipamentos utilizados.

            A procura de profissionais nesta área é muito grande, porém não há pessoas qualificadas, e os profissionais que estão desenvolvendo esse trabalho não estão totalmente capacitados.

            O professor Valter Stefani que é professor e pesquisador da UFRGS disse em uma entrevista à agência FAPESP:   “É fundamental que tenhamos peritos químicos formados nesta área”3.  A prova disto é que ele ministrou uma vez um curso para policiais especializados em impressões digitais, eram em 120 pessoas, porém nenhuma era químico, mas usava substâncias químicas.

            A química forense é usada, por exemplo, nas análises de disparos de armas de fogo, identificação de adulterações de veículos, revelação de impressões digitais, identificação de sangue em locais de crimes e peças relacionadas, na constatação de substâncias entorpecentes, etc.  Ela anda juntamente com a criminalística e a medicina forense. 1

            Observe os procedimentos realizados pela Química Forense para:

1-                 Disparos de armas: Para a detecção de fragmentos de um possível disparo, usa-se substâncias que indiquem a presença de íons de chumbo ou fragmentos metálicos (procuram esses fragmentos de chumbo, especificamente, pois tem maior quantidade em relação a outras)

Quando se utiliza arma de fogo são produzidos gases pela combustão da carga explosiva presente nos cartuchos que compõem a munição dessa arma;  A expansão dá-se preferencialmente no cano da arma, mas uma parcela desse gás também é expelida pela região posterior da arma.  Esse fluxo gasoso tem em sua composição gases de combustão (CO2 e SO2) bem como compostos inorgânicos tais como: nitrito, nitrato, cátions de chumbo e antimônio e partículas metálicas conseqüentes do atrito do projétil.

            Nos vestígios, o chumbo à vista é proveniente do agente detonador da espoleta, que se encontra presente na forma de trinitroresorcianato de chumbo.  Para a realização dessa análise, primeiro coleta-se uma amostra das mãos do suspeito, aplicando fita adesiva (do tipo esparadrapo).  A fita adesiva ao ser borrifada pela solução acidificada de rodizonato de sódio aparece pontos de coloração avermelhada. Isso indica o resultado positivo para um disparo.  Esse exame tem por nome reziduográfico.

2-                 Identificação de sangue:  Antigamente para se confirmar que uma substância avermelhada não era sangue utilizava-se peróxido de hidrogênio (H2O2) popularmente conhecido como água oxigenada, que em contato com o sangue formava uma espécie de “espuma”, ou seja, ela se oxidava.  Isso ocorria pelo fato de que o sangue possui células que contem uma enzima chamada catálise.  Quando o peróxido de hidrogênio entrava em contato com a catálise acabava transformando a água oxigenada em água e gás oxigênio, se isso acontecesse, logo se sabia que a substância era sangue.  Porém, hoje em dia se usa o Luminol (C8H7O3N3).

O luminol é utilizado para revelar vestígios de sangue através de uma reação química geradora de luz.   Esta reação envolve, várias substâncias químicas e a hemoglobina que é a proteína portadora do oxigênio no sangue.  Ao ocorrer essa reação em partículas os reagentes possuem mais energia que os produtos.  Moléculas livram-se da energia extra na forma de fótons de luz.  Geralmente esta reação é conhecida como quimiluminescência.

Criminalistas misturam o pó de luminol com uma solução contendo peróxido de hidrogênio (H2O2), um hidróxido (OH-) e outros produtos químicos.  O peróxido de hidrogênio e o luminol são os principais agentes da reação, porém para produzir o brilho forte, é preciso um catalisador para acelerar o processo.  Essa mistura detecta a presença do catalisador, no caso o ferro que é contido na hemoglobina.

            Quando a mistura de luminol entra em contato com a hemoglobina, o ferro presente nela acelera a reação do peróxido de hidrogênio e o luminol.  Ao acontecer isso o luminol perde átomos de hidrogênio e nitrogênio e adquire átomos de oxigênio que resulta um composto chamado 3-aminoftalato.  Esta reação deixa este composto num estado de energia mais elevado, pois os elétrons dos átomos de oxigênio são empurrados para as órbitas mais externas. Estes elétrons retornam rapidamente para um menor nível de energia, assim emitindo energia extra em forma de luz.  A luz emitida brilha suficientemente para ser vista em um ambiente escuro com ajuda de uma luz neom.

3-        Impressões digitais:  para coletar impressões digitais são realizadas as seguintes técnicas:

a) Técnica do Pó:  deve ser feita em superfície lisa, não rugosa nem absorvente para facilitar o decalque.  Esta técnica tem por base as características físicas e químicas do pó.  Este pó é aplicado com pincéis apropriados ou por um aparato eletrostático.  Quando a impressão digital é recente, o principal composto que adere às partículas do pó é a água.  Os tipos de substâncias usados para esta coleta são: Pó de óxido de ferro (composição: óxido de ferro, resina e negro-de-fumo), Pó de dióxido de manganês (composição: dióxido de manganês, óxido de ferro, negro-de-fumo e resina), Pó de óxido de titânio (composição: óxido de titânio, talco e caulin) e Pó de carbonato de chumbo (composição: carbonato de chumbo (PbCO3), goma arábica, alumínio em pó e negro-de-fumo).

            O problema em usar a técnica do pó é que estes pós são prejudiciais à saúde do perito.  Devido a este acontecimento, na década de 80 foram desenvolvidos pós orgânicos.  Um destes pós usados se destaca um pó feito de Brometo de potássio (KBr), que é dissolvido 1 g desta substância em 25 mililitros de água destilada, logo depois, são dissolvidos 35 g de amido de milho bem lentamente na solução aquosa de brome de potássio.  Deixando secar durante 7 dias é reduzido a pó.  Por sua vez, este pó, é mantido conservado em um recipiente que contém sulfato de cálcio anidro, que serve como dessecante.

b)  Ninidrina: A ninidrina (C9H6O4) é um composto que quando reage com alfa-aminoácidos, polipeptídios  e as proteínas forma produtos coloridos.

            A ninidrina reage com as substâncias orgânicas presentes no nosso corpo, excretadas pelas glândulas sudoríparas, deixada na digital, fazendo assim a ninidrina mudar sua coloração e mostrar a impressão digital.  Esta reação faz com que a ninidrina quebre as proteínas do aminoácido, fazendo com que a revelação da IPL (Impressões Papilares Latentes) fique mais intensa.  Geralmente a solução de ninidrina é diluída na proporção de 0,5g para 30 ml de etanol (C2H5OH), depois guardada em um recipiente pulverizador.

            Para obter um bom resultado, o solvente é essencial para a solução de ninidrina.  O melhor é o comercial que é uma mistura de vários outros solventes, dá também para fazer com o éter de petróleo ou CFC-113, mas não se tem um bom resultado.

c)  Ninidrina e Cloreto de Zinco: Com a evolução, foram realizados novos análogos da ninidrina, feita a partir da reação entre a ninidrina (C9H6O4) e o cloreto de zinco (ZnCl2), que produz a benzo[f]ninidrina (C13H6O2OH2), através do uso de um laser de neodímio.  Esta solução adquire uma coloração avermelhada, logo depois produzindo o DFO (diazafluorenona) e a 5-metoxininidrina (C11H6ON2).

            O DFO é misturado com 4 ml de metanol (CH3OH) e 2 ml de ácido acético glacial e, diluída em 100 ml de fron.  Esta solução de DFO  tem uma capacidade maior de revelação de IPL do que a solução de ninidrina.

d) Nitrato de Prata:   Esta técnica tem por base a reação do nitrato de prata (AgNO3) com íons cloretos presentes na impressão digital.  A superfície contendo IPL é imersa em uma cuba contendo uma solução aquosa de nitrato de prato (AgNO3(aq)), aproximadamente por 30 segundos.  Este reação produz o cloreto de prata (AgCl), que é insolúvel em água a temperatura ambiente.

            Como os cloretos de prata, mercúrio(HgCl2) e  chumbo (PbCl2) são insolúveis em água, permite a visualização do IPL.  A superfície que contem a IPL tem que ser secada numa câmara escura, depois disto exposta à luz solar o tempo que for necessário para que o íon prata (Ag+) seja reduzido à prata metálica, assim revelando a IPL em um fundo preto.  Antes que a superfície escureça, deve-se tirar uma foto da impressão digital.  Porém ela pode ser preservada, quando colocada em um local escuto ou quando é tratada com a solução de tiossulfato de sódio.

            Para terminar, a química forense envolve vários ramos das ciências exatas e biológicas como: física, biologia, matemática, química legal, medicina forense entre outras.  Com isso o campo é muito grande para se trabalhar, mas como já foi dito, não há pessoas qualificadas para a realização desta atividade.  Esperamos que com este breve argumento sobre alguns campos que a química é aplicada na ciência forense, muitos se interessem e venham a se aprofundar mais sobre o assunto.

 
Bibliografia



voltar