Breve histórico da AllChemy

A gênese da AllChemy se deu em 1994, ano em que, no Brasil, o acesso à rede mundial de computadores (World Wide Web ou WWW) era limitado, praticamente, a computadores de universidades conectadas à Rede Nacional de Pesquisas (RNP) do CNPq, por sua vez, ligada ao exterior por linhas e computadores da FAPESP, operando em protocolo TCP/IP desde 1991. Fora do meio acadêmico, crescia desde o final da década de 1980 o número dos BBSs (Bulletin Board Systems), precursores dos atuais sites da WWW, conectando computadores por meio de linhas telefônicas, com custo elevado para ligações interurbanas e velocidade baixa, restringindo o uso de imagens com boa resolução.

No Instituto de Química da USP, o pós-graduando Robinson N. Mioshi vinha testando e adaptando programas freeware e shareware para operação de BBSs, com suporte técnico do estagiário Marcelo Fagundes Barros e apoio e participação do Prof. Claudimir L. do Lago. Certa tarde, em outubro de 1994 o Robinson contou ao Prof. Ivano G. R. Gutz que conseguira reunir condições para montar um BBS. Foi quando surgiu a ideia de criar o primeiro BBS brasileiro dedicado à química.

Aproveitando o tempo livre das férias de fim de ano, essa equipe conseguiu montar o BBS BootQuim (o termo boot é usado para a tarefa de inicialização de computadores). O BootQuim entrou em operação experimental em fevereiro de 1995, rodando em Linux num PC provido de modem (adquirido com recursos doados pelo CRQ - 4ª Região), conectado 24 h/dia à linha telefônica (011) 816 3828, cedida pelo Diretor do Instituto de Química, Prof. Dr. Walter Colli, que reconheceu prontamente o potencial deste novo veículo para a difusão de conhecimento.

A página de entrada do BootQuim, na data de 13 de fevereiro de 1995, era a seguinte:
 

A “navegação” era feita digitando uma das opções disponíveis em cada página de texto, tal como em qualquer outro BBSs. Arquivos para download podiam conter imagens, o que, contudo, alongava o tempo de transferência.

Nos meses seguintes, os testes do BBS foram intensificados e os “bugs”, reduzidos pelos "System Operators" Robinson e Prof. Claudimir, com suporte técnico do Marcelo, e o conteúdo, ampliado pelo Prof. Gutz. A abertura ao público foi oficializada no Dia Nacional do Químico em 18 de junho de 1995, fato amplamente divulgado no Informativo do CRQ-IV (à época, impresso e distribuído a mais de 100 mil químicos pelo correio) e em artigo da Revista Química e Derivados.

De fevereiro de 1995 a meados de 1996 o acesso público e gratuíto ao BBS BootQuim se dava, exclusivamente, discando (011) 816 3828 de qualquer computador com modem ligado a uma linha telefônica. Em 1995 ocorreu a instalação do “Comitê Gestor da rede Internet no Brasil”, seguindo-se os primeiros passos para a abertura da Internet às empresas comerciais e ao público. Imediatamente, o Robinson e o Marcelo começaram a dedicar-se à migração do BBS para a World Wide Web. Um novo nome foi escolhido em votação da qual participaram vários docentes e pós-graduandos do IQ-USP. Infelizmente, esse nome já havia sido registrado por terceiros no INPI então nova seleção foi feita, na qual prevaleceu o nome AllChemy (sugestão do Prof. Gutz) por lembrar “toda a química” em vários idiomas. Entre as propostas de logotipo, foi escolhida a do Prof. Claudimir.

No primeiro semestre de 1996 o IQ-USP liberou um IP fixo associado ao endereço http://allchemy.iq.usp.br e a AllChemy passou a funcionar também na internet. Por se tratar de uma grande novidade na época, atraiu muita atenção a demonstração pública feita durante o 36º Congresso Brasileiro de Química, no campus da USP em São Paulo, de 1º a 5 de setembro daquele ano. À medida que o acesso à internet se ampliava, crescia também o número consultas à AlChemy, ultrapassando uma centena ao dia em poucos anos, como se verifica inspencionando o gráfico.

A AllChemy foi um desafio que virou “escola” para o Robinson e o Marcelo. A atração do primeiro pela informática já era evidente no estágio de Iniciação Científica com o Prof. Gutz, em 1991/92 e se acentuou durante os anos em que o Prof. Claudimir orientou seu mestrado e parte do doutorado em química. A tal ponto o envolvimento com a AllChemy influenciou o Robinson que ele deixou de lado a finalização da tese em favor da atuação profissional no mundo da Internet. O estagiário em informática Marcelo se profissionalizou nesta área antes mesmo do Robinson, focando, à época, a segurança de redes. Diga-se de passagem que o Prof. Gutz programava calculadoras/computadores de mesa da HP desde o projeto de Iniciação Científica em 1973 e defendeu livre-docência sobre Quimiometria e Automação em 1985, enquanto o Prof. Claudimir interfaceou um espectrômetro de massas pentaquadrupolar a um microcomputador no seu doutoramento, defendido em 1991, e manteve a computação e a automação como focos principais da sua tese de livre-docência, em 1998.

Certamente, o Robinson foi uma peça chave nos primeiros 6 anos de funcionamento da AllChemy e do servidor montado para hospedá-la, ligado à rede do IQ-USP. Atuou ininterruptamente como SisOp/Webmaster/Webdesigner até 2001, quando foi contratado pelo mercado. A participação do Marcelo como colaborador voluntário da AllChemy foi mais breve mas não menos importante, com destaque para as primeiras instalações do Linux e dos programas de servidor de rede, bem como para os cuidados com aspectos de segurança. Mesmo depois de sair da USP para cuidar da $ua $obrevivência, continuou dando “consultoria grátis” por e-mail.

Em 1997, ingressou na equipe da AllChemy, um talentoso entusiasta da computação, o Jose Geraldo Alves Brito Neto, orientando do Prof. Claudimir como estagiário, mestrando, doutorando e pós-doutorando. Programador versado e profundo conhecedor do Linux, José Geraldo, cuidou da segurança e da estabilidade do sistema e foi responsável por muitos aperfeiçoamentos. Por exemplo, programou um banco de dados que foi preenchido pelo Prof. Gutz auxiliado pelos seus filhos Karin e Erik, formando a ExpoChemy, com mais de 95 mil itens entre reagentes, equipamentos e materiais de laboratório de 174 empresas. Nos anos de 1996 e 1997 a Karin cuidou da maior parte da digitação (em html) e editoração das páginas  da AllChemy, colocando nelas o conteúdo reunido pelo Prof. Gutz. De 1998 em diante, a tarefa passou a ser dividida entre a Mirian, responsável pela digitação e revisão, e o Erik, incumbido da instalação e do web-design (p. ex., ExpoChemy e Olimpíadas de Química). Pioneira no país, a ExpoChemy serviu, anos depois, como inspiração para sites comerciais com menor envergadura quanto ao número de empresas e itens reunidos, mas com atualizações mais frequentes.

Em 1998, o Robinson colocou em funcionamento no servidor um programa de mala direta para enviar e-mails em massa, possibilitando ao Prof. Gutz criar e editar mensalmente a AllChemy News que, entre meados de 1998 e o final de 2000, levou aos assinantes, manchetes da química e informações sobre livros, cursos, congressos, concursos, prêmios e datas importantes. A AllChemy News foi pioneira e se mostrou útil, tanto que alcançou mais seis mil assinantes cadastrados e o tráfego gerado na rede (lenta na época) do IQ-USP ao ser lançada chamou a atenção da Comissão de Informática que recomendou a busca de solução alternativa. Nesse meio tempo começaram a surgir outros boletins eletrônicos, por exemplo, da SBQ, SBPC e ABQ. Por outro lado, a maioria dos congressos, cursos e livros passou a ser cadastrada em sites da internet e os sistemas de busca passaram a indexá-los, facilitando a localização. Cumprida também essa missão pioneira, decidiu-se pela suspensão do serviço, não sem reclamações dos assinantes, que foram se atenuando à medida que se lhes sugeria as novas alternativas.

Outro entusiasta do Linux, da computação e da instrumentação, Carlos A. Neves, auxiliou crescentemente o José Geraldo após a saída do Robinson, enquanto fazia pós-graduação com o Prof. Claudimir. Assumiu as atividades de manutenção relativas ao hardware e ao software do servidor e cuidou de melhoramentos, como, p. ex., a instalação do Webalizer para gerar estatísticas de uso mais completas da AllChemy. Ao longo do 2º semestre de 2007, por exemplo, o número de visitas à AllChemy, registrado pelo Webalizer, flutuou entre 3.850 e 10.357 ao mês.

Em 2005 o José Geraldo completou seu pós-doutoramento no grupo e seguiu para o Japão para dedicar-se a nova linha de pesquisa. No mesmo ano o Carlos defendeu sua tese de doutoramento e poderia, também, deixar o laboratório, dependendo das oportunidades que surgissem. Por não haver entre os pós-graduandos dos  Profs. Claudimir e Gutz outro expert em Linux e por estarem os dois absortos nas pesquisas, ensino e, respectivamente, na vice-presidência da Comissão de Pós Graduação e na chefia do Departamento de Química Fundamental, decidiram transferir a  hospedagem do site AllChemy – que, desde a origem, funcionava em servidor instalado no laboratório do grupo – para um dos servidores do STI do IQ-USP, com respaldo da Direção do Instituto de Química.

Os bancos de dados de produtos químicos, equipamentos e livros da AllChemy, exclusivos no país e muito consultados durante os primeiros anos, vinham perdendo importância em meados da 1ª década do século XXI à medida que os fabricantes e distribuidores disponibilizavam seus próprios catálogos on-line, localizáveis por sites de busca (e.g., Google). Levando em conta escassez de voluntários para manter atualizados os bancos de dados, bem como as normas de segurança aplicáveis aos servidores do STI, optou-se por suspender seu funcionamento. À medida que muitos outros sites passaram a ampliar exponencialmente o conteúdo sobre química na internet, inclusive em português, e com as facilidades de localizar os materiais com auxílio dos sistemas de busca, considerou-se dispensável, também, a continuidade da atualização de outras seções pioneiras da AlChemy, preservadas, contudo, como registro histórico.

A publicação na AllChemy de tudo o que diz respeito à Olimpíada de Química do Estado de São Paulo, OQSP, inclusive o texto completo de 20 redações por ano, selecionadas entre todas as inscritas sobre o tema anual de cada OQSP, vem sendo mantida desde 1997 pelo Prof. Gutz que, em anos recentes, vem contado com a ajuda do Dr. Fernando Silva Lopes.

Para concluir, a equipe registra agradecimentos: a todos quantos, de forma voluntária e sem compensação financeira, colaboraram ou colaboram com a AllChemy; ao apoio inicial do CRQ da 4ª Região, da ABQ-SP e de algumas empresas na montagem e manutenção do hardware para a operação do sistema; aos sucessivos diretores do Instituto de Química da USP, Profs. Drs. Walter Colli, Paulo Sérgio Santos, Hernan Chaimovich, Hans Viertler, Fernando Rei Ornellas, Luiz Henrique Catalani e Paolo Di Mascio pela confiança e reconhecimento; e aos usuários, pelo interesse continuado e compreensão com as eventuais falhas e limitações.